sexta-feira, 27 de junho de 2008

Déjàvu

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Os equívocos de Chávez

No seu livro "Lénine e a Revolução", Jean Salem dedica um capítulo à velha discussão entre os revolucionários e os reformistas. O professor francês explica que "os grandes problemas da vida dos povos nunca são resolvidos senão pela força". E apesar de os comunistas não renunciarem a qualquer forma de luta, "os revolucionários não devem renunciar à luta pelas reformas". Apresenta ainda que, segundo Lénine, "o exército permanente e a polícia são os principais instrumentos da força do poder do Estado" a que Salem acrescenta "a multiplicação das polícias ou outras milícias privadas", no contexto da globalização capitalista.

Pensemos na Colômbia, onde o capital, para além do Estado, utiliza as milícias paramilitares para combater os sindicalistas e guerrilheiros e para sustentar o tráfico de droga. Pensemos na Colômbia, onde as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC-EP) tentaram, nos anos 80, a luta pacífica através da participação nas eleições e da qual foram arredadas pela carnificina que levou à morte de três mil membros da União Patriótica. Pensemos na Colômbia, onde os Estados Unidos investem milhões de dólares e equipam o exército colombiano com as armas mais avançadas.

Suponho que Hugo Chávez não tenha reflectido muito antes de ter afirmado que a luta armada, protagonizada pelas FARC-EP, já não faz sentido. Porque nenhum revolucionário pode acreditar que as formas de luta são próprias de um tempo específico, como se de uma moda se tratasse, e não reflexo da agudização da violência dos exploradores contra os explorados. Neste sentido, dizer que as FARC-EP representam uma desculpa para a intervenção dos Estados Unidos na América Latina não só é absurdo como rídiculo porque outros, como Salvador Allende, provaram que qualquer mudança política, pacífica ou violenta, que não satisfaça o imperialismo norte-americano será alvo da ingerência colonial de Washington. Para além disso, o presidente venezuelano acrescentou que a guerrilha deve libertar os homens e mulheres que tem em seu poder sem se referir por uma única vez aos guerrilheiros e guerrilheiras que apodrecem nas prisões colombianas.

Hugo Chávez sabe que uma boa parte da economia Venezuela está nas mãos do capital. O processo bolivariano tem resultado em conquistas fenomenais para a classe trabalhadora mas a burguesia não vai ceder o poder económico de forma pacífica. Como se diz em Portugal, "depois veremos".

Os melhores do mundo

Não se preocupem, sou português e bastante patriota mas não posso deixar de admitir que me sinto aliviado por, finalmente, ter acabado a febre do Campeonato Europeu de Futebol. Não lhe dou mais importância que a qualquer outro desporto. Para mim, todos os desportos têm a sua beleza e fazem bem ao corpo e à cabeça. Mas o futebol profissional deixou de ser um desporto para ser um espectáculo mediático que rende milhões aos mesmos de sempre. Daí não me espantar que os jogadores da selecção portuguesa regressem a casa mais cedo (seja ela em Portugal, no Brasil, em Inglaterra ou em Espanha). Pelo que vi, criou-se um mito à volta das capacidades dos jogadores portugueses (e brasileiros) estimulado pela comunicação social do nosso país, nunca ou raramente objectiva nestas coisas do futebol. Depois, pela mesma lógica do jornalismo dos nossos dias, patrocinou-se a funalização com o explorar das hipotéticas contratações de Cristiano Ronaldo e de Felipe Scolari pelo Real Madrid e pelo Chelsea, respectivamente. E, claro, o mito do "melhor do mundo", como se isso superasse a realidade de um jogo que se disputa entre equipas de 11 jogadores.

Por isso, largámos esse planeta longínquo, onde há gente que ganha milhões por jogar futebol (e às vezes mal) para regressarmos ao planeta azul onde se aprovam directivas que implementam as 65 horas semanais de trabalho, onde se aprovam códigos do trabalho que instituem o retrocesso social, onde a democracia se esconde na sombra dos que não respeitam a vontade dos povos, onde a luta é mais importante do que o futebol. Porque os melhores do mundo são os explorados que fazem andar esta coisa chamada Terra.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Homenagem a James Connolly


O povo irlandês pode bem ter orgulho na sua história. Ao longo de séculos, combateu a ocupação inglesa e conseguiu, no século XX, libertar a maior parte da ilha. Entre os seus heróis encontra-se James Connolly, revolucionário que deu a vida no combate por uma Irlanda independente e socialista. Decerto, estaria orgulhoso de ver o seu povo rasgar e deitar, como afirmou Ilda Figueiredo, o Tratado de Lisboa "no caixote de lixo da História". Deixo-vos uma canção produzida por um dos melhores grupos musicais irlandeses, os Wolfe Tones, dedicada a James Connolly.

Ganhou o 'não'! Viva o povo irlandês!

O governo irlandês acaba de reconhecer a vitória do 'não' no referendo para o Tratado de Lisboa. Ou seja, os executivos burgueses da União Europeia sofreram uma pesada derrota no único país onde foram obrigados a ouvir a voz do povo. Através de uma campanha mediática controlada pelos apoiantes do 'sim', os 'democratas' europeus tentaram impor a Constituição que antes havia sido chumbada pelos povos da Holanda e da França. Há que recordar que só havia um partido irlandês com assento parlamentar a apelar ao 'não', o Sinn Féin. Para além disso, quando alguns sectores católicos começaram a seguir esta opção, a hierarquia da Igreja Católica veio defender o Tratado de Lisboa.

A grande preocupação, agora, é a de que a União Europeia possa avançar com um plano alternativo para salvar um acordo que foi reprovado pelos povos. Não seria nada de pouco comum tendo em conta que este Tratado de Lisboa já constituiu uma solução alternativa à anterior Constituição Europeia. Para além disso, não podemos deixar de ver as sucessivas declarações dos governantes a dizer que não há um plano b como bluff para pressionar o povo e o governo irlandês a facilitar o triunfo do 'sim'.

De qualquer forma, é um grande dia. Uma bela sexta-feira, dia 13, para os povos da União Europeia. Viva o povo irlandês!

terça-feira, 10 de junho de 2008

Ofensiva contra os direitos cívicos e democráticos chega aos blogues

Imagem que brinca com a propaganda capitalista sobre o software livre

Com o 11 de Setembro criaram-se as condições ideais para a imposição de medidas securitárias com o objectivo de controlar o que quer que pudesse pôr em causa o sistema capitalista e os seus valores. Naturalmente, daí à criminalização das organizações da classe trabalhadora foi um pequeno passo. Mas um grande salto para a burguesia.

Ainda há poucas semanas, um camarada da União da Juventude Comunista Checa [KSM] foi preso durante uma manifestação por levar uma bandeira da sua organização, considerada ilegal no país por defender a nacionalização dos meios de produção e a luta contra o sistema capitalista. Mas há outros sinais que anunciam um futuro que nos deve preocupar. Na edição digital do El País, surge uma reportagem que retrata a intenção do Parlamento Europeu de regulamentar os blogues. A ideia é criar-se uma espécie de bilhete de identidade para os bloggers que contenham os seus dados pessoais.

Em Itália, o governo de Berlusconi teve de recuar na sua proposta de registar todos os blogues como empresas editoriais, obrigadas a pagar imposto ao Estado. Obviamente, a União Europeia argumenta com a necessidade de se acabar com o anonimato na internet e, principalmente, com o descontrolo em que todos podem dizer o que lhes apetecer ou, inclusive, mentir. Mas do que se trata, a meu ver, é da verdade. A grande preocupação dos Estados e da burguesia é a possibilidade de, na internet, dizermos a verdade perante audiências cada vez maiores. A tal verdade que tanto os incomoda. Porque essa está, há muito, alheada dos meios de comunicação social tradicionais.

Cavaco: arraçado de fascizante


Cavaco Silva faz parte daquela raça única de políticos cuja existência facilmente dispensaríamos. Naturalmente, "enganou-se". Mas Freud explica muito bem essa história dos enganos.

Edit: Afinal, parece que não foi engano nenhum. Se virmos as imagens percebemos que não há qualquer indício nesse sentido. Naturalmente, a comunicação social preferiu interpretar como uma gaffe.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Europeíces

Num interessante artigo, publicado hoje pelo El Mundo na sua edição digital, ficamos a saber que os ministros da União Europeia debatem o aumento do horário de trabalho para as 65 horas semanais. Obviamente, coisa pouca para ser destacada pela comunicação social portuguesa. O El Mundo explica ainda que a delegação espanhola tem conseguido bloquear a alteração dessa directiva com o apoio de França, Itália, Grécia e Chipre. Contudo, explica que com a vitória da direita em Itália e em França o Estado espanhol ficou em minoria e que o governo 'socialista' português se encontra do lado da aprovação da directiva que vai regulamentar o aumento do horário de trabalho semanal. Dá para avaliar o quão de esquerda é o nosso governo.

Também sobre a União Europeia chegam-nos notícias - poucas, mais uma vez - sobre o avanço do 'não' nas sondagens sobre o referendo para o Tratado de Lisboa que será votado na próxima quinta-feira. Parece que o 'não' passou para os 35 por cento e que o 'sim' caiu para os 30 por cento. Naturalmente, as sondagens valem o que valem mas são boas notícias tendo em conta que quem as produz é cúmplice da burguesia europeísta.

O sistema eleitoral cubano

cubainformacion.tv

Já todos ouvimos dizer que em Cuba não há eleições. Por vezes, quando os meios de comunicação social não ocultam a realidade de que existem e de que são amplamente participadas, diz-se que nelas só podem estar presentes candidatos do Partido Comunista de Cuba. Contudo, nada disso é verdade como podemos observar neste vídeo. Um vídeo fundamental para compreendermos como funciona o sistema eleitoral cubano.

Viva Cuba!

sábado, 7 de junho de 2008

Acordai!

Os pescadores e armadores estiveram em greve. Agora, os maquinistas somaram-se à luta. Entretanto, 250 mil trabalhadores ocuparam a Avenida da Liberdade. Depois, os camionistas levaram o caos às estradas do Porto.

Como é belo o meu país quando acorda.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Pescadores conduzem luta até Bruxelas

Pescadores bloqueiam ruas de Bruxelas e queimam bandeira da UE

terça-feira, 3 de junho de 2008

Avanti il popolo!

O fascismo não morreu

Preocupa-me Itália. Depois da vitória da extrema-direita e do colapso da esquerda arco-íris, sucedem-se as demonstrações violentas contra todas as minorias. Há duas semanas, dois fascistas perseguiram e agrediram a um transsexual num bairro de Roma em frente a um carro-patrulha da polícia que não interveio. Dois dias depois, Hassan Nejl, tunisino de 38 anos, morreu no Centro de Detenção para Imigrantes de Turim. Os seus companheiros acusaram os médicos do centro de não o socorrer: "Disseram que era tarde e deixaram-no morrer". No dia seguinte, 24 de Maio, a Itália é sacudida por duas agressões fascistas. Vinte jovens destroem duas montras de lojas de imigrantes do Bangladesh gritando "estrangeiros porcos" e "bastardos" e Christian Floris, locutor do site DeeGay.it, é agredido e ameaçado por trabalhar com temas relacionados com a homossexualidade. Dias depois, na primeira reunião municipal da Câmara de Roma, o novo presidente revelou a sua intenção de dedicar uma praça à figura do fundador de uma organização fascista, implicado num atentado. Não passam dois dias e, durante a tarde, um grupo de nazis ataca estudantes de esquerda que arrancavam cartazes fascistas. Resultado: sete feridos. Entretanto, a polícia proibiu uma concentração gay, um bailarino albanês foi agredido sob insultos como "albanês de merda" e "vamos despachar-te para a Albânia" e uma secção da polícia municipal de Milão empreende uma "caça aos clandestinos" nos transportes públicos enfiando-os em camionetas blindadas. Tudo isto descrito por Gorka Larrabeiti.

Naturalmente, a ascensão da extrema-direita ao poder abriu caminho a esta caça às bruxas. Mas não podemos esquecer ou esconder a responsabilidade de partidos e políticos que, afirmando-se de centro ou de esquerda, legitimaram este ambiente hostil em torno, principalmente, dos estrangeiros. Como explica Asier Blas, professor na Universidade do País Basco, tudo começou com o executivo de Romano Prodi. "A reacção do governo italiano foi vergonhosa", explica. O antigo autarca de Roma, e actual secretário-geral do Partido Democrático, Walter Veltroni, pediu a Prodi medidas contra os imigrantes amontoados nos bairros de barracas. "Setenta e cinco por cento das detenções dão-se com romenos" e "não são imigrantes que vêm tentar melhorar a vida, têm como característica a criminalidade" são algumas das suas brilhantes afirmações. Evidentemente, o primeiro-ministro da altura, Romano Prodi, emitiu um decreto para alargar aos cidadãos comunitários leis que até então só permitiam a expulsão de cidadãos extra-comunitários e para dar à polícia mais poderes. Mas pior que isso foi ver a Refundação Comunista apresentar uma moção num bairro de Roma para a separação das crianças entre italianos e ciganos nos autocarros escolares.

Como não esperar, então, que, à boa maneira medieval, depois de uma suposta tentativa de rapto de uma criança por uma romena em Nápoles se seguissem linchamentos e bairros de barracas incendiados.

A falta que faz um Partido Comunista...

"Compagni dai campi e dalle officine
prendete la falce e portate il martello"

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Paz Social ou Pax Romana?

O ministro da Agricultura, Jaime Silva, afirmou hoje que a linha de crédito de 40 milhões de euros destinada ao sector da pesca poderá ficar disponível "a partir do momento em que haja paz social". Ou seja, utiliza uma manobra chantagista para impor a 'normalidade' no sector. Não é isso, aliás, que nos tem feito a burguesia desde sempre? Se aceitarmos as suas condições, se não protestarmos, terão a bondade de nos ceder uma ínfima parte do dinheiro que nos roubaram. Se não as aceitarmos e nos lançarmos no vandalismo do protesto então somos apelidados de violentos que não contribuem para a 'normalidade' e para a 'paz social'. Nesse caso, são 'obrigados' a cair sobre nós com os seus bastões.

Muito cuidadinho com a classe trabalhadora. Não vá ela exigir o que é seu.

domingo, 1 de junho de 2008

De punho cerrado


Excerto do filme sobre a vida do dirigente comunista alemão Ernst Thälmann produzido pela DEFA da RDA.

"Um dedo pode ser quebrado mas cinco dedos formam um punho cerrado", é desta forma que Thälmann explica aos operários de um estaleiro naval a importância da organização e da unidade dos trabalhadores. Como naquele tempo, também hoje são premissas fundamentais para o reforço da luta. Não é por acaso que Mário Soares alerta o Partido Socialista para as consequências do empobrecimento do povo português. Fa-lo não por estar preocupado com as condições de vida dos portugueses mas por receio de que os comunistas ganhem força nas ruas e nas urnas. Já Manuel Alegre comporta-se como sempre: como um oportunista. Consoante os seus interesses, coloca-se de um ou de outro lado da barricada.

Todos à luta contra a política de direita!