sábado, 30 de agosto de 2008

Quanto pior o sistema, pior a catástrofe


Fidel Castro e os estudantes

Normalmente, as catástrofes naturais afectam mais os países pobres. Os maremotos, os terramotos, os furacões, os tornados, as secas, as avalanches e as derrocadas são, na maioria dos casos, fenómenos inevitáveis. A natureza é, muitas vezes, inesperada e torna-se difícil, mesmo para os países ricos, prevenir estas situações. Contudo, com o desenvolvimento tecnológico tem sido mais fácil prever e suportar alguns desses acontecimentos. Mas comparando o comportamento das autoridades norte-americanas perante o que se passou em Nova Orleães, durante a passagem do furacão Katrina, com a atitude das autoridades cubanas perante todo o tipo de fenómenos naturais percebemos que o tipo de sociedade em que se vive influencia muito a resposta que se dá.

Em Cuba, existe uma mobilização geral para proteger o país do furacão Gustav. Os profissionais da saúde estão em alerta. Há sete brigadas médicas preparadas para ir para os locais que habitualmente sofrem inundações. Há um reforço de profissionais nos centros de saúde. Reforçam-se os abrigos e avança-se com a distribuição de pão e leite. Activam-se sistemas de comunicação rádio. Protegem-se as colheitas e os principais centros de produção. Na televisão, produzem-se relatórios sobre a evolução das condições meteorológicas com a presença, muitas vezes, de Raúl Castro. Segundo a ONU, Cuba é um dos países melhor preparados para enfrentar desastres naturais.

O que se passou em Nova Orleães foi catastrófico. As autoridades não estavam preparadas e não souberam responder à grave situação que se seguiu. Entre pobres e ricos, sentiu-se uma diferença criminosa. Nos bairros pobres, havia gente a morrer à fome em casa alagadas. Gente que padecia de doenças e sem água potável. Houve quem considerasse que se estava a discriminar uma cidade habitada maioritariamente por negros. Seja como for, as verbas facilitadas por George Bush foram ridículas para quem enterrou milhões na invasão do Afeganistão e do Iraque. Aos Estados Unidos, nesses dias, caiu-lhes o cenário que deixou à vista os bastidores de miséria que sempre tentaram esconder.

Viva Cuba socialista!

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Quem são os maus-da-fita?

Como na ficção, tem sido difícil compreender o que está a acontecer no Cáucaso. As notícias sucedem-se como nos filmes de Hollywood. Mas neste caso o bom-da-fita não se chama John Rambo. Chama-se Saakashvili.

Começa a fartar o destaque dado pela imprensa portuguesa - lacaia das agências internacionais ao serviço do imperialismo - ao presidente da Geórgia. Saakashvili, um criminoso da pior espécie, lançou um ataque sobre a população da Ossétia do Sul com a autorização dos Estados Unidos. Porque, naturalmente, ninguém acredita que seria capaz de tentar tal aventura sem o apoio da Casa Branca. Portanto, falamos de um crime premeditado. Durante anos, as forças armadas georgianas foram treinadas e armadas pelos Estados Unidos na sua estratégia de cercar o território russo. Mas deviam saber que o precedente aberto na Jugoslávia abriu caminho à Rússia para apoiar no Cáucaso a independência de povos que há muito a exigiam e que, ao contrário do Kosovo, tinham toda a legitimidade para o fazer.

A Ossétia do Sul foi integrada na Geórgia desde que o Império Russo a anexou. Curiosamente, a vitória dos mencheviques georgianos levou a que os ossetos do sul se mantivessem dentro daquele território. O entusiasmo revolucionário com que a população da Ossétia abraçou o bolchevismo provocou o ódio da contra-revolução de Tbilissi. Milhares de ossetos foram dizimados. A parte Sul do território ficou dominada pela República Democrática Menchevique da Geórgia e a parte Norte ficou integrada na República Soviética do Térek. Só depois, com a vitória da revolução, se criou um Estado multinacional com repúblicas independentes, voluntariamente integradas na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Foi a experiência socialista que promoveu a amizade entre os povos e sanou as rivalidades nacionalistas. A Ossétia do Sul possuia um amplo estatuto de autonomia dentro da República Socialista Soviética da Geórgia. Nas escolas, para além do russo, ensinava-se a língua osseta. Depois do fim da URSS, a Geórgia suprimiu a autonomia da Ossétia do Sul e atacou o seu povo por lutar pela independência. Há cerca de dois anos, foram realizados dois referendos, um pouco tempo depois do outro, onde cerca de 94 por cento dos eleitores votaram pela criação de um Estado independente.

O que se passou na noite 7 para dia 8 de Agosto foi um crime. Depois de alguns dias de tiroteio entre forças georgianas e ossetas, o presidente da Geórgia ordenou o cessar-fogo. Quando ninguém o esperava, Saakashvili lança um ataque feroz contra a população indefesa que dormia argumentando que havia que acabar pela força com os regimes criminosos que, segundo ele, vigoravam na Abecásia e na Ossétia do Sul. Para além dos civis e dos combatentes ossetos, foram mortos soldados da força russa de manutenção de paz com mandato internacional. Como já havia advertido, a Rússia entrou no território da Ossétia para defender os cidadãos ossetos - têm quase todos passaporte russo - e os seus soldados cercados pelas forças georgianas.

Pelo que parece, os Estados Unidos tentavam medir a temperatura naquele país. Não é segredo que pretendem colocar, às portas da Rússia, um sistema anti-mísseis. Mas não sabiam como é que Moscovo poderia reagir. Pois bem, agora já sabem. E o presidente russo, Medvedev, já alertou. Se for necessário, intervirão militarmente no exterior para deter as pretensões hegemónicas dos Estados Unidos e da NATO. Para isso, demonstrou que não está isolado. Depois de uma experiência com um míssil que consegue ultrapassar o sistema anti-mísseis, ontem, numa cimeira, ao lado de países como a China, Tadjiquistão, Quirguistão e Cazaquistão formou o Xangai-5 para promover a paz regional e mundial.

E que dizem os jornais? Limitam-se a repetir o que diz o imperialismo. Que o agressor foi a Rússia e que é ela quem promove a guerra. Apesar da Rússia não ser socialista e de ter interesses geo-estratégicos no Cáucaso, não está em posição de, neste momento, se lançar em ambições imperialistas de carácter militar. Portanto, esta resposta e a tensão que se vive naquela região deve-se fundamentalmente às ingerências dos Estados Unidos e da União Europeia. Portanto, mais importante que apoiar qualquer um dos lados deve raciocinar-se com a verdade. E neste momento a verdade é a de que a agressão partiu da Geórgia e dos Estados Unidos e de que os agredidos foram a Ossétia do Sul e a Rússia. Uma verdade útil para combatermos a eclosão de uma guerra que, como sempre, teria como principal vitima a classe trabalhadora.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Gladys Marín, retratos de uma vida


Em Março de 2005, morreu Gladys Marín. Ao funeral da Secretária-Geral do Partido Comunista do Chile acorreu quase meio milhão de pessoas. As ruas e avenidas de Santiago encheram-se para uma justa homenagem, no dia da Mulher, a uma que tanto lutou ao lado do povo chileno. O documentário que destacamos retrata a sua chegada à Alemanha Democrática. Apesar da sua vontade de resistir ao golpe fascista dentro do Chile, o Partido decide-se pelo seu exílio. Durante oito meses, permanece como refugiada na embaixada da Holanda. É então que parte para Berlim onde recebe a solidariedade massiva do povo alemão para com o povo chileno.

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

E viva a propriedade privada!

Aí estão eles, a engordar bem à nossa custa. Segundo o Jornal de Notícias, José de Mello Saúde, Grupo Espírito Santo Saúde, HPP, Grupo Português de Saúde e Clisa detêm cerca de 80 por cento do mercado das clínicas privadas e dos seguros de saúde. Os melhores médicos abandonam o Serviço Nacional de Saúde enquanto o governo se entretém a destrui-lo. Só no ano passado, os grupos privados facturaram 440 milhões de euros, mais 7,8 por cento que no ano anterior. Afinal, quem dúvida de que este governo está ao serviço do patronato e do grande capital? Porreiro, pá.

Em nome do pai, absolve-se o Estado

Acabo de ver no telejornal que se pretende, através do Estado, cobrar aos filhos pela estadia dos pais em lares e instituições de idosos. Entre os argumentos apresentados, encontravam-se o de que também os pais haviam cuidado dos filhos quando eram crianças e o de que as reformas dos idosos são insuficientes para suportar as suas despesas. Há que explicar a estes senhores que há uma diferença clara entre uma criança e um idoso. Há que explicar que a maioria dos filhos, a quem querem cobrar, tem neste momento imensas dificuldades financeiras para criar os seus próprios filhos. E, acima de tudo, há que explicar que a responsabilidade pelas reformas vergonhosas que recebem os idosos pertence a quem governa o Estado. Ou seja, quem trabalha uma vida inteira - cada vez mais - merece ter uma velhice em condições.

Recordo que uma das coisa que mais me fascinou na Constituição da União Soviética foi a noção de que a independência financeira dos membros de uma família é a garantia de que a união se faz por amor e não por outros motivos. Essa independência, naturalmente, era assegurada pelo Estado.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Guerra pela democracia

Soem os foguetes. A coligação internacional que ocupa o território afegão pode explodir de alegria. Afinal, deu-se, hoje, uma importante vitória na luta contra o terror. Na província de Herat, bombardeamentos mataram 76 terroristas. Pelo menos, 19 mulheres, 7 homens e 50 crianças. Para além disso, a acção militar provocou dezenas de feridos graves. É a guerra pela democracia!

A luta é o único caminho!


Canção dedicada aos inimigos de Miami

Se dúvidas houvesse sobre a justeza do ideal comunista bastaria passar os olhos pelos jornais para descobrir razões para não querermos viver numa sociedade capitalista. Segundo o sítio de informação alternativa Rebelión, ficamos a saber que antes do acidente aéreo - vitimou mais de 150 passageiros - os pilotos da Spanair haviam já denunciado pressões da direcção para transgredirem as normas. Tudo em nome do pulmão do capitalismo: o lucro. Por sua vez, o blogue Tacada traz-nos a realidade italiana de um tribunal siciliano que retirou a uma mulher a custódia do seu filho de 16 anos porque o menor se filiou no Partido da Refundação Comunista. Segundo o advogado da progenitora, Mario Giarrusso, o Tribunal de Catânia considerou que o jovem pertencia a um grupo extremista. Como se não bastasse tanto o cartão como uma bandeira com o Che Guevara foram apresentados em tribunal, que decidiu entregar a custódia do menor ao pai. Por cá, chegamos à conclusão de que as centenas de acções que o PCP tem realizado ao longo do Verão são fruto da imaginação dos seus militantes, uma vez que para a comunicação social o Partido fará a sua 'reentré' com a Festa do «Avante!». Para além das tragédias, maiores ou menores, ficamos a saber que António Pereira bateu o recorde nacional dos 50 quilómetros marcha. O atleta da Juventude Operária do Monte Abraão ficou em 11º lugar e explicou que "já merecia" este resultado uma vez que treina todos os dias depois das 19.00 quando sai do trabalho. "Para um trabalhador como eu, que trabalho oito horas por dia como electricista na construção civil, acho que o tempo de 3h48m12s não é para qualquer um. Mas faço o que posso", afirmou ao Público.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Ciclistas escoceses homenageiam luta contra o fascismo

Há 72 anos, o clube escocês de ciclismo Clarion 1895 decidiu participar nos Jogos Olímpicos dos Trabalhadores. Na altura, levantava-se o projecto desportivo que tinha como objectivo a denúncia e o combate ao fascismo. Trabalhadores de todo os países chegavam para dar corpo à iniciativa que tinha a sua cerimónia de abertura marcada para Julho de 1936. Contudo, no dia, deu-se o levantamento fascista que afogou a República Espanhola numa violenta guerra civil. E apesar de não haver condições para a celebração das Olimpíadas dos Trabalhadores, uma grande parte dos participantes decidiu ficar em Barcelona e pegar em armas contra o fascismo. Entre eles, estavam parte dos ciclistas escoceses do Clarion 1895 - uma outra regressou à Escócia para recolher fundos para a luta.

Por esse motivo, realizou-se hoje, em Barcelona, um desfile organizado pelo Clarion 1895 em homenagem aos escoceses e a todos os que combateram e tombaram na luta contra o fascismo. Os ciclistas escoceses recordaram os compatriotas que organizaram uma viagem por Inglaterra e França para chegar a Barcelona com 300 libras que destinaram às mulheres e crianças vitimas da guerra. Para além disso, lembram Ray Cox e Roy Watts que participaram nas Brigadas Internacionais, caindo em combate com 22 e 23 anos, respectivamente.

Apesar do silêncio da maioria dos governos ditos democráticos, estiveram milhares de trabalhadores de todos os países em luta contra o fascismo e por um mundo melhor. Apenas a União Soviética e o México corresponderam de forma entusiasta ao apelo da República Espanhola. Nesta guerra - e com a experiência das Brigadas Internacionais - forjou-se uma geração de combatentes que, com o apoio do Exército Vermelho, soube, anos depois, enterrar o nazi-fascismo.

Video:
Despedida às Brigadas Internacionais

Vivam as Brigadas Internacionais!
Viva o Quinto Regimento!
Viva a luta antifascista!

Apanhado no conflito

Às vezes, o acaso tem destas coisas. Um conhecido basco foi apanhado no meio do conflito entre a Geórgia, a Ossétia do Sul e a Rússia. Portanto, nada melhor que aceder ao seu blogue para se ter mais uma perspectiva do que se está a passar naquele canto do mundo.

Estado colombiano, Estado fascista

A Central Única de Trabalhadores [CUT] da Colômbia denunciou que até ao momento já morreram, só neste ano, 27 dirigentes sindicais. As mortes são provocadas pela polícia, pelo exército e pelos paramilitares, que sustentam o terrorismo de Estado. Normalmente, entre os objectivos encontram-se os militantes da esquerda, dirigentes comunitários e camponeses. A CUT acrescentou ainda que a repressão não é noticiada pelos meios de comunicação social colombianos que preferem dedicar toda a sua atenção à actividade das FARC a levantar o véu dos crimes provocados pelo Estado.

Agrários venezuelanos semeiam a morte

Há poucos dias, agrários encomendaram a morte de um velho índio Yukpa, pai do dirigente Sabino Romero. Depois do reconhecimento por parte do governo venezuelano de que o povo Yukpa tem direito às terras que envolvem a Sierra de Perijá, os indígenas reforçaram a luta pelos direitos históricos que lhe correspondem. Contudo, o processo de devolução das terras esteve paralisado e os agrários lançaram a sua raiva incontida contra os Yukpa. Sabino Romero, na fotografia, teve de se esconder e não pôde assistir ao funeral do seu pai.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Fox News censura em directo


O canal norte-americano de notícias Fox censurou em directo uma jovem de origem osseta por agradecer ao exército russo a sua salvação e por acusar a Geórgia de ter agredido militarmente a Ossétia do Sul. Amanda Kokoeva explica que fugiam de soldados georgianos, que a sua cidade fora bombardeada pela Geórgia e que foi graças aos russos que se salvaram das atrocidades dos georgianos. Depois, a sua tia repete as acusações. É nesse momento que o 'jornalista' anuncia que tem de passar aos anúncios publicitários e, de seguida, dá-lhe apenas 30 segundos para concluir o que havia iniciado. Liberdade de imprensa? Pois, claro!

sábado, 16 de agosto de 2008

Anda construir a Festa do «Avante!»

A Rádio Moscovo vai deixar de emitir nos fins-de-semana. Todos somos necessários para a construção militante da Festa do «Avante!», obra única e só possível com o esforço colectivo dos militantes e amigos do Partido Comunista Português.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Esparguete à Carbonária


O Centro Comercial Colombo é uma realidade estranha. Na primeira vez que lá entrei, depressa me apeteceu sair. Pessoalmente, nunca fui muito dado a passeios em espaços fechados cujo objectivo central é o consumo e a sua adulação. Mas não recusei quando me propuseram trabalhar para compensar as férias de outros num restaurante localizado no terceiro piso.

Durante um mês, trabalhei cerca de 11 horas por dia enfiado entre os grelhados, a máquina do café, as bebidas, as sobremesas e a caixa - onde o patrão não me gostava de ver porque não tinha a agilidade e a destreza de atender um número razoável de clientes que lhe enchesse os bolsos num determinado período de tempo. Bem, na verdade tinha problemas com a máquina registradora. Mas não só. Tinha problemas com os recibos que descreviam os pedidos mas que não explicitavam o nome do prato. Era algo como "prato do dia carne", "prato do dia carne 2 e "prato do dia peixe". Mal me chegavam às mãos devia gritar para os cozinheiros o nome dos pratos e a quantidade. Ou seja, não só tinha de saber o nome dos pratos, que não estavam nos recibos, como tinha de saber quantos pedidos de cada prato havia. Tudo isto parece muito óbvio e, provavelmente, é assim em todo o mundo mas quando queremos dar o nosso melhor e não conseguimos podemos sentir-nos realmente muito burros. Principalmente, quando ao mesmo tempo que se faz tudo isto se tem de tirar as bebidas, pôr o pão, colocar as sobremesas, tirar cafés, ver se as batatas já estão fritas, dar talheres a clientes que os deixaram cair, dar aquele guardanapo a mais e dizer que os molhos e os temperos estão em cima do balcão mesmo à frente do cliente.

Foi nesse ambiente, absolutamente caótico, que descobri pessoas extraordinárias que não só me ajudaram a superar as dificuldades para lidar com um meio desconhecido como me fizeram viver o valor imprescindível do trabalho colectivo. Mas também que por trás das fachadas das lojas do Colombo existe um mundo desconhecido corporizado por longos corredores de serviço que ligam os trabalhadores dos vários sectores. Um mundo que merecia ser resgatado para as páginas dos jornais por algum repórter da imprensa diária.

Provavelmente, conheceriam a raiva dos trabalhadores contra os capatazes e os patrões. Como a de Ricardo que veio do Brasil para melhorar a sua condição de vida. A ele e aos colegas, retiraram-lhes o pagamento dos feriados a dobrar. Juliano que pediu mais dois dias de férias pelos dois feriados que trabalhou ao preço de um dia normal vai ter de explicar à mulher que não vão poder estar tanto tempo juntos. Tanto tempo porque 48 horas são uma eternidade em comparação com a hora que, diariamente, convivem. Não é o caso de Joana, cabo-verdiana, que não tem namorado mas que gostaria de dormir mais do que as cinco horas por noite. É por isso que na hora e meia de pausa que tem à tarde estende cartões no chão do armazém e dorme sem medo das baratas que passeiam. Provavelmente, conheceriam a raiva de Catarina que veio de S. Tomé e Príncipe e trabalhou na limpeza para pagar o curso de ortopedia. Depois do estágio, ninguém a quis contratar e continua a esfregar as mesas e a recolher os tabuleiros sujos das esplanadas. Nunca deixou de lutar e esteve à frente da histórica greve que paralisou as trabalhadoras da limpeza no Colombo. Depois disso, foi alvo de um processo disciplinar e suspensa durante meses. Há pouco tempo, regressou ao trabalho e a empresa foi obrigada a pagar-lhe os meses em que esteve em casa. Mas neste mundo de raiva existe amor e Catarina recebe o carinho e a solidariedade massiva dos trabalhadores.

Também existe alegria porque essa é a única forma de suportar o tempo. Entre as piadas que se contavam havia uma que me agradava bastante. Miguel, um colega de balcão, costumava responder aos clientes que lhe pediam cerveja à borla com um "isso não pode ser porque senão o patrão não muda de carro no fim do mês". Por isso, recordo com alegria o dia em que não corrigi o Ricardo. E o prato do dia foi 'Esparguete à Carbonária'.

Por isso, como prometido, dedico-lhes este texto.

[Naturalmente, embora o texto se refira apenas a factos reais, os nomes são fictícios.]

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Até à vitória, Harkishan Singh Surjeet!

Há cerca de uma semana, não referimos a morte do camarada Harkishan Singh Surjeet, ex-secretário-geral do Partido Comunista da Índia (Marxista). Vale a pena recordar as palavras de Jerónimo de Sousa: "uma grande perda para os comunistas e progressistas de todo o mundo porque conhecemos a consideração e amizade que nutria pelos comunistas portugueses e porque sabemos como é respeitado e considerado pelos membros do nosso Partido [...] sentimos a sua morte como se um dos nossos se tratasse".

Combater o fascismo na internet

No artigo anterior, alguém denunciava, nos comentários, a criação de uma rádio portuguesa fascista na internet. Naturalmente, nestes casos, quando encontramos uma página com conteúdos racistas, xenófobos e que fazem propaganda do nazi-fascismo devemos denuncia-lo. Para além da denúncia política nas ruas, na comunicação social e nos blogues, a Polícia Judiciária criou uma página dedicada à denúncia de crimes na internet.

Como indica o endereço http://linhaalerta.internetsegura.pt, "a apologia do racismo compreende todo o conteúdo que incite ao ódio ou à violência ou discriminação racial ou religiosa com o intuito de a encorajar. Com discursos racistas, revisionistas ou neonazis, milhares de sites, blogues e outras comunidades virtuais disseminam o ódio racial e a intolerância. Estes comportamentos configuram um crime previsto no nosso Código Penal." Portanto, é também nosso dever apresentar queixa, que pode ser realizada sob anonimato, se assim se pretender.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Oligarquia boliviana derrotada nas urnas

Não conseguiram. Depois de toda a destabilização conduzida pela oligarquia boliviana e patrocinada pela Casa Branca, que quase levou a Bolívia à guerra civil, o governo de Evo Morales agendou o desafio. Para 10 de Agosto, o tudo ou nada. Mas não conseguiram. Os carrascos do povo boliviano e lacaios do imperialismo norte-americano foram derrotados, nas urnas, por aqueles que exploraram e espezinharam durante anos. O referendo revogatório teve um resultado claro: cerca de 63 por cento dos votantes optaram pela manutenção de Evo Morales.

Perante milhares de pessoas, o presidente Evo Morales, dedicou a vitória "a todos os povos revolucionários da América Latina e do mundo".

sábado, 9 de agosto de 2008

"Eficácia extrema"

Os jornalistas despiram qualquer objectividade e quase têm orgasmos quando entrevistam as forças policiais sobre o assalto ao BES. Os comandantes, ex-comandantes, ministros e ex-ministros embarcam na maré da idolatria afirmando até que os assaltantes não eram amadores num último esforço para glorificar ainda mais a acção da polícia durante o sequestro. Os fascistas aproveitam a origem dos protagonistas do assalto para encher os fóruns televisivos e radiofónicos com as suas cantilenas propagandísticas a favor da xenofobia, do racismo e do nacionalismo.

Os assaltantes não eram só amadores. A acção suou à azelhice de quem não sabe muito bem o que está a fazer e que de quem se estreia no crime. Uma dependência bancária sem caixa e com uma saída não parece uma boa escolha para quem pretende ser bem sucedido. Portanto, com o sucesso razoável da acção da polícia, não há a necessidade de se empolar os factos para engrandecer a acção que levou à libertação dos reféns.

Acção razoável porque o objectivo da acção policial teria de ser, antes de tudo, a libertação dos reféns mas, se possível, com a detenção dos assaltantes. Pelo que se percebeu, a concretização dos dois objectivos em simultâneo parecia difícil. O recurso à negociação, pelo que se diz, esgotou-se. Como tal, optou-se pela acção dos atiradores especiais, opção que considero plausível e que acabou por dar ao acontecimento um feliz desfecho. Contudo, ouvir como ouvi da boca de jornalistas que a polícia actuou com "eficácia extrema" e com "eficácia absoluta" parece-me ridículo.

Por curiosidade, seria interessante perceber porque optaram por introduzir o cadáver dentro de um saco em cima do passeio e não dentro da dependência bancária. Porque me pareceu de um gosto muito duvidoso ver as televisões transmiti-lo em directo.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Rádio Moscovo com os atletas palestinianos


Há algumas delegações estrangeiras que atraem mais o meu afecto. Entre muitas outras destaco, naturalmente, Cuba, Vietname, Laos, República Democrática Popular da Coreia, Bielorrússia e Venezuela. Mas houve uma que me impressionou vivamente e que terá todo o meu apoio durante os Jogos Olímpicos de Pequim. Trata-se da Palestina.

Nader Masri e Ghadeer Ghuruf no atletismo e Hamseh Abdouh e Zakiya Nassar na natação. Estamos com eles.

Ossétia do Sul agredida pela Geórgia

Se os Estados Unidos e a União Europeia, através da NATO, apoiaram a desagregação da Jugoslávia e a recente declaração de independência do Kosovo porque não pode a Ossétia do Sul receber o mesmo apoio por parte da Rússia? De qualquer forma, já começou a desinformação por parte dos meios de comunicação social da burguesia. É uma agressão da Rússia à Geórgia, afirmam. Contudo, deviam explicar a chacina que se verificou na capital da Ossétia do Sul, Tskhinvali, destruída pelos ataques das forças armadas georgianas. Ainda mais triste é que se tenha passado no dia em que se inauguram os Jogos Olímpicos de Pequim. Mas a paz nunca foi um valor a defender pelo capitalismo e pelo imperialismo.

Homer Simpson substitui Juan Carlos

Quem não se recorda de Homer Simpson, o norte-americano barrigudo que idolatrava a sua inutilidade? Pois, bem. Nas Astúrias, acaba de aparecer uma moeda de euro com a cara do chefe da família Simpson a substituir o rei Juan Carlos. E, verdade seja dita, de inútil para inútil o Homer fica melhor.

Notícia no El Mundo

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Solidariedade com Remedios García Albert

Remedios García Albert foi detida pela polícia espanhola. Acusada de colaborar com as FARC-EP, a activista espanhola pela paz tem de enfrentar uma dívida de 12 mil euros para pagar a fiança imposta pela Audiência Nacional para não voltar à prisão antes da sentença. Perante as inúmeras demonstrações de apoio e de solidariedade, foi aberta uma conta bancária para receber os contributos solidários para o pagamento da fiança.

Mais informação na página do PCE

terça-feira, 5 de agosto de 2008

L'anguilla


99 Posse é um grupo de rap de Nápoles. Uma boa parte das suas músicas são dedicadas a temas que denunciam a realidade do capitalismo. Neste caso, sobre a manipulação nos meios de comunicação social burguesa. Vale a pena ouvir.
Israel tenta obrigar doentes de Gaza a serem informadores

05.08.2008, Sofia Lorena

Grupo de direitos humanos ouviu 32 relatos, incluindo de pessoas com doenças terminais. O Shin Bet desmente as acusações

Bassam al-Wahidi faltou à última consulta que tinha marcada num hospital de Jerusalém Oriental, há quase um ano, apesar de se arriscar a perder a visão do olho direito. À hora prevista, este jornalista de Gaza estava numa sala de interrogatórios do checkpoint de Erez, onde ao longo de seis horas um homem que falava árabe perfeito e se identificou como Moshe lhe sugeriu que descobrisse quem lançava rockets de Gaza para Israel. "Vou mandar-te para casa e deixar-te viver o resto da tua vida cego por seres estúpido", disse-lhe quando recusou.

O relato de Wahidi é um dos 32 que o grupo israelita da organização internacional Médicos pelos Direitos Humanos recolheu num relatório ontem divulgado. Wahidi é dos poucos que aceita ser identificado pelo nome - a maioria recusou por temer que as hipóteses de sair de Gaza para receber tratamento médico fiquem ainda mais reduzidas.

Os Médicos pelos Direitos Humanos acusam o Shin Bet (o serviço de segurança interna de Israel) de "coacção" e "extorsão" dos pacientes. E notam que estas práticas acompanham um aumento acentuado na proporção de doentes a quem é negada a entrada em Israel, desde que o Hamas assumiu o controlo da Faixa de Gaza, em Julho do ano passado. Em Janeiro de 2007 eram autorizados a entrar 90 por cento - no fim do ano já entravam só 62 por cento dos que pediam para passar por motivos médicos.

O grupo lembra que o aumento de restrições nas saídas coincidiu com o bloqueio israelita a Gaza, que provocou quebras de energia eléctrica e impede a entrada de equipamentos médicos ou combustível.

O Shin Bet desmente as acusações e diz que os controlos de segurança servem para garantir que os palestinianos não ameaçam segurança de Israel. Desde 2005, diz, três potenciais bombistas suicidas fizeram-se passar por doentes. Segundo o exército, o número dos que saem de Gaza para receber tratamento médico aumentou de 8325 para 15.148 em 2007.

Mas os testemunhos recolhidos levam os Médicos pelos Direitos Humanos a concluir que os "interrogadores propõem directa e abertamente aos doentes colaborarem e/ou fornecerem informações". E esta prática, sublinham, viola as Convenções de Genebra. O Shin Bet lembra, por seu turno, que o Supremo Tribunal israelita decidiu que "o Estado tem o direito soberano de determinar quem entra" nas suas fronteiras.

A Bassam al-Wahidi foi-lhe oferecido um cartão de telemóvel israelita. Para além de se deslocar às áreas de fronteira para identificar os combatentes que lançam rockets, deveria ir às conferências de imprensa da ala militar do Hamas e de outras facções. Tinha dez dias para provar sua utilidade - depois deixaria de precisar de autorização para passar em Erez.

"Tens cancro"

Sem qualquer viagem ao hospital de Jerusalém desde esse interrogatório, o jornalista de 28 anos que cobre assuntos sociais e laborais para uma rádio já está cego do olho direito e precisa de tratamento urgente no olho esquerdo. Os médicos mandaram-no parar de ler e escrever há um mês.

Abu Obeid, um funcionário público de 38 anos, tem um pacemaker instalado num hospital israelita e saía frequentemente para tratamentos cardíacos. Mas em Agosto recusou uma proposta idêntica à que foi feira a Wahidi. "Dás-me informação e eu facilito as entradas em Israel", ouviu.

Outro homem de 38 anos que deveria ter sido consultado no hospital Ichilov de Telavive contou ao grupo de médicos israelitas o que lhe disse um agente: "Tens cancro e vai espalhar-se para o teu cérebro. Enquanto não nos ajudares, podes esperar por Rafah." Rafah é o posto fronteiriço entre Gaza e o Egipto, raramente aberto.

[...]

em Público, 05.08.08

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Alexandre Soljenitsyne


Morreu Alexandre Soljenitsyne. O homem a quem se deve uma boa parte das mentiras sobre a União Soviética. O homem que odiava o comunismo - e que não escondeu a sua simpatia por Franco e Pinochet - recebe agora as honras fúnebres de quem serviu desde cedo a contra-revolução. Pelos serviços prestados, já havia sido pago em vida com um Prémio Nobel da Literatura.

Sob a sombra da mentira, criou a farsa dos 110 milhões de pessoas mortas pelos bolcheviques. Quarenta e quatro milhões na II Guerra Mundial e outros 66 milhões desde a colectivização até à morte de Estaline, em 1953. Calculava, aliás, que nesse ano estariam nos campos de trabalho cerca de 25 milhões de presos.

Estes dados foram apresentados e repetidos até à exaustão pela comunicação social burguesa em todo o mundo, como se tratasse de números calculados de forma rigorosa. Contudo, não passou de uma operação propagandística com o objectivo de denegrir a União Soviética. Porque, obviamente, com todos os erros e desvios cometidos, já discutidos e criticados, ao longo da história da URSS, a ficção apresentada por Soljenitsyne nunca teve o objectivo de mostrar a verdade ou de potenciar a discussão sobre as falhas do modelo socialista soviético.

A página '45 revoluções por minuto' recorda que "as conclusões da abertura dos arquivos secretos por Gorbachev em 1993 não receberam a mesma dimensão informativa [que Soljenitsyne] e só foram referenciadas pelas publicações científicas restritas". Ainda segundo a mesma página, "as conclusões do estudo foram compiladas em nove mil páginas redigidas por três académicos russos (Zemskov, Dougin e Xlevnjuk) nada suspeitos de simpatias estalinistas". Entretanto, estas mesmas conclusões foram reproduzidas por Nicolas Werth do Instituto Francês de Investigações Científicas na revista 'L'Histoire' em Setembro de 1993 e por J. Arch Getty, professor de História da Universidade de River Side na Califórnia na revista 'American Historical Review'. Todos estes relatórios desmentem a propaganda de Soljenitsyne.

Em 1939, havia cerca de 2 milhões de presos e, desses, 454 mil foram condenados por actividades contra-revolucionárias. Em 1950, três anos antes da morte de Estaline, o número de contra-revolucionários presos atingiu os 578 mil. No total, os presos nesta época nunca ultrapassaram os 2,4 por cento da população adulta. Um pouco menos do que se passa hoje nos Estados Unidos em que 2,8 por cento da população adulta se encontra encarcerada. De qualquer forma, há que não esquecer que a União Soviética esteve em guerra permanente durante décadas. Depois da I Guerra Mundial e da Guerra 'Civil' - com a participação de vários países capitalistas contra a revolução bolchevique - a URSS foi a que mais baixas teve na II Guerra Mundial e a que mais esforço dedicou na luta contra o nazi-fascismo. Foi graças ao Exército Vermelho que se deu uma reviravolta na guerra. E foi também ele que levantou a bandeira rubra em Berlim.

Como já se disse, não se pretende esconder os erros e desvios que ocorreram na União Soviética. Pretende-se antes trazer luz sobre os factos. Não se pode analisar a história do socialismo na URSS escondendo as conquistas e os avanços civilizacionais que se deram na pátria de Lénine. Há que levantar a poeira que outros atiram sobre a História para que se deixe de contaminar a verdade.

A propaganda da mentira

[...] O sistema capitalista é o responsável pelo maior alívio de pobreza e miséria que a História alguma vez viu. Por outro lado os países onde persiste a antiga pobreza são precisamente aqueles que não adoptaram o capitalismo. Quando o fazem, como estamos a ver, a pobreza reduz-se drasticamente. Não há dúvida que as condições de vida de todas as classes sociais, sobretudo as mais desfavorecidas, melhoraram imenso com o desenvolvimento. O mundo não é perfeito e sempre haverá pobres que muito sofrem mas, apesar de tudo, eles vivem muito melhor que os nossos antepassados. [...]

João César das Neves, no Diário de Notícias

domingo, 3 de agosto de 2008

Daqui, Rádio Moscovo!

O atirador especial dispara de longe mas raramente falha o alvo!

Desde que o blogue Rádio Moscovo lançou a sua primeira emissão, em Abril, destacando o papel da emissora soviética na luta contra o imperialismo e pelo socialismo, já ultrapassou as 2500 visitas e as 4500 visualizações. Sem qualquer pretenciosismo, pretende-se continuar a dar um contributo para a luta e para romper o bloqueio informativo dos meios de comunicação social da classe dominante.


Durante a II Guerra Mundial, a Rádio Moscovo emitia em 21 línguas, entre as quais a alemã. Transmitir para a Alemanha assumia uma importância especial. Naquele tempo, a transmissão alemã havia adquirido uma experiência considerável. A primeira emissão para um país estrangeiro ocorreu a 29 de Outubro de 1929 e foi em alemão. Nos anos anteriores, a Rádio Moscovo já tinha uma larga audiência na Alemanha e mesmo depois da chegada de Hitler ao poder a voz da Rádio Moscovo continuou a chegar. Isto apesar dos esforços do nazismo para calar as suas emissões e para prender os seus ouvintes.

As emissões a partir de Moscovo transmitiam acerca da vida na União Soviética e sobre assuntos internacionais como a Guerra Civil em Espanha e o movimento antifascista. Nos seus programas, apareciam alemães antifascistas e intelectuais que abandonaram a Alemanha para viver na URSS. Depois da invasão, o serviço alemão da Rádio Moscovo, como as outras secções, foi rápido a reorganizar o seu trabalho sob as novas condições. Os emigrantes alemães passaram a aparecer ainda mais nas emissões com o objectivo de consciencializar a audiência da necessidade do combate antifascista. Apelavam à resistência. E o poeta alemão Johannes Becher fez o apelo: "Nenhum apoio à guerra estúpida e sangrenta".

A elite hitleriana odiava a Rádio Moscovo. Um mês depois da guerra ter rebentado na União Soviética, Goebbels disse em Berlim: "Hoje, a Rádio Moscovo vai calar-se". Nesse dia, os nazis bombardeavam Moscovo e uma das bombas caiu junto da emissora soviética, situada na capital. Mas a bomba não explodiu. Depois do ataque, os serviços radiofónicos foram transferidos temporariamente para outro edifício. Mas as emissões nunca pararam, nem por um minuto. "Ouvir a Rádio Moscovo era particularmente importante durante a II Guerra Mundial porque oferecia uma importante informação para a nossa luta contra o fascismo e a guerra", escreveu Rolf Agsten, um residente de Erfurt, na Alemanha. Era a "voz da verdade".

Nesses terríveis anos, as emissões ganharam grande popularidade em Itália. A audiência italiana queria saber a verdade sobre a situação na frente, sobre o destino dos corpos expedicionários deste país que combatiam na União Soviética. E depois da Batalha de Estalinegrado, a Rádio Moscovo lançou uma série de programas denunciando as mentiras da propaganda de Hitler e trazendo a verdade sobre a batalha que marcou uma viragem na guerra.

Mas o serviço italiano da Rádio Moscovo surgiu logo nos primeiros dias da guerra com programas regulares com a participação dos dirigentes exilados do Partido Comunista Italiano Palmiro Togliatti e Ruggiero Grieco. A 27 de Julho de 1941, comentando um comunicado de Mussolini de que a Itália estava também em guerra com a União Soviética, Togliatti desmascarou a aventura criminal do regime nazi. Disse que a Itália não seria forte ou respeitada enquanto o seu povo não derrotasse o fascismo. Concluiu que todos os italianos que amavam o seu país não podiam senão desejar a vitória do povo soviético.

Ruggiero Grieco, falando sob o pseudónimo de Garlanidi, emitia de Moscovo nas mais difíceis condições que proporcionava a Grande Guerra Patriótica. Quando regressou a casa, depois do fim da guerra, escreveu um livro chamado "A defesa heróica de Moscovo" que descrevia os dias horríveis de Outubro de 1941, quando o inimigo cercou a capital. "Na noite de 15 para 16 de Outubro chegou uma ordem para mudar o serviço de Moscovo para Kuibyshev. Ficou apenas um número muito reduzido de jornalistas. Eu era o único italiano na redacção moscovita. O dia 16 de Outubro foi um dia inesquecível, um dia triste. O silêncio na sede da Rádio Moscovo era esmagador. Pela tarde, depois de ouvir uma interferência na rádio, a partir de Roma, que confidenciava que Moscovo estava prestes a cair nas mãos dos nazis, fui para o estúdio e sentei-me em frente ao microfone e senti o ressurgimento da energia: "Daqui, Rádio Moscovo!"

Quando se deu a primeira derrota dos nazis perto de Moscovo, a notícia chegou rapidamente aos ouvintes italianos, entre eles os guerrilheiros da Resistência Italiana, os operários das fábricas de Turim e de Milão, ocupadas pelos alemães. Os programas da Rádio Moscovo foram gravados, transcritos, impressos e distribuídos entre os antifascistas. O povo italiano estava a descobrir a verdade sobre a situação no seu país e sobre o fascismo.

Artigo completo em Voz da Rússia

Os colaboracionistas

Petáin e Hitler

Os que apoiavam os nazis alemães e os fascistas italianos eram apelidados de colaboracionistas. Foi, aliás, durante a Segunda Guerra Mundial que o epíteto surgiu. Em França, o governo de Vichy, era apelidado, pela Resistência, dessa forma. Também na Croácia e na Polónia, os traidores eram conhecidos como colaboracionistas. Mas não só. Os actos de traição e de colaboração com forças ocupantes foram sendo referenciados como colaboracionismo.

Isto tudo porque em artigo de opinião, o director do Diário de Notícias indicou várias empresas, como a Yahoo, a Google, a Hotmail, a Microsoft, a Cisco Systems, a Nortel Networks, a Sun Microsystems e a Websensem, como protagonistas de colaboração com o governo chinês, no que diz ser a censura a todos os que na internet queiram criticar o regime de Pequim. Não pretendo discutir a realidade chinesa mas parece-me muito hipócrita que João Marcelino venha falar do "novo colaboracionismo".

João Marcelino é director do Diário de Notícias, arma de propaganda e manipulação da burguesia portuguesa. Foi ele, aliás, que há poucos dias exortou os trabalhares da TAP a evitar o suicídio. Com aquele tom muito paternal - que tão bem sabem usar os patrões quando se vêem confrontados com a luta - afirmou que "a situação financeira da TAP não pode ser indiferente aos seus trabalhadores, num momento em que é claro aos olhos de toda a gente que a sobrevivência da companhia passa por uma maior flexibilidade do trabalho". Para dramatizar, exemplificou que "os trabalhadores da TAP têm de descartar a opção suicidária pela greve, se querem evitar tornarem-se colegas, no Fundo de Desemprego, dos seus colegas da GM da Azambuja".

Portanto, os trabalhadores não devem tomar a opção "suicida" da luta. Os trabalhadores devem, antes, assumir uma postura negociante e colaboracionista. Senão, vejamos os exemplos a serem seguidos: "Olhar para a lição da Ford de Palmela, em que a aceitação de vários cortes garantiu trabalho por mais dez anos".

Mas se este editorial basta para ilustrar que o Diário de Notícias representa um alicerce fundamental na sustentação do poder político e económico da burguesia nacional através da propaganda e da manipulação, não nos esqueçamos de quem se abstém de noticiar acontecimentos protagonizados pelo partido da classe trabalhadora ou pela sua central sindical de classe - abstenção rompida apenas pelos ataques violentos que se lhes desfere regularmente a propósito das suas opções ideológicas. Não nos esqueçamos de quem promove a guerra e a criminalização da resistência ao capitalismo e ao imperialismo. Não nos esqueçamos deles porque são quem trai, diariamente, o seu povo.