sexta-feira, 12 de junho de 2009

O que é nacional é bom

Ontem, assistimos todos à exaltação patrioteira da contratação de Cristiano Ronaldo. Se é certo que por estes dias a vida nas redacções anda monótona isso não é razão para se cair no sentimento do "que é nacional é bom", como vinha no pacote de bolachas. O editorial de ontem do Diário de Notícias afirmava que "Barroso funciona para a imagem de Portugal moderno como Mourinho para a do futebol português. Ou seja, Portugal só tem a ganhar em ter um presidente da Comissão Europeia... mesmo que não tenha nada a ganhar com isso". Portanto, suponho que Portugal só tem a ganhar em ter o jogador mais caro do mundo...mesmo que não tenha nada a ganhar com isso.

O jornal El Mundo fazia comparações com aquilo que vale Cristiano Ronaldo. "Um boeing, dez mansões de luxo, duas estações de caminhos-de-ferro, um hospital com 200 camas, 30 carros de combate ou pagar bolsas de estudo a 12 por cento dos estudantes espanhóis durante um ano lectivo". E a Rádio Moscovo, naturalmente, pergunta: quantos trabalhadores são necessários para construir um boeing, dez mansões de luxo, duas estações de caminhos-de-ferro, um hospital com 200 camas ou 30 carros de combate? E quanto receberá cada um deles pelo suor do seu trabalho?

Pois, em tempos de uma grave crise que afecta duramente a classe trabalhadora há gente que se dá ao luxo de bater recordes deste tipo. O negócio do futebol é uma realidade suja. Está intimamente ligado ao tráfico de armas e drogas, à especulação imobiliária e, naturalmente, à lavagem de dinheiro. Mas igualmente suja é a moral destas vedetas broncas. Cristiano Ronaldo não deve a bronquice à sua origem humilde mas à forma como se move pelo mundo do futebol-espectáculo. Hoje, o jornal The Sun informa que o jogador português se embriagou em Los Angeles com Paris, a famosa herdeira da família Hilton que representa a decadência moral e a inutilidade da burguesia em todo o seu esplendor. Ronaldo, que deve o seu nome a Ronald Reagan, gastou a módica quantia de 17 mil euros em álcool.

Portanto, o editorial do Diário de Notícias tem a sua razão de ser. Portugal só tem a ganhar com o facto de Cristiano Ronaldo ser português...mesmo que não ganhe nada com isso. Nem que seja a chacota de sermos dos países mais pobres da Europa e de termos um tipo que dá uns chutos numa bola e que vai ser contratado a um preço que um vulgar trabalhador português só receberia se vivesse várias vidas a rebentar-se numa fábrica qualquer. No fundo, ganhamos tanto como com o facto de Durão Barroso ser português, de ter sido o anfitrião da Cimeira dos Açores e de ser o presidente da União Europeia. Porque o que é nacional é bom.

4 comentários:

hb disse...

"várias vidas?" lol... várias vidas só pelo primeiro mês de salário..

MM disse...

Até a múmia do cavaco que não comenta nada do que realmente interessa ao povo português, se dignou a comentar este acontecimento que deixou quem trabalha muito mais satisfeito pois vão-se deitar com a barriga e a cabeça muito mais cheia de ilusões, porreiro cavaco isto é que importa comentar...

Pedro Bala disse...

realmente, teria de ser várias vidas, hugo.

o cavaco é um porreiro, boots. fez o trabalhinho bem feito.

Márcia Hungerbühler disse...

Estas são as inversões de valores de nossos tempos, onde jogadores de futebol ganham fortunas(o que não é privilégio de Cristiano Ronaldo)e a grande maioria das pessoas trabalham muito para conseguir no mínimo a sobrevivência.
Esta disparidade é indecente!