quarta-feira, 21 de maio de 2008

Denunciar Cavaco Silva

Depois do discurso do Presidente da República, em que focava as suas preocupações na falta de participação cívica dos jovens, decidimos pregar-lhe uma partida. E quis o acaso que viesse à Escola Superior de Comunicação Social no âmbito do Roteiro da Ciência. Portanto, não o podíamos desapontar.

Chegou rodeado de seguranças. À entrada do edifício, em peso, a direcção do Instituto Politécnico de Lisboa preparava-se para o receber com o sorriso muito típico daquele engraxador de sapatos da Avenida da Liberdade. Contudo, quando nos viram perceberam que estava tudo estragado. Aproximamo-nos de Cavaco Silva e entregamos-lhe um envelope. Pensou que seria uma bonita homenagem da Associação de Estudantes e esboçou um sorriso. Depois, aproveitamo-nos da situação e distribuimos a carta aberta ao mar de jornalistas que ali se encontrava. E já se sabe como é: se um jornalista vê outro fazer algo, também tem de o fazer para não ficar atrás. Que chatice para o Cavaco. Que bom para nós que o denunciámos como charlatão. Como o coveiro do Ensino Superior público. Como o primeiro-ministro que lançou a polícia sobre os estudantes.

Edit: Como já referi, há dias, a primeira medida de Cavaco Silva como Presidente da República foi a de promulgar a adaptação do Ensino Superior português ao Tratado de Bolonha. Por toda a Europa, os estudantes confrontam os governos pela sua adopção. Há poucos meses, na Universidade Pública Basca, um protesto pacífico que foi reprimido pela polícia e seguranças privados resultou na abertura de um processo judicial contra vários estudantes. Ontem, os estudantes, solidários com os seus colegas, mostraram a sua revolta. Fica o vídeo dessa acção.

Propinas e Bolonha são uma vergonha!

4 comentários:

Anónimo disse...

eheh

nice

Irene Sá disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Irene Sá disse...

lindo!
Esta notícia deixa-me muito satisfeita.
Recordo-me muito bem da carga policial ordenada pelo Cavaco no dia 24 de Novembro de 1993.
Recordo-me muito bem que foi ele quem rasgou a Constituição da República e transformou o "progressivamente gratuito" em "progressivamente oneroso".
Recordo-me muito bem de como andaram a enrolar os estudantes e a população em geral com o argumento de que as propinas serviriam para aumentar a qualidade do Ensino Superior e não para tapar buracos orçamentais, de como diziam que as propinas traziam justiça social (porque assim os ricos pagavam as despesas), de como tiveram a cara de pau de dizer que os estudantes eram os únicos beneficiários com a formação superior (já na altura se previa a falta de médicos em Portugal).
Recordo-me de um Ensino Superior Público que era acessível a todos e de como, em menos de um ano, disparou a taxa de insucesso e de abandono dos cursos.
Recordo-me do ódio do povo português a essa criatura, e de como esse povo respirou de alívio em 1995(embora se tenha deixado enganar por Guterres) e em 1996 o presenteou com uma derrota fenomenal.
Mas a memória é algo muito precioso e volátil. O homem regressou como um D. Sebastião à conta da cegueira colectiva.
Ainda bem que há estudantes de olho vivo.

Pedro Bala disse...

Bem, ele não se mostrou muito arrependido. Diz que fê-lo na consciência de que era pelo país. Lançar a polícia sobre os estudantes em nome do país faz-me recordar uma outra personagem que agora faz programas de história na televisão pública.