quarta-feira, 30 de junho de 2010

Agora e sempre, resistência!

Do grupo italiano Senza Sicura, a canção Figli della Patria.

Dante di Nanni, sempre!

Há livros em que as personagens se libertam da ficção e se juntam a nós na realidade. Escrevi-o quando acabei de ler 'Por quem os sinos dobram' de Ernest Hemingway. Na altura, encheu-me a sensação de vazio ao fechar a última página. As obras de ficção deixam de o ser quando retratam episódios vividos na realidade por milhares de combatentes antifascistas.

Neste momento releio o 'Sem tréguas' de Giovanni Pesce. Não se trata de ficção mas de realidade. A história, e não estória, dos 'partigiani' contra a ocupação de Itália pelos nazis alemães. Uma realidade brutal que só pôde ter sido derrotada pelo heroísmo dos combatentes antifascistas italianos e da classe operária organizada.

Ainda longe da última página, rendo a minha homenagem ao jovem Dante Di Nanni que optou pela morte em vez da rendição. Depois de um ataque a uma estação de rádio foi gravemente atingido. Moribundo, no seu quarto, em Turim, matou dezenas e dezenas de fascistas italianos e nazis alemães. Destruiu um tanque, carros blindados e quando se acabaram os explosivos e as munições lançou-se da janela de punho erguido.

"Os anos e os decénios passarão: os dias duros e sublimes que nós vivemos hoje parecerão longínquos, mas gerações inteiras de jovens filhos de Itália educar-se-ão no amor pelo seu país, no amor pela liberdade, no espírito de devoção ilimitada pela causa da redenção humana com o exemplo dos admiráveis garibaldinos que escrevem hoje, com o seu sangue vermelho, as páginas mais belas da história humana."

in panfleto clandestino [editado a 4 de Junho de 1944, em glória do herói nacional Dante Di Nanni]

domingo, 27 de junho de 2010

Prestes: 'O operário sozinho não vale nada'

Intervenção do lendário Luiz Carlos Prestes, em 1987, três anos antes de falecer e três anos antes de acabar a experiência socialista no Leste da Europa. As palavras que pronuncia são as palavras que qualquer comunista poderia pronunciar, hoje, perante a situação que se vive.

terça-feira, 22 de junho de 2010

O fairplay estalinista

É exasperante ver os jogos em que participa a República Democrática Popular da Coreia. Os comentadores desportivos, tão inábeis na arte da objectividade, até se aventuram a falar de política. E usam-na para forrar as habituais metáforas de péssima qualidade. Com o mínimo de decência e atenção, quem ouviu o relato na RTP e nas estações de rádio só poderia ficar abismado. Os comentários foram insultuosos. Num dos relatos, o comentador dizia que se via que longe ia o tempo em que não havia bolas de futebol na Coreia do Norte. Durante o início do jogo com Portugal, quando a selecção asiática pressionava e impunha respeito a Cristiano Ronaldo e companhia, os comentários eram quase todos desprestigiantes. E da mesma forma que comentadores estrangeiros ridicularizavam os norte-coreanos por treinarem num ginásio público enquanto as demais selecções têm os ginásios privados dos hotéis de luxo, o jornal português i teve uma tirada fantástica. "Os norte-coreanos, uma formação de homens esforçados e orientados por uma disciplina quase doentia (nunca fazem faltas e marcam-nas sem excepção no local exacto onde foi a infracção), sentiram o peso da desvantagem e começaram a abrir brechas." O que para todas as outras selecções seria sinónimo de fairplay - não fazer faltas e marcar exactamente onde se as sofreu - é, no caso da Coreia, sinónimo de orientação "por uma disciplina quase doentia".

Curiosamente, os que usam todos os argumentos para atacar a Coreia do Norte não tecem a mínima crítica às Honduras. Um país que tem um governo fascista que usurpou o poder através de um golpe que levou à morte de centenas de pessoas e onde morrem assassinadas dezenas de jornalistas por tentar relatar o que lá se passa. Contudo, para os jornalistas portugueses a vida dos seus camaradas hondurenhos vale menos que uma crítica à forma disciplinada como os norte-coreanos respeitam os adversários e as regras do jogo. Porque isso é fairplay estalinista.

sábado, 19 de junho de 2010

Alfarrabistas, os depositários da literatura de Abril

Quando estive na Venezuela, as livrarias estavam cheias de livros sobre política. Entre os mais vendidos, encontrava-se o Guerra de Guerrilhas do Che Guevara. A Feira do Livro, em Caracas, tinha dezenas de espaços onde se amontoavam edições recentes das obras do passado e do presente. Como um retrato vivo da realidade que se vive, hoje, na Venezuela, comprova-se a célebre afirmação de que as "ideias da classe dominante são as ideias dominantes em cada época". Disse-o Marx e Engels.

E ainda que não seja a classe trabalhadora a que domina o poder económico na Venezuela, as livrarias reflectem o processo que se vive no país e a influência que tem sobre a produção e difusão de umas ideias em detrimento de outras. Digo-o porque quando, em Portugal, entro em livrarias e em alfarrabistas vejo a diferença entre o presente e o passado. Aqui, os livros que difundiam uma determinada visão da realidade que não corresponde, hoje, à das classes dominantes amontoam-se nas estantes bafientas dos alfarrabistas. Tudo o que promova os valores do capitalismo tem espaço nas grandes livrarias e nos hipermercados.

Espero que dentro de uma década não sejam os alfarrabistas venezuelanos os depositários de uma cultura perdida no tempo. E espero que os intelectuais venezuelanos não sucumbam como muitos intelectuais portugueses, que para se manterem à tona saltaram do comboio da esquerda para abraçar o "socialismo democrático". Que não venham depois renegar os "excessos do processo bolivariano" e que não venham condenar as organizações e processos revolucionários de outros países. Ou atacar intelectuais que por não se renderem seriam alvos inevitáveis do cerco mediático.

domingo, 6 de junho de 2010

Oportunismo de Fernando Nobre

Numa entrevista a vários órgãos de comunicação social, Fernando Nobre diz que se distingue dos outros candidatos por não fazer parte do sistema. O candidato à Presidência da República é de um oportunismo atroz. Típico de quem tenta passar entre as gotas da chuva para não se molhar, Fernando Nobre já havia sustentado a tese de que é o melhor candidato por não ser de nenhum partido. Entende que não é de esquerda nem de direita.

Mas Fernando Nobre é do sistema. Não só é do sistema como sempre pactuou com ele. Já participou em convenções do PSD, já foi membro da Comissão de Honra da candidatura de Mário Soares à Presidência da República, já foi mandatário da candidatura do BE ao Parlamento Europeu, apoiou a candidatura do PSD à Câmara Municipal de Cascais e faz parte de uma associação monárquica. Só se deixa enganar quem é parvo.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Colômbia, Israel da América Latina

Apesar do destaque que sempre damos ao que se passa na América Latina, não nos tem sido possível analisar o período eleitoral na Colômbia. Em primeiro lugar, pela grande luta que se trava em Portugal contra as medidas do governo, com o apoio do PSD, e, em segundo lugar, pelo ataque terrorista das forças israelitas contra o comboio marítimo solidário com a Faixa de Gaza.

A Colômbia é comparada por muitos com Israel. Tem o beneplácito dos Estados Unidos. É o ponta-de-lança do imperialismo na América Latina. Ali, persegue-se e assassina-se todo aquele que tenha o desejo de um sistema alternativo ao capitalismo. A proximidade e as relações com a Venezuela são um ponto delicado que está na boca de todos os candidatos às presidenciais. Isso e as bases norte-americanas.

Em modo de resumo, a primeira volta, realizada no passado fim-de-semana, deu um importante resultado a Juan Manuel Santos e desmoralizou os apoiantes de Antanas Mockus que, ainda assim, passou à segunda volta.

Juan Manuel Santos é o ex-ministro da Defesa do actual presidente Álvaro Uribe. Acusado de vínculos ao paramilitarismo, Juan Manuel Santos foi o principal responsável pelo bombardeamento em território equatoriano que levou à morte de dezenas de civis e guerrilheiros das FARC, entre os quais o comandante Raul Reyes. É o herdeiro de Álvaro Uribe e obteve 46,56 por cento dos votos.

Antanas Mockus teve 21,49 por cento dos votos. O candidato do Partido Verde era indicado, por alguma imprensa, como possível vencedor. Foi com surpresa que se recebeu a notícia deste resultado na sede de campanha do candidato verde. Antanas Mockus foi presidente da Câmara Municipal de Bogotá, a capital do país. A sua campanha tentou seguir a linha de Obama com grande ênfase nas redes sociais e na comunicação social. Não põe em causa o capitalismo e recusou o apoio, na segunda volta, do candidato social-democrata do Pólo Democrático Alternativo. Para além disso, segue a linha de Juan Manuel Santos ao dizer que só negoceia com as FARC quando estas libertarem todos os "reféns".

Gustavo Petro era o candidato do Pólo Democrático Alternativo. Quando era jovem, fez parte do movimento guerrilheiro M-19. Nas primárias do PDA, venceu contra Carlos Gaviria Díaz, então presidente do PDA, um histórico que havia alcançado um resultado inesquecível em 2006, nas eleições presidenciais (ficou em segundo lugar). Entre as divergências, Gustavo Petro insinuava que o PDA, sob a direcção de Carlos Gaviria Díaz, era muito brando nos comunicados sobre as FARC.

Contudo, na Colômbia, as eleições são uma fachada para a ditadura paramilitar. Através da compra, da manipulação, do medo e do assassinato, a oligarquia colombiana impõe a sua vontade. Não se pode entender o sistema político colombiano como uma democracia burguesa. Ou pelo menos como as que conhecemos na Europa Ocidental. Os milhares de assassinados, de desaparecidos, de exilados, de extraditados e de presos políticos atestam bem a impossibilidade de alcançar uma verdadeira mudança através da via eleitoral ou da via pacífica. Nos anos 80, a tragédia que se abateu sobre o partido União Patriótica demonstrou a falsidade da democracia na Colômbia.

Não é, pois, por acaso que as FARC, que acabam de cumprir 46 anos, apelaram à abstenção. No fundo, já se sabe o resultado: Juan Manuel Santos será o vencedor para gáudio da oligarquia que poderá manter o seu império da droga e deixar o imperialismo servir-se da Colômbia para assediar o resto do Continente.