domingo, 15 de agosto de 2010

Paredes que gritam

Graffiti retrata secretário-geral do PCP de punho levantado.
Arte suburbana ao serviço da classe trabalhadora.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

E as Honduras?

Agente del Ejército hondureño desenmascarado en asamblea de miles de maestros from Dick & Mirian Emanuelsson on Vimeo.

Infiltrado dos serviços de segurança do governo fascista é detectado em plenário dos professores. Vejam a reacção dos docentes.

Depois do golpe de Estado fascista, as agências de notícias que dominam 80 por cento da informação - Reuters, Associated Press e France Press - fecharam os olhos e as bocas. Não interessa que se saiba que reina ali um regime que assassina activistas de esquerda e jornalistas. Um regime apoiado pelos Estados Unidos, com o beneplácito da União Europeia.

domingo, 8 de agosto de 2010

Dias Lourenço, a luta continua!

Daqui a muitos anos, quando o tempo de todos nós houver passado, as gerações vindouras lembrar-se-ão das mulheres e homens que deram o melhor das suas vidas pelo comunismo. Mulheres e homens que, na maioria das vezes, teriam a noção de que nunca provariam o fruto maior da sua luta. Como numa corrida de estafetas, os explorados de todos os países têm, desde há centenas de anos, passado o testemunho. Quando um cai, outro levanta a sua bandeira. Por isso, a conquista de um será a conquista de todos.

Daqui a muitos anos, quando o tempo de todos nós houver passado, os que chegarem à meta lembrar-se-ão de todos os estafetas. E o António Dias Lourenço será um deles. Porque até os mortos vão ao nosso lado.

sábado, 7 de agosto de 2010

Um revolucionário de corpo inteiro

Até sempre, camarada!

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Vergonhosa decisão da ONU

Israel aceita comissão da ONU para investigar frota de ajuda a Gaza. Este título deixou, certamente, muita gente incrédula. Para quem está habituado a reconhecer em Israel um Estado criminoso, violador de várias resoluções das Nações Unidas, que não gosta de passar cavaco a quem quer que seja, esta foi uma novidade. Até começarmos a ler o resto da notícia: "O painel será liderado pelo primeiro-ministro neo-zelandês Geoffrey Palmer e pelo Presidente cessante Alvaro Uribe". Portanto, um criminoso vai investigar outro criminoso. E não são criminosos quaisquer. Enquanto presidente, Alvaro Uribe recebeu a solidariedade e a ajuda de Israel nos crimes contra a resistência do povo colombiano. Por exemplo, o ataque à base das FARC em território equatoriano que matou vários guerrilheiros e civis, entre os quais Raul Reyes, teve o apoio militar de Israel. Já se está a ver onde é que esta investigação vai chegar...

Em relação a esta decisão da ONU, não há qualquer espanto. Cada vez mais, as Nações Unidas assumem-se como um orgão ao serviço dos interesses do imperialismo. Não é a primeira vez que Ban ki-moon faz asneira. Ou melhor, não é a primeira vez que o secretário-geral da ONU cumpre as orientações de quem o pôs lá. Um interessante artigo de opinião de Carlos Enrique Bayo, descreve o mandato de Ban ki-moon como sendo de uma "gestão vergonhosa".

E Israel vai prosseguir, como se nada fosse, o seu périplo terrorista. Hoje, achou-se no direito de entrar em território líbano e de começar a cortar árvores. Ante os disparos de dissuasão para o ar dos soldados do país vizinho, os israelitas bombardearam a zona matando vários militares libaneses e um jornalista. Como sempre, os agressores vestem a pele de agredidos e dizem que foi em defesa. Israel diz que o Líbano violou as resoluções da ONU. Não só é falso como é escandaloso que um dos países que menos cumpre resoluções da ONU venha acusar outro de o não fazer.

E assim vai o mundo.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Um dos principais jornalistas espanhóis assume que vivemos numa ditadura

Vejam este vídeo. Este é Iñaki Gabilondo, um dos mais conhecidos jornalistas espanhóis. Foi director de um canal de informação e é uma das principais caras dos telejornais. Não é comunista. Não é progressista. É alguém do sistema.

Neste vídeo, Iñaki Gabilondo despede-se do seu programa, que vai para férias de Verão, e começa por referir que passámos a uma nova etapa após a "hecatombe financeira" e diz que "a naturalidade com que a doutrina que nos arrastou para o abismo nos impôs a sua lei abriu as cortinas a uma grande verdade": "somos súbditos dos mercados. O regime em que vivemos é uma ditadura. Uma ditadura muito particular, mas uma ditadura. Disfarçada com as roupagens da democracia, mas uma ditadura."

Depois, explica que "não nos deixam outros caminhos que aqueles que estão traçados, fora deles não há salvação. E que a nossa liberdade só se pode exercer no pequeno intervalo em que nos autorizam mover-nos".

Vale a pena ouvir e divulgar.

domingo, 18 de julho de 2010

KKE, um farol na luta contra a ofensiva do capital

Imagens da greve do sector naval na Grécia

Numa situação grave como a que vivemos, as análises que fazemos não podem seguir os mesmos critérios de sempre. Os acontecimentos e as decisões do capital sucedem-se e a esse mesmo ritmo devem suceder-se as análises e as respostas dos trabalhadores. E qualquer comunista só pode ficar orgulhoso quando vê o exemplo da luta dos trabalhadores gregos. Apesar da dura situação que se vive na Grécia, o Partido Comunista da Grécia (KKE) levantou-se como um farol e tem estado, como deve estar um partido comunista, na vanguarda da classe trabalhadora. É impressionante pensar no número de greves gerais que já se realizaram se se pensar no que significa organizar uma greve geral. Desde o primeiro momento, a sindical Frente Militante de Todos os Trabalhadores (PAME), ligado ao KKE, tem arrastado todo o movimento sindical para a luta contra as medidas tomada pelo poder político e económico contra os trabalhadores gregos. E isto não sendo a força mais influente no seio do movimento sindical.

Também somos Mandela!

Nelson Mandela faz hoje 92 anos. Em 1990, o líder histórico da luta contra o apartheid era libertado após 28 anos de prisão. Dez anos antes, numa carta aberta enviada à direcção do Congresso Nacional Africano (ANC), Mandela fazia um apelo: "Unam-se! Mobilizem-se! Lutem! Entre a bigorna que é a acção da união das massas e o martelo que é a luta armada, devemos esmagar o apartheid!" Cinco anos depois, em 1985, recusava negociar o fim da luta armada em troca da sua libertação.

Como Nelson Mandela, muitos outros sacrificaram uma boa parte das suas vidas nas prisões. E, infelizmente, as prisões nunca deixaram de receber os heróis que lutam contra a opressão. Por exemplo, em 1981, quando faltavam ainda nove anos para a libertação de Nelson Mandela, foi preso, nos Estados Unidos, Mumia Abu-Jamal. Vai cumprir este ano 29 anos de prisão. Mas há pior. No ano anterior à prisão do jornalista e activista negro, era detido Jose Mari Sagardui, mais conhecido como Gatza. Como independentista basco, já experimentou 13 prisões e encontra-se há 30 anos privado de liberdade.

Mas há muitos outros casos de prisões por motivos políticos. A somar a Mumia recordemos os cinco cubanos presos nos Estados Unidos em 1998. Para aí foram extraditados os dois membros das FARC Sonia e Simón Trinidad. Também é importante lembrar Leonard Peltier, um activista pelos direitos dos povos originários dos Estados Unidos, que está preso desde 1976. Há 34 anos, imagine-se! A data prevista para a sua libertação é em 2040, quando tiver 96 anos. Mas estes são uma pequena parte da maioria dos presos políticos nos Estados Unidos.

Mas na Europa também os há. Para além do caso mais grave que referimos em relação ao independentista basco Gatza, temos o famoso Ilich Ramirez. No início dos anos 90, exilou-se no Sudão. Mas em 1994, não se sabe a que preço, o governo sudanês permitiu uma operação de sequestro dos serviços secretos franceses que o levaram para Paris. Em 1997, foi condenado a prisão perpétua. Apesar de ser uma figura controversa e, certamente, em muitos aspectos, questionável, o governo venezuelano tem pedido a sua extradição. A título de curiosidade, deixamos a resposta que deu na primeira audiência quando o juiz lhe perguntou a profissão. "Sou um revolucionário profissional na velha tradição leninista", disse.

Apesar de o imperialismo ser protagonizado pelos Estados Unidos e pela Europa, também na América Latina há presos políticos. A Colômbia é, certamente, o país que mais se destaca. Mas há outros. No Peru, a norte-americana Lori Berenson foi libertada este ano após 15 anos de prisão por militar no Movimento Revolucionário Tupac Amaru. Muitos outros continuam nas prisões peruanas. No caso das Honduras, o golpe de Estado lançou uma vaga repressiva sobre os movimentos populares e as detenções e os assassinatos sucedem-se. No Chile, dá-se o caso menos conhecido dos presos mapuche. Os mapuche são um povo que vive em território chileno e argentino e que lutam pelo reconhecimento pelo seu direito à terra.

Em África, para dar um exemplo, centenas de sarauís enchem as prisões marroquinas e na Ásia temos vários países, entre os quais a Turquia que mantém os independentistas curdos, entre outros, encarcerados. É assim com Abdullah Ocalan, preso desde 1999.

Infelizmente, a realidade das prisões por motivos políticos não acabou. É o silenciamento dos media que faz com que pareça ter acabado. Hoje, falar-se-á muito de Nelson Mandela nos telejornais enquanto milhares apodrecem nos cárceres. É uma realidade que não acabou e não vai acabar enquanto persistirem os motivos que levam milhões de seres humanos a lutar: o reconhecimento do direito à autodeterminação, o fim da opressão e da exploração do homem pelo homem e a igualdade entre todos os seres humanos. É uma luta pela qual vale a pena dar o melhor das suas vidas e pela qual a prisão não tem qualquer signo de culpa ou de peso na consciência. É um orgulho lutar-se por tais motivos!

Colômbia volta a provocar a Venezuela

A poucos dias da tomada de posse de Juan Manuel Santos, o herdeiro do presidente colombiano Alvaro Uribe, lançou-se mais uma campanha mediática contra o governo bolivariano de Hugo Chávez. Agora, o governo de Bogotá diz ter todas as provas dos locais, em território venezuelano, onde as FARC e o ELN supostamente estão. Caracas já mandou vir, da Colômbia, o seu embaixador. Espera-se um aumento da tensão nos próximos tempos. O objectivo é claro. Aproximam-se as eleições legislativas venezuelanas e há que lançar todas as armas contra o governo de Hugo Chávez.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

A hipocrisia sobre os "presos políticos cubanos"

Na próxima quinta-feira, vão ser julgados dezenas de cidadãos por motivos políticos. Qualquer leitor mais distraído poderia pensar que se trata de cubanos que enfrentam o "terrível regime cubano". Mas não. Não se trata de inimigos da revolução cubana. Por isso, não recebem os focos das principais agências de notícias. Por isso, se trata de silenciar o que ali se passa.

A Audiência Nacional espanhola - tribunal de excepção onde figurava o tão aplaudido Baltasar Garzón - vai julgar mais de 20 autarcas bascos. A estes, podemos acrescentar os 37 sentenciados do processo 18/98 que já estão na prisão. Entre eles, encontram-se vários jornalistas. Infelizmente, não são cubanos porque, então, seriam apelidados de "jornalistas independentes" e de "heróis da liberdade de expressão".

E os 75 jovens independentistas bascos presos, jovens aos quais não se pôde imputar nada mais do que a sua militância em organizações independentistas? E as dezenas de dirigentes da esquerda independentista basca que estão na prisão processados por fazer política? Que são todos eles senão presos políticos?

domingo, 11 de julho de 2010

O capitalismo não tem pátria

Há alguns anos, num golpe de oportunismo publicitário, o Banco Espírito Santo patrocinava milhares de bandeiras penduradas nas janelas portuguesas. Com o patriotismo na ponta da língua, Ricardo Salgado imitava outros capitalistas interessados em mostrar o seu amor por Portugal. Enquanto arrancavam fábricas de Portugal e as implantavam em países com mão-de-obra barata largavam lágrimas de afecto pela pátria. Agora, Ricardo Salgado mostra-se chateado com o governo português por ter utilizado a 'golden share'. Como Durão Barroso, outro patriota, que se lança indignado contra este ataque ao mercado livre. Como sempre, as elites mostram que o capital não tem pátria e que são os povos os que acabam sempre por lutar pela soberania nacional.

Não se trata de apoiar a manutenção da Vivo no seio da PT. Também não se trata de apoiar a venda da Vivo à Telefónica. No fundo, num mundo diferente, a Vivo seria do povo brasileiro, a PT do povo português e a Telefónica do povo castelhano. E não haveria qualquer instituição supranacional a dizer o que cada um pode ou não fazer com as suas próprias companhias de telecomunicações.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Agora e sempre, resistência!

Do grupo italiano Senza Sicura, a canção Figli della Patria.

Dante di Nanni, sempre!

Há livros em que as personagens se libertam da ficção e se juntam a nós na realidade. Escrevi-o quando acabei de ler 'Por quem os sinos dobram' de Ernest Hemingway. Na altura, encheu-me a sensação de vazio ao fechar a última página. As obras de ficção deixam de o ser quando retratam episódios vividos na realidade por milhares de combatentes antifascistas.

Neste momento releio o 'Sem tréguas' de Giovanni Pesce. Não se trata de ficção mas de realidade. A história, e não estória, dos 'partigiani' contra a ocupação de Itália pelos nazis alemães. Uma realidade brutal que só pôde ter sido derrotada pelo heroísmo dos combatentes antifascistas italianos e da classe operária organizada.

Ainda longe da última página, rendo a minha homenagem ao jovem Dante Di Nanni que optou pela morte em vez da rendição. Depois de um ataque a uma estação de rádio foi gravemente atingido. Moribundo, no seu quarto, em Turim, matou dezenas e dezenas de fascistas italianos e nazis alemães. Destruiu um tanque, carros blindados e quando se acabaram os explosivos e as munições lançou-se da janela de punho erguido.

"Os anos e os decénios passarão: os dias duros e sublimes que nós vivemos hoje parecerão longínquos, mas gerações inteiras de jovens filhos de Itália educar-se-ão no amor pelo seu país, no amor pela liberdade, no espírito de devoção ilimitada pela causa da redenção humana com o exemplo dos admiráveis garibaldinos que escrevem hoje, com o seu sangue vermelho, as páginas mais belas da história humana."

in panfleto clandestino [editado a 4 de Junho de 1944, em glória do herói nacional Dante Di Nanni]

domingo, 27 de junho de 2010

Prestes: 'O operário sozinho não vale nada'

Intervenção do lendário Luiz Carlos Prestes, em 1987, três anos antes de falecer e três anos antes de acabar a experiência socialista no Leste da Europa. As palavras que pronuncia são as palavras que qualquer comunista poderia pronunciar, hoje, perante a situação que se vive.

terça-feira, 22 de junho de 2010

O fairplay estalinista

É exasperante ver os jogos em que participa a República Democrática Popular da Coreia. Os comentadores desportivos, tão inábeis na arte da objectividade, até se aventuram a falar de política. E usam-na para forrar as habituais metáforas de péssima qualidade. Com o mínimo de decência e atenção, quem ouviu o relato na RTP e nas estações de rádio só poderia ficar abismado. Os comentários foram insultuosos. Num dos relatos, o comentador dizia que se via que longe ia o tempo em que não havia bolas de futebol na Coreia do Norte. Durante o início do jogo com Portugal, quando a selecção asiática pressionava e impunha respeito a Cristiano Ronaldo e companhia, os comentários eram quase todos desprestigiantes. E da mesma forma que comentadores estrangeiros ridicularizavam os norte-coreanos por treinarem num ginásio público enquanto as demais selecções têm os ginásios privados dos hotéis de luxo, o jornal português i teve uma tirada fantástica. "Os norte-coreanos, uma formação de homens esforçados e orientados por uma disciplina quase doentia (nunca fazem faltas e marcam-nas sem excepção no local exacto onde foi a infracção), sentiram o peso da desvantagem e começaram a abrir brechas." O que para todas as outras selecções seria sinónimo de fairplay - não fazer faltas e marcar exactamente onde se as sofreu - é, no caso da Coreia, sinónimo de orientação "por uma disciplina quase doentia".

Curiosamente, os que usam todos os argumentos para atacar a Coreia do Norte não tecem a mínima crítica às Honduras. Um país que tem um governo fascista que usurpou o poder através de um golpe que levou à morte de centenas de pessoas e onde morrem assassinadas dezenas de jornalistas por tentar relatar o que lá se passa. Contudo, para os jornalistas portugueses a vida dos seus camaradas hondurenhos vale menos que uma crítica à forma disciplinada como os norte-coreanos respeitam os adversários e as regras do jogo. Porque isso é fairplay estalinista.

sábado, 19 de junho de 2010

Alfarrabistas, os depositários da literatura de Abril

Quando estive na Venezuela, as livrarias estavam cheias de livros sobre política. Entre os mais vendidos, encontrava-se o Guerra de Guerrilhas do Che Guevara. A Feira do Livro, em Caracas, tinha dezenas de espaços onde se amontoavam edições recentes das obras do passado e do presente. Como um retrato vivo da realidade que se vive, hoje, na Venezuela, comprova-se a célebre afirmação de que as "ideias da classe dominante são as ideias dominantes em cada época". Disse-o Marx e Engels.

E ainda que não seja a classe trabalhadora a que domina o poder económico na Venezuela, as livrarias reflectem o processo que se vive no país e a influência que tem sobre a produção e difusão de umas ideias em detrimento de outras. Digo-o porque quando, em Portugal, entro em livrarias e em alfarrabistas vejo a diferença entre o presente e o passado. Aqui, os livros que difundiam uma determinada visão da realidade que não corresponde, hoje, à das classes dominantes amontoam-se nas estantes bafientas dos alfarrabistas. Tudo o que promova os valores do capitalismo tem espaço nas grandes livrarias e nos hipermercados.

Espero que dentro de uma década não sejam os alfarrabistas venezuelanos os depositários de uma cultura perdida no tempo. E espero que os intelectuais venezuelanos não sucumbam como muitos intelectuais portugueses, que para se manterem à tona saltaram do comboio da esquerda para abraçar o "socialismo democrático". Que não venham depois renegar os "excessos do processo bolivariano" e que não venham condenar as organizações e processos revolucionários de outros países. Ou atacar intelectuais que por não se renderem seriam alvos inevitáveis do cerco mediático.

domingo, 6 de junho de 2010

Oportunismo de Fernando Nobre

Numa entrevista a vários órgãos de comunicação social, Fernando Nobre diz que se distingue dos outros candidatos por não fazer parte do sistema. O candidato à Presidência da República é de um oportunismo atroz. Típico de quem tenta passar entre as gotas da chuva para não se molhar, Fernando Nobre já havia sustentado a tese de que é o melhor candidato por não ser de nenhum partido. Entende que não é de esquerda nem de direita.

Mas Fernando Nobre é do sistema. Não só é do sistema como sempre pactuou com ele. Já participou em convenções do PSD, já foi membro da Comissão de Honra da candidatura de Mário Soares à Presidência da República, já foi mandatário da candidatura do BE ao Parlamento Europeu, apoiou a candidatura do PSD à Câmara Municipal de Cascais e faz parte de uma associação monárquica. Só se deixa enganar quem é parvo.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Colômbia, Israel da América Latina

Apesar do destaque que sempre damos ao que se passa na América Latina, não nos tem sido possível analisar o período eleitoral na Colômbia. Em primeiro lugar, pela grande luta que se trava em Portugal contra as medidas do governo, com o apoio do PSD, e, em segundo lugar, pelo ataque terrorista das forças israelitas contra o comboio marítimo solidário com a Faixa de Gaza.

A Colômbia é comparada por muitos com Israel. Tem o beneplácito dos Estados Unidos. É o ponta-de-lança do imperialismo na América Latina. Ali, persegue-se e assassina-se todo aquele que tenha o desejo de um sistema alternativo ao capitalismo. A proximidade e as relações com a Venezuela são um ponto delicado que está na boca de todos os candidatos às presidenciais. Isso e as bases norte-americanas.

Em modo de resumo, a primeira volta, realizada no passado fim-de-semana, deu um importante resultado a Juan Manuel Santos e desmoralizou os apoiantes de Antanas Mockus que, ainda assim, passou à segunda volta.

Juan Manuel Santos é o ex-ministro da Defesa do actual presidente Álvaro Uribe. Acusado de vínculos ao paramilitarismo, Juan Manuel Santos foi o principal responsável pelo bombardeamento em território equatoriano que levou à morte de dezenas de civis e guerrilheiros das FARC, entre os quais o comandante Raul Reyes. É o herdeiro de Álvaro Uribe e obteve 46,56 por cento dos votos.

Antanas Mockus teve 21,49 por cento dos votos. O candidato do Partido Verde era indicado, por alguma imprensa, como possível vencedor. Foi com surpresa que se recebeu a notícia deste resultado na sede de campanha do candidato verde. Antanas Mockus foi presidente da Câmara Municipal de Bogotá, a capital do país. A sua campanha tentou seguir a linha de Obama com grande ênfase nas redes sociais e na comunicação social. Não põe em causa o capitalismo e recusou o apoio, na segunda volta, do candidato social-democrata do Pólo Democrático Alternativo. Para além disso, segue a linha de Juan Manuel Santos ao dizer que só negoceia com as FARC quando estas libertarem todos os "reféns".

Gustavo Petro era o candidato do Pólo Democrático Alternativo. Quando era jovem, fez parte do movimento guerrilheiro M-19. Nas primárias do PDA, venceu contra Carlos Gaviria Díaz, então presidente do PDA, um histórico que havia alcançado um resultado inesquecível em 2006, nas eleições presidenciais (ficou em segundo lugar). Entre as divergências, Gustavo Petro insinuava que o PDA, sob a direcção de Carlos Gaviria Díaz, era muito brando nos comunicados sobre as FARC.

Contudo, na Colômbia, as eleições são uma fachada para a ditadura paramilitar. Através da compra, da manipulação, do medo e do assassinato, a oligarquia colombiana impõe a sua vontade. Não se pode entender o sistema político colombiano como uma democracia burguesa. Ou pelo menos como as que conhecemos na Europa Ocidental. Os milhares de assassinados, de desaparecidos, de exilados, de extraditados e de presos políticos atestam bem a impossibilidade de alcançar uma verdadeira mudança através da via eleitoral ou da via pacífica. Nos anos 80, a tragédia que se abateu sobre o partido União Patriótica demonstrou a falsidade da democracia na Colômbia.

Não é, pois, por acaso que as FARC, que acabam de cumprir 46 anos, apelaram à abstenção. No fundo, já se sabe o resultado: Juan Manuel Santos será o vencedor para gáudio da oligarquia que poderá manter o seu império da droga e deixar o imperialismo servir-se da Colômbia para assediar o resto do Continente.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Israel, Estado terrorista

Lembram-se disto?

Israel voltou a cometer um crime hediondo. Não há dia em que não os cometa. Seja através dos seus postos de controlo, do muro, dos milhares de presos, dos bombardeamentos, do bloqueio à Faixa de Gaza, dos colonatos, da recusa em aceitar o regresso dos milhões de refugiados palestinianos, da recusa em aceitar um Estado palestiniano, tudo serve para manter a Palestina submetida a um terror diário. Hoje, foi um episódio brutal, mas, infelizmente, mais um episódio brutal que fica para a história das condenações vazias da dita Comunidade Internacional.

Esta madrugada, uma frota humanitária encaminhava-se, em águas internacionais, para a costa da Faixa de Gaza quando foi assaltada por tropas israelitas. A sangue-frio, foram assassinadas dezenas de activistas cujo crime era levar alimentos, roupa e medicamentos para a população de Gaza. Agora, vem o primeiro-ministro israelita dizer que os soldados se sentiram em perigo e que agiram em legítima defesa. Este é o discurso sionista. O mesmo discurso vitimista desde que levantaram o Estado de Israel através do recurso à violência terrorista contra a maioria árabe.

Na próxima quarta-feira, às 18 horas, temos o dever de estar presentes em frente à embaixada deste Estado criminoso, em Lisboa, correspondendo à convocatória do CPPC. Desde a Rádio Moscovo, toda a solidariedade com a luta do povo palestiniano. Resistir não é um crime.

domingo, 30 de maio de 2010

Mentiras sobre os 300 mil na manifestação

Lembram-se disto?

A manifestação de ontem, organizada pela CGTP, foi uma das maiores de sempre. Mais de 300 mil pessoas abarrotaram as principais avenidas de Lisboa. Vindos de todo o país, os trabalhadores quiseram dar uma resposta contundente à violenta ofensiva do bloco central de interesses. Ainda assim, houve espaço para a manipulação da comunicação social. A TSF, a Lusa, o Diário Económico e o Sapo indicavam centenas de pessoas. O Público, por sua vez, dedicou-se a descredibilizar os números fornecidos pela CGTP através das declarações de uma ex-sindicalista, da qual o jornal diz ter sido "antiga responsável pela contagem de pessoas nos protestos", que indicava estarem apenas "entre 130 mil a 150 mil". Já o Expresso teve muita dificuldade em encontrar outra fotografia para ilustrar a notícia da manifestação unitária da CGTP que não fosse a da delegação do Bloco de Esquerda que seguia na cauda do protesto. Da mesma forma, a TVI colou a manifestação à palavra de ordem do BE: "O cinto deles nunca aperta".

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Amanhã? Pois, claro!

Amanhã? Sim, amanhã. Depois de amanhã, tudo será diferente se não fores, amanhã. Ou melhor, tudo será igual. Se não fores, amanhã, claro. Porque como dizia Gramsci, "o que acontece, não acontece tanto porque alguns querem que aconteça mas porque a massa dos homens abdica da sua vontade. Deixa fazer, deixa enrolar os nós que, depois, só a espada pode desfazer, deixa promulgar leis que depois só a revolta fará anular, deixa subir ao poder homens que, depois, só uma sublevação poderá derrubar". Percebeste?

Amanhã.
15h, Marquês de Pombal.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Solidariedade com Garzón? Não!

Unai Romano. Antes e depois de ter sido torturado pela polícia espanhola.

Tenho recebido diversos e-mails e mensagens a pedirem a assinatura de um abaixo-assinado em solidariedade com o juiz Baltasar Garzón. Este juiz espanhol foi suspenso das suas funções por, entre outros motivos, tentar investigar os crimes do franquismo sobre os republicanos. Não tendo qualquer dúvida sobre a importância de se condenar o fascismo e os fascistas, não sou capaz de me sentir solidário com Baltasar Garzón.

Baltasar Garzón é um dos principais responsáveis pela ilegalização do Herri Batasuna e de vários partidos da esquerda independentista basca. É também responsável pela ilegalização do PCE(r). Baltasar Garzón é um dos principais responsáveis pelas centenas de cidadãos bascos inocentes que passaram pelos calabouços. É também responsável por silenciar e não investigar a tortura de que foram e são alvos milhares de cidadãos bascos. Baltasar Garzón é um dos principais responsáveis pela proibição de vários jornais e rádios bascos. É também responsável pela proibição de várias manifestações e acções de protesto, posteriormente alvos de violentas cargas policiais.

A Rádio Moscovo não apoia o juiz Garzón. Daqui, toda a solidariedade com as vítimas do franquismo e todo o apoio à abertura de uma investigação que é urgente.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Eina (ex-Inadaptats) em Lisboa

Em 1992, criaram os Inadaptats. Até 2005, marcaram o panorama musical na Catalunha e no restante Estado espanhol. Com letras combativas, arrastaram, uma parte significativa dos jovens de esquerda. Tocaram duas vezes em Portugal, numa delas, em 2003, perante milhares de pessoas no Palco 25 de Abril, na Festa do «Avante!». Amanhã, às 22 horas, regressam com o novo grupo Eina para tocar no Largo Camões, no âmbito do Congresso da JCP, com os Peste & Sida. O último álbum é uma adaptação da "Arte da Guerra" de Sun Tzu à actualidade, à luz do marxismo-leninismo.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Os tempos são de combate

Amanhã, a participação dos comunistas e amigos é fundamental. A hora é de luta. Os tempos, sem dúvida, são de combate.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Manifestação histórica em Atenas

Sábado à tarde, em Atenas. Cem mil pessoas respondem à chamada do Partido Comunista da Grécia naquela que foi uma das maiores manifestações de que há memória na capital grega. Também participaram representantes do PCP, do PC dos Povos de Espanha, do Partido dos Trabalhadores da Bélgica e do PC da Turquia. No fim, todos unidos por uma terra sem amos.

domingo, 16 de maio de 2010

Nunca de joelhos, sempre de pé!

"Povos da Europa, levantai-vos!"

'Calm like a bomb' é o nome de uma canção do grupo norte-americano Rage Against The Machine. É assim que se deve sentir qualquer trabalhador português que tenha compreendido o alcance das medidas aprovadas pelo governo PS com o apoio do PSD. Ainda assim, a comunicação social espalhou o terror para amenizar o impacto do que foi aprovado. Há quem diga por aí que poderia ter sido muito pior. Podiam ter-nos subtraído o subsidio de férias e o de natal. Ou, como em Espanha, cinco por cento dos salários da Função Pública. Afinal, não. E até vão reduzir os salários dos políticos e gestores.

Como se vê, há muitas formas de manipular os trabalhadores. Eles são mestres nesse tipo de arte e, na verdade, as circunstâncias também os favorecem. Ou será que são eles que se adaptam às circunstâncias? Depois da vitória do Benfica e da visita do ex-membro da Juventude Hitleriana Joseph Ratzinger, o governo decidiu avançar, no dia 13 de Maio, para a decisão final. E, efectivamente, a comunicação social não conseguiu esconder que o sacrifício vai recair sobre os de sempre.

Longe vão os tempos em que os governos e as instituições criticavam o capitalismo sem regras. Prometeu-se muito. Acabar com os offshores, fiscalizar os bancos, regular as empresas de notação financeira. Foram os tempos da promessa de utópico capitalismo regulado. Como se o capitalismo fosse passível de reformas ou de algum tipo de humanização. Já ninguém fala disso. A solução é igual à receita que se pretendia aplicar antes da crise: privatizações, flexibilização dos despedimentos, globalização da precariedade, aumento da idade de reforma, redução salarial.

Em relação à classe trabalhadora, em cada país há respostas diferentes. No Estado espanhol, as principais centrais sindicais optaram por apoiar o governo e acordar o congelamento salarial. A maior prova de que ajoelhar-se não compensa está ali. Depois desta traição aos trabalhadores, as Comisiones Obreras e a Unión General de Trabajadores viram o governo PSOE aplicar a redução salarial aos trabalhadores do Estado. A central sindical da esquerda independentista basca e o Partido Comunista dos Povos de Espanha têm apelado repetidamente à greve geral.

Na Grécia, escrevem-se páginas heróicas na história daquele país. Os trabalhadores têm participado de forma maciça nas sucessivas greves gerais. E não é por acaso. Na luta de classes não há acasos. Assim como não é por acaso que no Estado espanhol existe uma reduzida conflitualidade social também não é por acaso que na Grécia a classe trabalhadora dá um exemplo implacável. É que existe um Partido Comunista que forjou o seu carácter combativo, nos últimos anos, na luta contra o reformismo e a social-democracia. O Partido Comunista da Grécia mostrou-o quando entrou clandestinamente na Acrópole de Atenas para desfraldar dois panos gigantes, um em inglês e outro em grego: "Povos da Europa, levantai-vos!"

É este o caminho que devem seguir os trabalhadores portugueses. Sem copiar modelos, devem rejeitar o reformismo e a social-democracia. O capitalismo não é reformável. A solução para a crise capitalista é o socialismo. Podemos e devemos levantar-nos. Nunca de joelhos, sempre de pé!

25 de Abril e 1º de Maio

Espero que seja uma notícia que agrade aos leitores da Rádio Moscovo. Vamos regressar em força ao espectro radio-eléctrico. Ultimamente, outras frentes de luta consumiram a disponibilidade necessária para manter a Rádio Moscovo actualizada. Esperamos que os leitores compreendam que a acção prioritária é aquela que se trava para além da batalha virtual.

Desde o fim de Abril, muita água correu debaixo das pontes. O 25 de Abril foi uma grande acção de massas. Nela participou o fundamental dos que lutam por que Abril se cumpra. Mas também participa um conjunto de políticos que necessitam do ambiente de esquerda para que prossigam o ataque à classe trabalhadora sob a capa do "socialismo". Aqui incluímos os dirigentes do PS e da JS. Destaca-se, naturalmente, Manuel Alegre. O candidato à presidência da República, que o PS sempre preservou para os momentos em que necessita de se mostrar preocupado com os trabalhadores, é o eterno quase-dissidente. Um quase-dissidente que, no fundamental, sempre esteve ao lado da política de direita executada pelos vários governos do PS. Não é, pois, estranho que diga compreender as medidas "anti-crise" aprovadas por José Sócrates com o apoio do PSD. Embrulhado nesta caldeirada está, naturalmente, a direcção do Bloco de Esquerda que deve estar a tentar acalmar os ânimos dos que discordam da forma totalitária com que decidiram apoiar Manuel Alegre para a presidência.

O 120º aniversário do 1º de Maio decorreu de forma mais saudável. Longe do cheiro de uma UGT que agora tem uma ex-dirigente sua como ministra do Trabalho, a manifestação encheu as avenidas até à Alameda. Ainda assim, houve pequenos problemas. O Mayday continua a tentar reforçar o seu movimento. A perspectiva é tentar enfraquecer o movimento sindical e promover organizações paralelas sob a desculpa de que os sindicatos não respondem a problemas específicos dos jovens precários. Uma táctica interessante para reforçar as organizações que giram em torno do Bloco de Esquerda. O mesmo que põe sindicalistas seus aliados aos do PS dentro da CGTP como fez dentro do Sindicato dos Professores da Grande Lisboa (SPGL). Essa análise fica para depois mas há que perguntar: quando é que o Mayday decide se quer participar no 1º de Maio da CGTP ou num 1º de Maio seu? É que está sempre com um pé no Largo Camões e outro na Alameda.

Este ano, também esteve presente uma organização trotskista estrangeira. Vários jovens ingleses distribuíam panfletos e tinham uma banca na Alameda. Vi-os há cerca de dois meses numa manifestação da CGTP. Também espalhavam propaganda entre os participantes. Às perguntas em português dos manifestantes sobre o conteúdo dos panfletos não sabiam responder. Meti conversa e fiz várias perguntas em inglês. São financiados por uma internacional que deve ter meia dúzia de activistas e vieram de Inglaterra. Querem indicar o caminho a seguir pelos portugueses e atacaram o papel do PCP na luta dos trabalhadores. Quando os protestos se agudizam há sempre activistas estrangeiros pagos sabe-se lá por quem a tentar conduzir a luta.

Igualmente interessante foi ver o suposto sindicato dos profissionais do sexo, para gáudio dos jornalistas. Desfilaram com o Mayday e havia alguém que trazia uma pancarta que dizia: "Quando é que a puta da liberdade dá liberdade às putas?" Palavras para quê?

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Manipulação e meios de comunicação

Aproveita para aparecer no debate sobre a Comunicação Social organizado pelo PCP. Às 18 horas, na Casa da Imprensa, na Rua da Horta da Seca (ao lado do Largo Camões). Com José Casanova, Fernando Correia e Vasco Cardoso.

domingo, 21 de março de 2010

Documentário sobre o bairro 23 de Enero, Caracas

Fuegos Bajo el Agua: primera parte (1/2) from la letra r on Vimeo.

Vale a pena rever os rostos e os espaços tantas vezes aqui descritos.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Documentário das FARC-EP

Deixamo-vos aqui o primeiro de 13 vídeos do mais recente documentário sobre as FARC - A Insurgência do Século XXI - que foram introduzidos no Youtube. Há uns meses, referimos a perseguição do Estado colombiano à divulgação deste trabalho cujos autores se desconhecem. Agora, terão a oportunidade de o ver e de conhecer melhor a realidade de uma das mais importantes organizações comunistas da América Latina. Para além disso, alguns dos emocionantes factos retratados foram vividos directamente por redactores da Rádio Moscovo.

Viva Raúl Reyes, Jacobo Arenas e Manuel Marulanda!
Viva a resistência do povo colombiano!
A luta é o único caminho!

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

A revolução não será televisionada

Portugal está subterrado por escândalos. E como a excepção passou a norma, parece que ficámos anestesiados.

Dantes, o capital português resguardava-se mais. Havia algum recato. O processo contra-revolucionário amadurecia e o trabalho contra as conquistas de Abril começava a dar os seus frutos. O Partido Socialista implementava o seu “socialismo democrático” e o Partido Social-Democrata conduzia Portugal rumo à consigna “paz, pão, povo e liberdade”. Então, em nome do mercado livre, privatizou-se. E entre os mais violentos golpes desferidos, a comunicação social foi das primeiras a cair. Primeiro, jornais, revistas e rádios foram entregues de bandeja à iniciativa privada. Depois, os abutres conduziram as pequenas empresas à asfixia económica e construíram os seus impérios mediáticos.

Comecemos por baixo. Na base da cadeia alimentar, encontram-se os jornalistas estagiários. Por norma, recebem subsídio de alimentação e de transporte. Nada mais. Sujeitam-se a todo o tipo de trabalho. Nem sequer podem assinar as suas peças e tudo o que fazem pode ser alterado pelo editor. Há redacções que quase só funcionam com estagiários. São os mais vulneráveis. Querem um contrato de trabalho e, naturalmente, são facilmente manipuláveis. Depois, temos os jornalistas. A larga maioria tem um contrato precário. Ou seja, nunca sabem se estarão mais do que seis meses ou um ano naquela redacção. Estão altamente condicionados por esse facto. Há os que estão efectivos na empresa mas que se ousarem contestar as decisões editoriais serão “emprateleirados”. Ou seja, serão enviados para áreas onde não possam fazer grande mossa. Mais acima, estão os editores. Têm grande poder porque, efectivamente, são eles que aplicam as directrizes. Como qualquer capataz, podem ser objecto de grande ódio. Os directores estão lá longe, mais perto dos proprietários do órgão de comunicação social. Não se sujam.

É ali que se fabrica a realidade. Debaixo das nuvens de tabaco, em muitos casos, pesa a consciência dos jornalistas. Infelizmente, nem sempre. Pelo que se omitiu, pelo que se manipulou, pelo que se mentiu. E como, para a maioria das pessoas, o que passa nos media é o que realmente aconteceu, então, nada mais aconteceu. Tudo o resto vai para o cemitério de acontecimentos inverosímeis. Porque se tivesse acontecido teria passado no telejornal. Por isso, em 1971, Gil Scott-Heron cantava pelos bairros negros que a revolução não seria televisionada. Seria ao vivo. E o poder político e económico sabe disso. No outro dia, entre a lavagem de roupa suja, o director do semanário Sol - que tem estado a publicar escutas policiais que incriminam o primeiro-ministro português - afirmava que José Sócrates lhe havia dito que “tentar comprar jornalistas é um disparate, porque a melhor forma de controlar a imprensa é controlar os patrões”.

Esqueceu-se Sócrates de lhe dizer que ele próprio é a voz dos patrões. Ou pelo menos de alguns. Porque a imagem cândida de directores e editores escandalizados com as tentativas de controlo da comunicação social por parte do governo português são de quem perdeu qualquer vergonha. Com ou sem tentativas de controlo, os media sempre estiveram condicionados pelos que agora simulam espanto. Eles, em nomes dos patrões, ordenaram aos jornalistas a omissão, a manipulação e a mentira. Para esconder os reais problemas do país e as respostas válidas que se apresentam. Portanto, todos estes escândalos relacionados com a comunicação social não têm a ver com qualquer preocupação com a liberdade e a democracia. Têm antes a ver com jogos de bastidores, onde o Partido Socialista e o Partido Social-Democrata se degladeiam como representantes directos do capital.

Daí, há a necessidade de expandir os meios alternativos. É imperativo criar formas de romper com o bloqueio informativo. Há 79 anos, nascia o «Avante!», Orgão Central do Partido Comunista Português. Nas condições mais adversas, aquela organização conseguiu levar a voz dos sem voz a milhares de trabalhadores. Foi o jornal comunista que, no mundo, mais tempo conseguiu estar sendo publicado de forma clandestina. Hoje, a comunicação social chega mais longe e, por isso, os efeitos de estar controlada pelos que dominam o poder económico e político são muito mais graves. Como dizia, e bem, Malcolm X, “se não andarem prevenidos, os meios de comunicação leva-los-ão a odiar os oprimidos e a amar os opressores”.

em Diário Liberdade

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Debate sobre o País Basco

Ainda só vamos no segundo mês do ano e já foram detidos dezenas de cidadãos bascos pelas polícias espanhola e francesa. Os relatos de tortura sucedem-se. Ontem, foi a vez de Ibai Beobide que depois da detenção teve de ser assistido pelos médicos num hospital. Por cá, a comunicação social prefere analisar até à exaustão o caso dos explosivos encontrados numa casa perto de Óbidos. Em momento algum vão às raízes do conflito. Escondem dos portugueses as razões que conduziram à luta armada. E independentemente de estarmos de acordo ou em desacordo com ela, não se pode falar do País Basco sem se falar dos presos políticos, da tortura, dos exilados e deportados, dos desaparecidos e assassinados, dos partidos ilegalizados, das organizações proibidas, dos jornais e rádios encerrados pela polícia.

Por isso, é que divulgamos um interessante debate organizado pela Associação de Solidariedade com Euskal Herria e que focará estas questões.

Quarta-feira, 17 de Fevereiro, 19 Horas
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Clube Estefânia (Rua Alexandre Braga, 24 A, Lisboa)

Com: Rui Pereira, jornalista e autor de Euskadi, A guerra (des)conhecida dos bascos, Edurne Iriondo, advogada basca, e um ex-preso político basco.

Várias entidades e organizações, entre as quais o Relator da Comissão da ONU contra a Tortura e a Amnistia Internacional, têm denunciado, ao longo dos anos, as sucessivas denúncias de tortura por parte de presos políticos bascos. Simulação de afogamento, asfixia através de saco, choques eléctricos nos genitais, tortura do sono e espancamentos são alguns dos métodos utilizados. Entre os milhares de casos destacamos alguns. Em 2001, Unai Romano saía com a cara irreconhecível de um interrogatório policial. Em 2004, foi publicado o relato chocante de Amaia Urizar, que num interrogatório viu o seu corpo ser violado com uma pistola. Em 2008, após ser detido, Igor Portu dava entrada no Hospital de Donostia com uma perfuração num pulmão.

Um Estado que tortura, proíbe partidos políticos e manifestações, fecha jornais e rádios e ilegaliza organizações juvenis e populares e que mantém os seus detidos durante mais de uma semana sem qualquer acesso a advogados, familiares ou cuidados médicos não pode ser considerado um Estado de Direito.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Terroristas em Portugal

Terroristas são os que põem milhões no desemprego e se servem da política para chegar às administrações das empresas, são os que usam a precariedade como chantagem para manter os salários baixos quando os seus são milionários, são os que aumentam a idade de reforma quando acumulam reformas de milhões, são os que roubam milhares de portugueses aos seus familiares e amigos lançando-os na emigração, são os que chafurdam no lodo da corrupção para manietar o país aos interesses de uma minoria, são os que conseguem dormir à noite depois de mentir através dos jornais, rádios e televisões apelando à paz social e são os que conseguem esboçar um sorriso solidário quando atrás das costas escondem o cassetete.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Lixo

Acabo de ver um anúncio do Pingo Doce que se aproveita da destruição na região do Oeste provocada pelo mau tempo. Noutro, a Ana Bola diz que se temos saudades do escudo é porque ainda não vimos os preços do Pingo Doce.

Por sua vez, abro a página d'A Bola e leio que o Exército Irlandês de Libertação Nacional (INLA) abandonou a luta armada. Mas qual não é o meu espanto quando vejo que a fotografia que ilustra a notícia é a de um grupo de pessoas a fazer campanha pelo 'sim' ao Tratado de Lisboa.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

'Piratas' somalis com o povo hatiano

Quem leia a Rádio Moscovo com regularidade sabe que não temos quaisquer pruridos em atacar a legalidade burguesa e o colaboracionismo pacifista. Hoje, trazemos a notícia de um grupo que está na mira do capitalismo e que foi, há muito, demonizado pela imprensa de reverência. Depois de verem as suas costas devastadas pelas transnacionais pesqueiras, os vulgarmente chamados 'piratas' somalis passaram a atacar os navios estrangeiros. Com o afastamento da pesca abusiva, a população local conseguiu aceder aos seus próprios recursos naturais.

Denunciámos essa situação há vários meses. Hoje, os 'piratas' somalis dirigiram-se à imprensa mundial para afirmar que pretendem enviar para o povo haitiano parte do capturado aos navios capitalistas. Acrescentam ainda que "a ajuda humanitária ao Haiti não pode ser dirigida pelos Estados Unidos e países europeus, não têm autoridade moral para isso. São eles quem pirateiam a humanidade desde há muitos anos".

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Não à extradição dos dois independentistas bascos!

Porque somos contra a tortura, rejeitamos a extradição de Iratxe e Garikoitz, os dois independentistas bascos presos em Portugal.


Excerto do relato de Amaia Urizar, torturada pela Guardia Civil:

Então senti o metal entre as minhas pernas e um guarda civil sussurrou-me que não me mexesse. Eu chorava e comecei a gritar como uma louca, enquanto fazia forças para juntar as minhas pernas, mas não podia porque tinha os tornozelos atados aos pés da cadeira... Pôs-me a pistola entre as pernas e com a mão apalpou-me as cuecas; eu gritava-lhe que me deixasse em paz, mas ele começou-me a bater-me nos ouvidos com estalos e gritava-me que estivesse quieta ou que se ia escapar um tiro porque a pistola estava carregada. Ouvia as gargalhadas dos restantes dizendo coisas do estilo "vaca, puta, vais gostar..". Introduziu-me o canhão da pistola na vagina enquanto me gritava ao ouvido uma e outra vez "que te digo quando te foder, gora ETA?" Não podia parar de chorar e já não tinha forças para gritar. Começou-me a introduzir e a tirar a pistola de forma mais violenta, o que me provocava dor, enquanto que o que me sussurrava "sim, tu gostas, puta", "não vais ter um filho porque te vou dar dois tiros"...O seu odor metia-se dentro de mim, enojava-me, não sei se alguma vez me sairá este cheiro da cabeça...Estavam-se todos a rir (...) metia-me e tirava o canhão da pistola na vagina e sovava-me o peito de forma brusca, apertando-me o peito com as mãos. Notava dentro de mim o frio do metal, eles repetiam que a pistola estava carregada e que se disparassem a culpa seria minha...Não sei quanto tempo se prolongou a violação mas fiquei muda, estava como perdida; naquela habitação estavam a violar o meu corpo, mas por momentos consegui fugir dali em pensamentos, entre soluços, mas consegui fugir dali; dava-me conta da minha gente, estava com eles e elas, estava protegida... De repente sacou o canhão bruscamente de dentro de mim, enquanto lhes dizia (...) "temos de repetir, que ela gostou"... Voltei à realidade, encontrava-me dorida... De novo mostraram-me as fotografias, de uma em uma, e diziam-me a respeito de cada pessoa o que lhes tinha dito (de que local eram...) mais o que eles lhes queriam imputar; diziam-me que tinha de aprender tudo de memória para repetir quando tivesse de declarar... Repetiram-no muitas vezes e eu tinha que o repetir tudo uma e outra vez e se confundia começavam a bater-me e dar-me estaladas, e a ameaçar-me dizendo que me iam violar de novo".

domingo, 10 de janeiro de 2010

Paredes que falam

Este trabalho encontra-se na Pontinha e foi produzido pelo Hel, a quem enviamos um abraço. Mais um artista que se põe do nosso lado da barricada. As ruas das nossas cidades não devem ficar em silêncio perante a censura da imprensa capitalista. Somos e seremos comunistas. Somos e seremos marxistas-leninistas.