Pouco depois, às três da manhã, começava a mobilização para as eleições regionais. No pátio da Casa Freddy Parra, sede da CSB, vários companheiros engatilharam dezenas de foguetes. Às três em ponto, os céus de Caracas explodiam com milhares de rebentamentos. É assim que os bolivarianos despertam os eleitores que começam a votar a partir das seis da manhã. Às quatro, nova rajada de foguetes e desta vez acompanhada por trombetas. Com amplificadores fixos ou com camionetas percorrendo as ruas, soava o toque militar para acordar. Depois, o hino das FARC, do ELN e da Venezuela.
Às cinco, uma hora antes da abertura das mesas, desloquei-me à biblioteca do sector La Cañada, no 23 de Enero. Estava uma dezena de pessoas. Entrevistei algumas delas que me explicaram a necessidade de votar cedo para dar tempo a outros. Uma estação de televisão de uma das zonas mais pobres de Caracas apareceu com todos os seus repórteres vestidos com uniforme militar e com lenços ao pescoço com estrelas vermelhas. Num canto, um homem gritava que estas eleições eram importantes para o país e para o mundo. "Porque este processo vai estender-se por toda a América Latina!". Junto a um muro, havia um jovem cuja cabeça cambaleava ao ritmo do sono. A mãe contou-me que o tinha ido buscar a casa para votar bem cedo. E a pouco e pouco a fila foi crescendo pela Praça Manuel Marulanda. Poucos minutos antes da abertura dos portões pelos militares que os guardavam estavam cerca de 60 pessoas à espera para votar.
Depois segui para outro ponto de votação. Passando pelo mural de Emiliano Zapata, encontrei uma escola primária com uma fila com cerca de cem pessoas. Às seis, quando abriram os portões, uma nova salva de foguetes. Entretanto, ao longo de todo o dia as ruas encheram-se de gente. Às 12 horas, em frente ao Liceu Fajardo, no 23 de Enero, assisti à chegada de Hugo Chávez. Centenas de pessoas esperavam-no ao grito de "Chávez amigo, o povo está contigo". Em todo o país houve uma participação pouco usual. Normalmente, não passa dos 40 por cento. Desta vez, ultrapassou os 65 por cento. Não admira, pois, que tenha havido centros de votação que fecharam cinco horas depois das quatro da tarde, hora oficial de encerramento das urnas. Algo que não agradou à oposição que queria impedir o que está legalmente estabelecido. Os locais, em que às quatro da tarde haja filas para votar, só podem encerrar quando não houver qualquer eleitor.
Mas o sorriso dos pivots do telejornal do canal privado Globovisión não enganavam. Não vinham aí boas notícias e a paciência ia acirrando-se. Aqui, as sondagens à boca das urnas não são permitidas e só se podem difundir resultados depois do comunicado oficial da Comissão Nacional de Eleições (CNE). Por volta das 11 horas, uma representante leu-o e confirmou o que desconfiava. O Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) e os seus aliados perderam a região de Caracas (Distrito Capital), perderam Miranda e não conseguiram ganhar Zulia. Ou seja, os três Estados mais populados. Contudo, nenhuma análise pode esconder que a maioria absoluta das regiões continuará a ser gerida por governadores bolivarianos. A oposição ganhou seis Estados – Distrito Capital, Miranda, Carabobo, Nova Esparta, Zulia e Tachira – contra os 16 ganhos pelos candidatos apoiados por Hugo Chávez. Em Falcón, onde havia estado um fim-de-semana em Coro, ganhou Stella Lugo, a esposa do actual governador e na região de Caracas o único municipio ganho pelo PSUV foi Libertador, onde vivo e onde se encontra também o bairro 23 de Enero. Por curiosidade, houve mesas neste bastião do processo em que os candidatos bolivarianos tiveram mais de 90 por cento. Numa delas, Aristobulo, candidato do PSUV a governador derrotado, teve 1670 votos contra 8 do opositor vitorioso Ledezma.
Ainda assim, foram resultados amargos. Quando a representante da CNE acabava de ler o comunicado começavam a rebentar foguetes por toda a zona baixa da capital. Os ricos festejavam a vitória dos seus candidatos. Aqui, no dia seguinte, os donos dos supermercados sorriam de alivio. Mais amargo foi quando soube da conquista de Miranda por Radonski. Em 2002, em pleno golpe de Estado, foi quem dirigiu os opositores em fúria no assalto à Embaixada de Cuba. Depois de 160 dias preso, libertaram-no. E ainda dizem que a Venezuela é uma ditadura...
Felizmente, há sempre algo que nos anima. O taxista que nos levou a casa bem nos avisou quando entrámos no carro. "Atenção que sou louco", disse-nos. Depois, explicou-nos quem foi Bolívar, Miranda e Sucre. Cantou-nos Ali Primera e deixou a pergunta "como seria a Venezuela, um país tão rico se tivesse um presidente como Fidel Castro que conseguiu fazer tanto com um país tão pobre?"
No próximo fim-de-semana, vou estar agarrado à internet. Não posso estar na Praça de Touros mas estarei a ver e a ouvir, em directo, o Congresso do Partido. Levantarei o punho quando o levantarem e cantarei quando cantarem. Por Abril, pelo Socialismo, um Partido mais forte!
A luta é o único caminho!
4 comentários:
Melhor assim, agora ninguêm pode dizer que a Venezuela é uma ditadura, os processos revolucionários têm avanços e recuos. Uma coisa é certa, a correlação de forças pende para a revolução.
Chavéz: de vitória em vitória até à derrota total. E sempre quero ver quando chegar a hora das presidenciais, se ele sai de cena ou se, como Fidel, inicia uma ditadura. Só se fizer como Putin... arranja uma marioneta.
Fantástico blog camarada!
Já fomos dois a ficar em casa, que tristeza.
Bom trabalho []
Olha lá oh LGF (Largo e Gordo Facho) se o tema são marionetas podes falar com teu tio Sam, pois ele tem larga experiência em colocá-las, olha os venezuelanos podem falar com largos anos de Experiência sobre isso.
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