É exasperante ver os jogos em que participa a República Democrática Popular da Coreia. Os comentadores desportivos, tão inábeis na arte da objectividade, até se aventuram a falar de política. E usam-na para forrar as habituais metáforas de péssima qualidade. Com o mínimo de decência e atenção, quem ouviu o relato na RTP e nas estações de rádio só poderia ficar abismado. Os comentários foram insultuosos. Num dos relatos, o comentador dizia que se via que longe ia o tempo em que não havia bolas de futebol na Coreia do Norte. Durante o início do jogo com Portugal, quando a selecção asiática pressionava e impunha respeito a Cristiano Ronaldo e companhia, os comentários eram quase todos desprestigiantes. E da mesma forma que comentadores estrangeiros ridicularizavam os norte-coreanos por treinarem num ginásio público enquanto as demais selecções têm os ginásios privados dos hotéis de luxo, o jornal português i teve uma tirada fantástica. "Os norte-coreanos, uma formação de homens esforçados e orientados por uma disciplina quase doentia (nunca fazem faltas e marcam-nas sem excepção no local exacto onde foi a infracção), sentiram o peso da desvantagem e começaram a abrir brechas." O que para todas as outras selecções seria sinónimo de fairplay - não fazer faltas e marcar exactamente onde se as sofreu - é, no caso da Coreia, sinónimo de orientação "por uma disciplina quase doentia".
Curiosamente, os que usam todos os argumentos para atacar a Coreia do Norte não tecem a mínima crítica às Honduras. Um país que tem um governo fascista que usurpou o poder através de um golpe que levou à morte de centenas de pessoas e onde morrem assassinadas dezenas de jornalistas por tentar relatar o que lá se passa. Contudo, para os jornalistas portugueses a vida dos seus camaradas hondurenhos vale menos que uma crítica à forma disciplinada como os norte-coreanos respeitam os adversários e as regras do jogo. Porque isso é fairplay estalinista.
5 comentários:
pois, pois
custa muito ouvir as verdades dos regimes que muito admiramos, não é?
Não me parece que assim seja, este artigo não pressupõe qualquer admiração ou simpatia com o sistema norte-coreano. Só comenta (muito bem) a discrepância de critérios da imprensa (ou será empresa) ocidental. Nas honduras está um poder ilegítimo, ditatorial onde são assassinados diaramente camponeses, jornalistas, sindicalistas e opositores do regime de Micheleti, no entanto a imprensa não faz qualquer eco disso. Parece que há ditaduras boazinhas e ditaduras mazinhas. Para mim são todas mazinhas.
O que os comentadores ao serviço do capitalismo não diriam,se a selecção norte-coreana fosse recebida,com o tipo de discurso realizado pela ministra dos desportos de França,à chegada da selecção francesa?
"achispavermelha.blogspot.com"
A CHISPA!
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O dito do sr. "por Justiça", é a continuação, em mais batinho, dos tais comentadores.
Luis Nogueira
a ofensiva ideológica percorre tudo.
o teu blog tá muita nice!!!
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