Pese as grandes diferenças entre a Rádio Moscovo e o blogue
Cinco Dias, destacamos o debate encetado nos últimos dias a propósito do ataque ao primeiro-ministro italiano. A acção de Massimo Tartaglia contra Silvio Berlusconi teve um grande impacto. Para além da fractura nasal e dos dentes perdidos, há duas ilações que se podem tirar. Em primeiro lugar que o responsável pelo ambiente crispado em Itália é dele, do seu governo e da oligarquia italiana. Em segundo lugar que esta acção lhe permitirá lançar uma ofensiva contra o que resta da esquerda italiana. Essa campanha já foi iniciada e pretende colar a imagem de violentos e terroristas a todos aqueles que se opõem às políticas governamentais.
Mas o debate levantado pelo blogue Cinco Dias, independentemente das opiniões sobre o ataque a Berlusconi, teve o mérito de pôr o foco sobre a legitimidade da violência como forma de luta. Como sabemos, os comunistas não renunciam a qualquer forma de luta. Em cada momento, há que saber adaptar-se à etapa que se vive. Mas há por aí muito social-democrata encartado que entende que a violência não faz sentido porque o Estado deixou de ser violento. Nada mais falso. O Estado detém o monopólio da violência. E, hoje, com a mercenarização das Forças Armadas, as novas gerações deixaram de ter qualquer formação militar. Este é um dado importante e perigoso. Um povo que não se sabe defender é um povo ainda mais submetido à força do Estado e da burguesia.
A Rádio Moscovo, desde o seu inicio, com um forte pendor internacionalista, tem-se preocupado com dar a conhecer a luta de povos que foram obrigados a levantar-se em armas contra o capitalismo e o imperialismo: Colômbia, Sara Ocidental, Palestina, País Basco, Curdistão, Nepal, Iraque e Afeganistão. Com objectivos diferentes, com maior ou menor magnitude, com maior ou menor correcção político-militar, estes são os países onde a luta armada mantém o apoio popular mínimo para a manutenção de uma violência a longo-prazo.
Contudo, na maioria destes casos, com a excepção do País Basco, é fácil compreender-se, a partir de fora, a legitimidade do recurso à violência. Já discutir a violência nos países desenvolvidos assume um grau de dificuldade tremendo. Também daí a excepção basca. Aqui, não temos qualquer dúvida de que a violência existe e está presente nestes países. Que o digam os operários da Sorefame, da MB Pereira da Costa, da Valorsul, da Sisaqua, os jovens do Grémio Lisbonense e os excluídos dos guetos suburbanos.
Naturalmente, discordamos de actos violentos isolados que não correspondam à vontade da maioria do movimento operário. Mas o facto de nem sempre utilizarmos a violência não significa que ela esteja excluída. Porque sabemos que no dia em que a classe trabalhadora puser o poder em causa, os militares e a polícia tomarão as ruas. E seria um risco enorme se só nesse dia ganhássemos consciência disso e da necessidade da violência organizada.
Pese o fascínio pela violência de alguns elementos isolados da classe trabalhadora, influenciados por teses pequeno-burguesas, ninguém gosta de combater. Isso implica pesados sacrifícios e acontece como resposta a uma série de actos violentos por parte da burguesia. Como disse o padre guerrilheiro Camilo Torres, "
se a burguesia ceder o poder de forma pacífica, nós toma-lo-emos de forma pacífica. Se resistir de forma violenta, então seremos obrigados a toma-lo de forma violenta".
Para as futuras respostas a este artigo deixo-vos, desde já, para reflexão, a opinião de Malcolm X: "A imprensa conhece tão bem o ofício de criar reputações que pode fazer passar o assassino por vítima e a vítima por assassino. Essa é a função da imprensa, desta imprensa irresponsável. Se não andarem prevenidos, os meios de comunicação leva-los-ão a odiar os oprimidos e a amar os opressores".