Através do trabalho excepcional dos jornalistas da Telesur, pudemos conhecer a situação em Tegucigalpa, capital das Honduras. Ontem, milhares de manifestantes concentravam-se em frente à Casa Presidencial. De todo o país, chegavam hondurenhos decididos a reclamar o regresso de Manuel Zelaya, legítimo presidente, e a protestar contra o golpe de Estado dirigido pela oligarquia, conduzido pelos militares e protagonizado por Micheletti, entretanto ilegalmente empossado como presidente pela Assembleia Nacional.
Levantavam-se barricadas e juntava-se um mar de gente. Entretanto, chegavam reforços militares e a partir da tarde a situação ficou mais tensa. Sucederam-se as cargas, o lançamento de granadas de gás e os disparos. O exército tentava desbloquear as vias de acesso à Casa Presidencial mas sem sucesso. Nos avanços militares, houve vários feridos e um morto, atropelado por um camião das Forças Armadas. Jornalistas foram atingidos por balas de borracha. Camiões lançavam água sobre os manifestantes e tinta vermelha para que ficassem marcados e pudessem, posteriormente, ser identificados.
A equipa de reportagem da Telesur que transmitia em directo para todo o mundo, menos para as Honduras onde tem o sinal bloqueado, foi detida e levada por um grupo de militares. A coragem de uma jornalista em ligar para a redacção central em Caracas enquanto lhe tentavam tirar o telemóvel foi fundamental para enervar as chefias políticas e militares. Pouco tempo depois, foram libertados e seguiu um pedido de desculpa para a Embaixada da Venezuela. Aquela detenção havia sido um "erro".
Durante estes acontecimentos, reuniam vários chefes de Estado em Manágua, Nicarágua. As intervenções e as conclusões eram claras. Nenhum apoio e reconhecimento para os golpistas e toda a ajuda para Manuel Zelaya e o povo que resiste nas Honduras. Foram transcendentes as palavras de Hugo Chávez que se afirma cada vez mais com destaque na América Latina. Para o presidente da República Bolivariana da Venezuela, está bem claro que se as burguesias daquele continente optarem por afogar pela força processos democráticos que as põem em causa então os povos não terão qualquer dúvida em tomar as armas para os enfrentar. E citando uma frase que atribuiu a Kennedy afirmou que "os que fecham o caminho à revolução pacífica abrem o caminho à revolução violenta".
Hoje, o presidente hondurenho Manuel Zelaya segue para Washington onde tomará a palavra a partir da sede das Nações Unidas. E repetiu ontem que não deixará o seu povo a lutar sozinho nas Honduras. Na quinta-feira, segue com o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos, e com qualquer chefe de Estado que se lhe queira juntar, para as Honduras.
Por cá, nada de novo. Depois da febre mediática sobre o Irão, ninguém parece muito interessado num golpe de Estado conduzido pela oligarquia e combatido pelo povo. Os meios de comunicação não dão qualquer importância ao que se passa nas Honduras e quando o fazem seguem a linha editorial de questionar as decisões políticas efectuadas pelo legítimo presidente Manuel Zelaya. Tentam passar a ideia de que este golpe de Estado quis repôr a legalidade e a democracia. A eles, acompanham-nos todos os políticos, comentadores e bloguistas que durante semanas andaram agitados com o Irão mas que agora se escondem no silêncio enquanto se prendem jornalistas, manifestantes, embaixadores, ministros, deputados. Enquanto se censura o trabalho dos jornalistas hondurenhos, enquanto se bloqueia a distribuição eléctrica, enquanto se impõe o recolher obrigatório à força das armas.