domingo, 25 de maio de 2008

Boato como alicerce da notícia

Por todo o lado, podemos aceder à informação de que morreu Manuel Marulanda, o comandante máximo das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia - Exército do Povo. Nos jornais, na rádio, na televisão e na internet assistimos às declarações sobre a morte do guerrilheiro mais velho do mundo. Contudo, importa saber como foi fabricada esta notícia. Que é apenas mais uma entre as centenas que já deram a morte de um dos mais exemplares revolucionários do nosso tempo como certa. Tudo começou em 1964 e desde então já perdeu a vida e ressuscitou dezenas de vezes. E no dia em que for verdade, as FARC não terão qualquer problema em anuncia-lo. Deixo-vos um artigo que ilustra bem como se constrói uma notícia sem qualquer fundamento concreto.

Por Luigino Bracci

Guerra militar e mediática na Colômbia: "Senhor Santos, posso titular que o Tirofijo está morto?"

A revista Semana deste sábado publicou no seu site uma entrevista com o ministro colombiano da Defesa, Juan Manuel Santos, segundo a qual o líder máximo das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) Pedro Antonio Marín, mais conhecido com o nome de "Manuel Marulanda Vélez" ou "Tirofijo", estaria supostamente morto.

A entrevista foi realizada pela jornalista María Isabel Rueda, e nela o próprio Juan Manuel Santos mostra-se cauteloso ao dizer que a informação não está confirmada, e que procede de uma fonte da guerrilha. A própria jornalista pergunta ao ministro se pode titular o seu artigo dizendo que Tirofijo está morto, ao que Juan Manuel Santos responde: "O risco é seu." Uma pessoa pode perguntar-se sobre quão independente pode considerar-se um jornal em que os seus jornalistas têm de perguntar aos funcionários do Estado como titular as suas notas.

Apesar de que a morte de Tirofijo não é oficial, e de que o governo e os meios de comunicação colombianos afirmaram muitas vezes no passado que Marulanda estava morto, a imprensa colombiana e internacional fez eco da notícia. O Google News registou às quatro da tarde deste sábado que há pelo menos 400 notícias destacando a suposta morte do líder insurgente, e chegaram a publicar as suas notas biográficas.

Reprodução de um fragmento da entrevista:

M.I.R. (María Isabel Rueda): ¿Qué tan cierto es que la guardia de seguridad del 'Mono Jojoy' casi lo asesina?
J.M.S. (Juan Manuel Santos): Es cierto. Él los descubrió, fusiló a tres, los otros tres se escaparon; dos de ellos están desaparecidos y el tercero está trabajando con nosotros.
M.I.R.: ¿Y 'Tirofijo' en qué anda?
J.M.S.: Debe estar en el infierno
M.I.R.: ¿En cuál infierno?
J.M.S.: Al que se van todos los criminales muertos.
M.I.R.: A donde 'Tirofijo' se va a ir...
J.M.S.: La información que tenemos es que ya se fue.
M.I.R.: ¿Cómo así, 'Tirofijo' se murió?
J.M.S.: Es lo que nos dice una fuente que nunca nos ha fallado.
M.I.R.: ¿'Tirofijo' está muerto?
J.M.S.: Esa es la última información que tenemos y que estamos corroborando.
M.I.R.: ¿Puedo titular esta entrevista, ''Tirofijo' está muerto'?
J.M.S.: El riesgo es suyo.
M.I.R.: ¿Y cuándo murió?
J.M.S.: La inteligencia nos dice que el 26 de marzo de este año.
M.I.R.: ¿Y cómo murió?
J.M.S.: No sabemos. En esas fechas hubo tres bombardeos fuertes en donde se pensaba que estaba 'Tirofijo'. La guerrilla dice que de paro cardíaco. No tenemos pruebas ni de lo uno ni de lo otro.
M.I.R.: ¿Y qué más información tiene sobre su muerte?
J.M.S.: Hasta ahora sólo tengo esos datos.
M.I.R.: ¿Y sabe quién va a reemplazarlo?
J.M.S.: Todo nos indica que Alfonso Cano

A Colômbia já anunciou a morte de Manuel Marulanda dezenas de vezes

Não é a primeira vez que o governo colombiano afirma que Marulanda está morto. O facto é que o próprio diário El Colombiano afirma que a morte de Marulanda foi anunciada muitas vezes no passado. "A Marulanda mataram-no desde 1964 quando o exército realizou o ataque a Marquetalia (Tolima). Desde então, o guerrilheiro "morreu" por tiros de metralhadora, tuberculose, feridas gangrenadas e formigas venenosas".

Na entrevista, a jornalista Rueda mostra também a sua parcialidade política ao afirmar que, "como cidadã, nem sequer como jornalista, fiquei escandalizada com o grau de cumplicidade e cooperação que conhecemos através dos computadores de Raúl Reyes, publicados no El País de Madrid e na Semana, que revelam as relações entre Chávez e as FARC. Que vamos fazer a respeito disso? Isto vai ficar assim?"

Ir a Aporrea para ler todo o artigo

Sem comentários: