quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Rumo a Cuba!

Depois da Venezuela, partimos para outras paragens. A partir de hoje, quarta-feira, a Rádio Moscovo passa a emitir o seu sinal combativo a partir de Cuba, território livre da América. Tentaremos, dentro do possivel, dar conta da realidade que vive o heróico povo cubano quando estamos a uma semana do 50º aniversário da Revoluçao. Há 50 anos, Fidel Castro e centenas de guerrilheiros lançavam a ofensiva final que derrotaria o fascismo e o imperialismo. Sem se render, o povo cubano soube construir uma pátria socialista e, apesar de ser um país pobre em recursos, soube levar a sua solidariedade a outros povos do mundo.

Viva Cuba socialista!

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

FARC lançam novo endereço na internet

Finalmente, depois das duas sabotagens contra os sites das Forças Armadas Revolucionarias da Colombia - Exército do Povo [FARC-EP], a organizaçao revolucionaria colombiana lançou o seu novo espaço digital com um novo endereço. Aqui fica a dica para que visitem http://www.farc-ejercitodelpueblo.org

Viva o povo colombiano!

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Sapatada no Império

Muntadar al-Zaidi é o nome de que todos falam. Aqui é um herói. No quarto e último programa de rádio em que participei, fizemos um apelo à libertaçao imediata do jornalista iraquiano que lançou os dois sapatos à cabeça de George W. Bush. Muntadar al-Zaidi, como jornalista e patriota, nao fez mais do que reagir contra aquele que dizimou milhares de iraquianos.
Viva Muntadar al-Zaidi!
Viva a Resistência Iraquiana!

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Uh! Ah! Feliz Navidad!


"Tu corona no me calla", de Dame Pa Matala, um dos grupos venezuelanos mais conhecidos.

É natal. Mas por aqui vivo-o de uma forma diferente. Habituado ao frio europeu, nao consigo associar o calor a esta época do ano. Contudo, os venezuelanos festejam o natal com todos os costumes a que estamos habituados. Levantam-se as árvores de natal, os presépios e os pais natal. Mas nos últimos anos tem sido um pouco diferente. Com a vitória de Hugo Chávez e com processo bolivariano, lançaram-se os mercados alimentares a preços populares que por estes dias se dedicam a vender, para além da comida normal, pernas de porco - comida tradicional de natal - a baixos preços. No outro dia, decidi acompanhar um amigo ao mercado de Chacao, no centro da capital venezuelana, e havia uma fila de vários milhares de pessoas. Ali, também se rompe a discriminaçao a que a oligarquia condenou o povo venezuelano. Já nao é só nas mesas da burguesia que se pode encontrar perna de porco. Por isso, o lema natalício é "Uh! Ah! Feliz Navidad!".

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Uh! Ah! Chávez no se va!


Aí está. Começou a recolha de assinaturas para a petiçao na Assembleia Nacional venezuelana de um referendo que modifique a norma da actual Constituiçao que proíbe a reeleiçao presidencial por mais do que uma vez. Nas ruas de milhares de cidades as pessoas fazem fila para subscrever os abaixo-assinados promovidos pelos vários partidos da Aliança Patriótica, entre os quais o Partido Comunista da Venezuela. A campanha tem o nome "Uh! Ah! Chávez no se va!".

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Adelante, Comandante!


Esta é definitivamente a faixa do momento. Tanto que o principal canal do Estado produziu um video que se repete sucessivamente. As pessoas cantam-na na rua e todos sabem a letra do principio ao fim.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Eleiçoes com sabor amargo

23 de Enero, bastião da revolução bolivariana

Pouco depois, às três da manhã, começava a mobilização para as eleições regionais. No pátio da Casa Freddy Parra, sede da CSB, vários companheiros engatilharam dezenas de foguetes. Às três em ponto, os céus de Caracas explodiam com milhares de rebentamentos. É assim que os bolivarianos despertam os eleitores que começam a votar a partir das seis da manhã. Às quatro, nova rajada de foguetes e desta vez acompanhada por trombetas. Com amplificadores fixos ou com camionetas percorrendo as ruas, soava o toque militar para acordar. Depois, o hino das FARC, do ELN e da Venezuela.

Às cinco, uma hora antes da abertura das mesas, desloquei-me à biblioteca do sector La Cañada, no 23 de Enero. Estava uma dezena de pessoas. Entrevistei algumas delas que me explicaram a necessidade de votar cedo para dar tempo a outros. Uma estação de televisão de uma das zonas mais pobres de Caracas apareceu com todos os seus repórteres vestidos com uniforme militar e com lenços ao pescoço com estrelas vermelhas. Num canto, um homem gritava que estas eleições eram importantes para o país e para o mundo. "Porque este processo vai estender-se por toda a América Latina!". Junto a um muro, havia um jovem cuja cabeça cambaleava ao ritmo do sono. A mãe contou-me que o tinha ido buscar a casa para votar bem cedo. E a pouco e pouco a fila foi crescendo pela Praça Manuel Marulanda. Poucos minutos antes da abertura dos portões pelos militares que os guardavam estavam cerca de 60 pessoas à espera para votar.

Depois segui para outro ponto de votação. Passando pelo mural de Emiliano Zapata, encontrei uma escola primária com uma fila com cerca de cem pessoas. Às seis, quando abriram os portões, uma nova salva de foguetes. Entretanto, ao longo de todo o dia as ruas encheram-se de gente. Às 12 horas, em frente ao Liceu Fajardo, no 23 de Enero, assisti à chegada de Hugo Chávez. Centenas de pessoas esperavam-no ao grito de "Chávez amigo, o povo está contigo". Em todo o país houve uma participação pouco usual. Normalmente, não passa dos 40 por cento. Desta vez, ultrapassou os 65 por cento. Não admira, pois, que tenha havido centros de votação que fecharam cinco horas depois das quatro da tarde, hora oficial de encerramento das urnas. Algo que não agradou à oposição que queria impedir o que está legalmente estabelecido. Os locais, em que às quatro da tarde haja filas para votar, só podem encerrar quando não houver qualquer eleitor.

Mas o sorriso dos pivots do telejornal do canal privado Globovisión não enganavam. Não vinham aí boas notícias e a paciência ia acirrando-se. Aqui, as sondagens à boca das urnas não são permitidas e só se podem difundir resultados depois do comunicado oficial da Comissão Nacional de Eleições (CNE). Por volta das 11 horas, uma representante leu-o e confirmou o que desconfiava. O Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) e os seus aliados perderam a região de Caracas (Distrito Capital), perderam Miranda e não conseguiram ganhar Zulia. Ou seja, os três Estados mais populados. Contudo, nenhuma análise pode esconder que a maioria absoluta das regiões continuará a ser gerida por governadores bolivarianos. A oposição ganhou seis Estados – Distrito Capital, Miranda, Carabobo, Nova Esparta, Zulia e Tachira – contra os 16 ganhos pelos candidatos apoiados por Hugo Chávez. Em Falcón, onde havia estado um fim-de-semana em Coro, ganhou Stella Lugo, a esposa do actual governador e na região de Caracas o único municipio ganho pelo PSUV foi Libertador, onde vivo e onde se encontra também o bairro 23 de Enero. Por curiosidade, houve mesas neste bastião do processo em que os candidatos bolivarianos tiveram mais de 90 por cento. Numa delas, Aristobulo, candidato do PSUV a governador derrotado, teve 1670 votos contra 8 do opositor vitorioso Ledezma.

Ainda assim, foram resultados amargos. Quando a representante da CNE acabava de ler o comunicado começavam a rebentar foguetes por toda a zona baixa da capital. Os ricos festejavam a vitória dos seus candidatos. Aqui, no dia seguinte, os donos dos supermercados sorriam de alivio. Mais amargo foi quando soube da conquista de Miranda por Radonski. Em 2002, em pleno golpe de Estado, foi quem dirigiu os opositores em fúria no assalto à Embaixada de Cuba. Depois de 160 dias preso, libertaram-no. E ainda dizem que a Venezuela é uma ditadura...

Felizmente, há sempre algo que nos anima. O taxista que nos levou a casa bem nos avisou quando entrámos no carro. "Atenção que sou louco", disse-nos. Depois, explicou-nos quem foi Bolívar, Miranda e Sucre. Cantou-nos Ali Primera e deixou a pergunta "como seria a Venezuela, um país tão rico se tivesse um presidente como Fidel Castro que conseguiu fazer tanto com um país tão pobre?"

No próximo fim-de-semana, vou estar agarrado à internet. Não posso estar na Praça de Touros mas estarei a ver e a ouvir, em directo, o Congresso do Partido. Levantarei o punho quando o levantarem e cantarei quando cantarem. Por Abril, pelo Socialismo, um Partido mais forte!

A luta é o único caminho!

sábado, 22 de novembro de 2008

Ska-P em Caracas

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Caracas, a poucos dias das eleiçoes

Em Bellas Artes, ha uma avenida com varios quilometros. Num dos seus muros, a historia da resistencia do povo venezuelano estende-se sem fim. Grupos de jovens dedicaram-se a levantar com spray a memoria historica do seu pais desde o combate ao Imperio Espanhol ao processo bolivariano. Mas esta nao é uma situaçao excepcional. Em toda Caracas, as paredes falam do capitalismo, do imperialismo da revoluçao e do socialismo. Para além do bairro 23 de Enero, onde se encontram os murais mais combativos e internacionalistas, o centro da capital venezuelana esta rasgado pela arte de rua. Na parede da Embaixada da Bolivia, aparecem indigenas donos da sua propria terra. Num viaduto, surge Hugo Chavez a apontar para o céu. Numa das entradas do metro da Ciudad Universitaria, Marx, Engels, Lenine, Bolivar, Fidel, Che, Mariategui, Sandino, Zapata, Estaline e centenas de outros revolucionarios apertam-se para caber na parede. Junto à auto-estrada, surge Guaicaipuro, um dos herois indigenas, e mesmo na baixa da cidade onde se concentra a oligarquia e as lojas das principais multinacionais de roupa e comida nao ha espaço desperdiçado pelos artistas do processo. Em Sabana Grande, o presidente venezuelano ergue o punho e em Chacao, bastiao da oposiçao, as paredes lembram combatentes das FARC e clamam solidariedade com a Bolivia. Uma cidade em que as paredes nao respeitam a indiferença das metropoles cinzentas.

E é nesta cidade agitada que tenho a alegria de viver ha dois meses. Na quinta-feira, visitei a Feira Internacional do Livro da Venezuela e nao me decepcionei. Geralmente, quando vou à Feira do Livro de Lisboa nao tenho dinheiro para comprar nada e preciso de algum tempo para descobrir livros que queira mesmo comprar. Neste caso, havia demasiados livros interessantes e dou conta que uso a expressao "demasiados" propria de quem esta habituado a viver numa sociedade que promove o consumismo de produtos vazios, que promove a ignorancia e a indiferença. Aqui, os livros eram acessiveis e com uma qualidade assustadora. Na entrada, as habituais bancas com t-shirts do Che, de Bolivar, de Victor Jara, de Carlos Ilitch (mais conhecido como Chacal), de Raul Reyes, de Fidel e, claro, de Hugo Chavez. Havia cerca de cem stands organizados por editoras e espaços do Estado. Também havia stands com videos e discos piratas - imaginem-no na Feira de Lisboa. Entre as que mais me agradaram estava a editora basca Txalaparta, onde comprei a traduçao espanhola de Até amanha, Camaradas para oferecer a um amigo venezuelano, e a recente editora cubana Ocean Press. Durante a Feira, também houve um calendario de debates com qualidade promovendo a discussao sobre a literatura e a transformaçao social.

Nesse dia, seguimos para o bairro 23 de Enero. Havia um concerto em homenagem ao musico cubano Benny Moré que ia ser interpretado pela Orquestra Nacional. Antes do espectaculo, uma dirigente da Coordenadora Simon Bolivar agradeceu a presença dos musicos numa favela que nunca tivera direito a desfrutar da qualidade da Orquestra Nacional e a banda abriu as hostilidades. De imediato, como se soubessem dançar desde que nasceram, centenas de pessoas começaram a agitar-se ao som do mambo. E entre a confusao, membros do PSUV distribuiam propaganda eleitoral. Contentes com o sucesso da iniciativa, alguns dirigentes da Coordenadora levaram-nos pelo bairro até uma associaçao recreativa. Compreende-se a dificuldade que tinham os militares e a policia para perseguir os guerrilheiros pelos becos, ruelas e escadas apertadas e ingremes. Como nos contaram, normalmente, ficavam pelo caminho. Na associaçao recreativa, ha um campo interior de terra batida. No centro, dezenas de populares jogam petanca. Ca fora, joga-se domino e cartas nas mesas forradas. Numa das paredes, um mural diz que sem desporto nao ha patria.

Debaixo das arcadas do Bloco 4, Gustavo viu um policia à civil puxar da pistola e começou a correr. Um dos seus amigos, tira o boné e mostra-nos uma cicatriz que atravessa toda a sua careca. Nesse dia, estava ao seu lado e fora alcançado pela coronha da arma. Apesar disso, conseguiu escapar-se. Tenta explicar a historia mas nao consegue porque a cerveja polar ja fez o seu trabalho. Mas Gustavo ajuda e conta a vez em que decidiram recordar Che Guevara no 23 de Enero. A meia-noite do dia 8 de Outubro, como se repete até hoje, todos os blocos lançaram fogo-de-artifico. Contudo, Ramon apontou o seu foguete à janela da namorada de um dos chefes da policia mais brutos daquele tempo. Entrou pela janela e a rapariga saiu porta fora quase nua aos gritos.

Agora, nao ha tiros. Durante anos, os combatentes, e agora a Coordenadora, lutaram contra os traficantes de droga e o ambiente por aqui é calmo. Como numa aldeia em que todos se conhecem. Uma aldeia com dezenas de blocos, cada um com mais de 150 apartamentos. Contudo, falta o Bloco 8. Gustavo explica-nos que quando houve um terramoto na Colombia o governo venezuelano da altura ofereceu o Bloco 8. Ha uma parte do 23 de Enero em Bogota. E acrescenta que nesse Bloco 8 viveram grandes revolucionarios colombianos, entre os quais um dirigente historico do Exercito de Libertaçao Nacional.

No sabado, foi o concerto da Juventude do PSUV. O cartaz atraiu mais de 20 mil jovens que foram para ver The Wailers, Molotov e, principalmente, Ska-P. Quando a banda espanhola subiu ao palco foi a loucura. No ultimo disco, lançaram uma cançao dedicada ao processo bolivariano e a Hugo Chavez que passou vezes sem conta nas radios venezuelanas. A expectativa era muita e os jovens amontoavam-se em cima das paragens de autocarro, das arvores, dos muros, de camionetas e de tudo o que lhes possibilitasse ver melhor o concerto. Entre a massa compacta que gritava "Alerta! Alerta! Alerta que camina la espada de Bolivar por America Latina!", militantes da Juventude Comunista da Venezuela levantavam uma bandeira gigante com a foice e o martelo. Foi ali que conheci Fidel. "Fidel?", perguntei. "Sim, Fidel Castro", respondeu-me. Quando olhei com desconfiança tirou o bilhete de identidade do bolso e comprovou-me o nome, "Fidel Castro". E os Ska-P nao decepcionaram os jovens venezelanos que conheciam todas as letras. O concerto terminou com o rebentamento de foguetes e com milhares de jovens a cantar "orgulloso de estar entre el proletariado, este es mi sitio, esta es mi gente..."

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Sobre a Colômbia

"Portugal reconhece o direito dos povos à autodeterminação e independência e ao desenvolvimento, bem como o direito à insurreição contra todas as formas de opressão."

in Constituição da Republica Portuguesa

Como se constroem as vitórias militares na Colômbia

Saiu de casa. Tinha recebido um telefonema para uma entrevista de trabalho e, provavelmente, não havia tempo a perder. Quem vive nos subúrbios de Bogotá conhece bem a realidade da miséria e do desemprego e sabe, acima de tudo, que não se pode desperdiçar a minima oportunidade de trazer algum dinheiro para casa. Por isso, é provável que tivesse pressa quando disse à mãe que lhe guardasse a refeição, uma vez que regressaria daí a pouco. Mas não regressou.

Como muitos outros jovens de bairros pobres, foi arrastado para uma macabra cilada. Membros do exército colombiano, à paisana, prometeram-lhes trabalho. Depois mataram-nos e vestiram-nos com fardas de várias organizações armadas que operam na Colômbia. Foi, dessa forma, que o Estado colombiano, através das chefias militares, forjou vitórias sobre as FARC, sobre o ELN e até sobre paramilitares.

A recente descoberta de valas comuns, junto à fronteira com a Venezuela, com dezenas de corpos de jovens desaparecidos em bairros da periferia de Bogotá fez explodir o escândalo nas primeiras páginas dos jornais. Para além das afirmações dos familiares que indicam que em nenhum caso houve qualquer dado que pudesse prever o desaparecimento voluntário da, até agora, mais de meia centena de jovens e que a maioria havia sido chamada para entrevistas de trabalho, as autópsias indicam que foram baleados imediatamente depois de terem desaparecido de casa. Ou seja, pouco tempo para que pudessem ter caído em combate.

O caso é tão arrepiante que o procurador-geral colombiano, Mario Iguarán, afirmou ao El Nuevo Herald que se trataria de um horroroso e tenebroso fenómeno de execuções extra-judiciais praticados por membros do Exército da Colômbia. Por sua vez, o ministro colombiano da Defesa, Juan Manuel Santos, perito em defender as sujas conquistas das forças de segurança e em denegrir as organizações insurgentes, foi obrigado a admitir a possibilidade de que tal seja verdade e mandou abrir uma “investigação”.

Nada que seja estranho às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – Exército do Povo (FARC-EP) e a dezenas de organizações humanitárias que, desde sempre, denunciaram e denunciam o recurso a este método para criar a ideia de que se está a derrotar a resistência armada do povo colombiano. Pouco tempo depois da fundação das FARC-EP, Manuel Marulanda explicava num livro de Jacobo Arenas - outro dirigente histórico da organização – sobre a perigosidade que implicava para os seus combatentes e simpatizantes de se estar isolado fora dos cercos militares. “Não só são globalmente assassinados, mas depois de os terem morto vestem-lhes um equipamento de combate fotografando-os, fotografias essas que são publicadas na imprensa para demonstrar o «enorme poder» do Exército”, explicava. E apesar de o escândalo presente se referir a jovens pobres que não tinham qualquer relação com a luta armada, percebe-se que a prática da mentira e da manipulação por parte do Estado colombiano não mudou grande coisa, antes se aperfeiçoou e apurou o seu carácter terrorista. Segundo o jornal Clarín, o Exército colombiano abateu-os para cumprir com a quota periódica de cadáveres de guerrilheiros que se deve apresentar...

Editar: cortar, copiar, colar, manipular...

Com o Estado colombiano a opção 'editar' ganhou uma nova função. Para além de 'cortar', 'copiar' e 'colar', surge a função 'manipular'. Depois do bombardeamento sobre um acampamento guerrilheiro, em solo equatoriano, que levou à morte de combatentes, entre os quais Raul Reyes, e de estudantes que o visitavam, surgiram os célebres portáteis do responsável pelas relações internacionais das FARC-EP. O pretexto ideal para lançar uma caça às bruxas, a nível interno e externo, revelou-se como um excelente método de manipulação. E apesar de várias organizações, entre as quais a Interpol, indicarem que houve alteração de dados, a comunicação social subserviente repetiu, com agrado e até à exaustão, o que lhe dizia o governo colombiano sobre os conteúdos. Foi assim que a polícia espanhola deteve Maria Garcia Albert, activista espanhola da OSPAAL, organização de solidariedade internacionalista a par de outras informações que serviram, acima de tudo, para fomentar o medo entre os cidadãos do Estado espanhol. Por exemplo, os jornais espanhóis reagiram alarmados com o facto de o conteúdo dos portáteis apresentar várias cidades espanholas como objectivos guerrilheiros. Afinal, havia localidades colombianas com o mesmo nome.

Agora, repetem a mesma estratégia com o suposto portátil de Iván Ríos, dirigente das FARC assassinado este ano. Nos últimos dias, certos deputados colombianos, alarmados com a divulgação de videos de comicios universitários com a participação de activistas do Movimento Bolivariano Juvenil (MBJ), exigiram medidas de segurança para proteger os estudantes da organização guerrilheira. Uma deputada assegurava a um canal televisivo que os membros do MJB utilizavam passa-montanhas para assustar e condicionar os estudantes mas nada disse sobre o facto de na Colômbia se puder morrer por, de cara destapada, se defender ideias alternativas às da oligarquia. Preocupada, afirmava que as FARC têm muita força nas universidades colombianas.

Extraodinariamente, ou não, uma agência de notícias revelava a descoberta de dados no portátil de Iván Rios que sustentavam a relação entre o MBJ e a Federação Estudantil Universitária (FEU) e a Federação Estudantil Secundária (FES). Naturalmente, o propósito não é outro que o de criminalizar a actividade destes dois movimentos estudantis. A propósito, e oportunamente, a deputada que promoveu as últimas negociações com as FARC-EP, Piedad Córdoba, em declarações à Colprensa, acusou o governo de querer capturar a cerca de 500 estudantes “sob o argumento de que são terroristas e que fazem parte das FARC”. Acrescentou ainda que se trata de uma “estratégia para gerar um ambiente de opinião contra o movimento estudantil universitário”.

Há um receio, que se compreende, por parte do Estado colombiano. Afinal, não é uma tarefa dificil encontrar-se videos na internet que retratam a actividade do Movimento Bolivariano Juvenil dentro das universidades. Podemos assistir a comicios e a manifestações onde se percebe a influência real e o apoio que recebe não só o MBJ mas também as FARC-EP por parte de um número significativo de estudantes. Isso não pode legitimar, claro, a criminalização da FEU e da FES mas demonstra bem que a organização guerrilheira está longe de ser derrotada, como afirmaram durante semanas os papagaios do Estado fascista colombiano.

Com Bolívar, com Manuel, com o povo, ao poder!

Era ainda um jovem comandante aquele Manuel que, a pedido de Jacobo Arenas, escreveu sobre “algumas impressões sobre a experiência adquirida aquando das operações realizadas pelo Exército em Marquetália”. O camponês, filho de camponeses, que forjava agora, com outros combatentes, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, deixava o seu testemunho sobre uma nova realidade que nunca deixou de existir desde então.

Sobre a guerra psicológica, Manuel Marulanda, explicou que “os esforços dispendidos para enfraquecer e corromper a consciência dos hesitantes, é a oferta de grandes somas de dinheiro pelo assassinato dos principais dirigentes do movimento”. Infelizmente, este ano, produziram-se traições que correspondem a estes esforços por parte do Estado colombiano e que levaram à morte de valorosos revolucionários. Depois, Marulanda acrescenta que “todos os dias, na imprensa e pela rádio, por meio de cartazes ou panfletos são lançadas infames calúnias, acusam-se os dirigentes de todos os crimes cometidos precisamente pelas forças armadas governamentais e publicam-se fotografias de horriveis atrocidades atribuidas aos dirigentes, com o fito de semear a dúvida entre os hesitantes e mesmo entre aqueles que se mostram mais firmes”. O histórico dirigente das FARC descreve dessa forma uma prática que se viria a repetir até aos dias de hoje com o massacre sistemático de camponeses e execução de atentados bombistas contra civis realizados pelo exército e paramilitares e que depois se atribui à organização guerrilheira para a denegrir e descredibilizar perante o povo.

E quando algumas personalidades insuspeitas, que se se afirmam de esquerda, se lançam no ataque às FARC, abrindo caminho às teses imperialistas, esquecem-se da experiência trágica que representou a União Patriótica. Milhares de activistas, candidatos e eleitos foram assassinados numa demonstração bárbara e atroz de que na Colômbia a burguesia não permite a existência de alternativas ao actual sistema político e económico mesmo que pela via pacífica. E, actualmente, mesmo engolindo, sem mastigar, os epítetos fabricados no Pentágono, como o de “narco-terroristas”, basta percorrermos, nos dias de hoje, as páginas dos jornais para encontrarmos as mãos do Estado colombiano sujas de sangue de sindicalistas e de activistas políticos. Uma realidade que lembra as palavras de Josué de Castro: “Tendo recebido um prémio internacional da paz, penso que, infelizmente, não há outra solução que a violência para a América Latina”.

Este ano, vários comandantes foram mortos. Um deles, já aqui referido, Iván Ríos, foi assassinado por um combatente das FARC que lhe cortou a mão para receber a recompensa prometida pelo Estado colombiano. Já naquele tempo, durante o período de Marquetália, Manuel Marulanda afirmava que “a propaganda oficial oferece aos guerrilheiros toda a espécie de garantias e promete-lhes em troca da sua rendição, prémios em dinheiro e outras vantagens, depois vêm as fortunas. Já não é necessária a apresentação dos prisioneiros; apenas as suas cabeças são levadas ao posto militar, para identificação”.

Ou seja, a realidade não mudou assim tanto desde que, em 1964, pouco mais de 30 homens e mulheres se levantaram em armas nas montanhas da Colômbia. Nessa altura, confinados a uma pequena região, conseguiram vencer um cerco de milhares de soldados apoiados pelos Estados Unidos. Desde então, as FARC-EP cresceram. A propósito do desenvolvimento táctico da organização guerrilheira, afirmou Manuel Marulanda: “Antes diziamos: se nos tiram da margem do rio passamos para o outro lado do rio; se nos tiram da montanha escapamos para outra montanha; se nos tiram de uma região, atravessamos o rio, atravessamos a montanha e procuramos outra região. Mas o princípio foi mudando e, então, já diziamos: se nos tiram da margem do rio, estaremos à espera na outra margem do rio; se nos tiram da montanha, estaremos à espera na outra montanha; se nos tiram de uma região, na outra região os estaremos esperando. Então, o princípio foi ficando mais claro, até concretizar-se numa ideia precisa: Já não só os estaremos esperando na outra margem do rio; já não só os estaremos esperando na outra montanha; já não só os estaremos esperando na outra região. Agora, voltaremos a busca-los à margem do rio donde um dia nos tiraram, voltaremos a busca-los à montanha donde um dia nos fizeram fugir e voltaremos a busca-los à região donde um dia nos fizeram correr”.

É esta a organização que se alargou a todas as regiões do país. E o Exército colombiano foi obrigado a acompanhar o Exército do Povo. De tal forma que a sua estrutura foi modificada e reconstruída em função das diversas frentes das FARC-EP. Do Plano Laso ao Plano Colômbia, está presente a derrota da estratégia imperialista para fazer vergar a luta do povo colombiano por uma Colômbia de justiça, paz e liberdade. Entre os povos da América Latina, precisamente quando renasce a esperança, cresce o prestígio da epopeia fariana. Não deixa de ser curioso que foi precisamente na terra de Simón Bolívar que se deu a homenagem popular a Manuel Marulanda Vélez. A comunidade do Bairro 23 de Enero, em Caracas, quis construir com as suas próprias mãos e fazer, de forma voluntária, aquilo que o povo colombiano não pode fazer, a Praça Manuel Marulanda, na qual está presente um busto do comandante histórico das FARC-EP. Uma homenagem venezuelana que logo se transformou em homenagem internacionalista, uma vez que em vários países se trata de um acto ilegal à luz das suas 'democracias'. Manuel Marulanda não será esquecido e a data da sua morte, 26 de Março, foi estabelecido por muitas organizações como o Dia do direito universal à insurreição armada. Um direito que, para todos os efeitos, conquistámos com a Revolução de Abril e que está consagrada na Constituição da República Portuguesa.

B.C.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Centenas recordam Manuel Marulanda

Centenas de pessoas assistiram na passada sexta-feira, numa das zonas mais pobres de Caracas, à inauguração de uma praça e de uma estátua dedicadas a Manuel Marulanda, quando passam seis meses do seu falecimento.

A praça foi construída, durante semanas e de forma voluntária, pela população do emblemático bairro 23 de Enero, um dos bastiões do actual processo político, que quis homenagear o histórico dirigente das FARC. Para além do espaço, foi levantado um busto de Marulanda, obra de um artista cubano, na presença de diversas organizações, movimentos e personalidades, entre os quais o Partido Comunista da Venezuela.

Num comunicado, em nome do secretariado da organização guerrilheira, Alfonso Cano agradeceu a homenagem sublinhando que Manuel Marulanda, que combateu durante 60 anos, viveu "os seus últimos seis em plenitude, enfrentando a maior ofensiva militar contra a insurgência desenvolvida na América Latina: cerca de 400 mil efectivos das forças de segurança, com um plano elaborado na América do Norte, financiado, dotado e controlado por Washington e dirigidos no terreno por oficiais norte-americanos".

Na mensagem, lida por um membro da Coordenadora Continental Bolivariana (CCB), acrescentou ainda que "a sua decisão de alcançar transformações sociais e políticas pelas vias menos dolorosas foi permanente. Consciente de que nas guerras os mais afectados são os sectores populares, procurou sem descanso os caminhos da reconciliação da família colombiana através de acordos e propiciou persistentemente o diálogo com os distintos governos que, sem excepção, pretenderam por essa via submeter a vontade de luta a troco de migalhas".

Um dia antes desta homenagem, a CCB promoveu a apresentação do livro "Manuel Marulanda Vélez, o herói insurgente da Colômbia de Bolívar" junto das centenas de pessoas que enchiam um dos salões do Quartel San Carlos, em Caracas.

Perante as homenagens e o apoio popular ao histórico dirigente guerrilheiro, o Estado colombiano apresentou uma nota de protesto junto das autoridades venezuelanas. Como resposta, um dos representantes da Coordenadora Simón Bolívar, organização comunitária do bairro 23 de Enero, apelou a que todos enviassem uma nota de protesto junto das autoridades colombianas pela presença de narcotraficantes nas altas esferas de Bogotá.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Retratos de Caracas


Com Bolivar, com Manuel, com o povo, ao poder!

Uma parte importante das noticias que chegam a Portugal têm a ver com a criminalidade violenta e, normalmente, aquela que afecta os emigrantes portugueses. Na verdade, Caracas situa-se entre as primeiras cidades latino-americanas no que diz respeito à violencia e isso também afecta a visão que temos da realidade social venezuelana. E embora seja uma verdade inquestionavel parece-me que a abordagem que desde o governo às associaçoes comunitarias se faz sobre o problema é o mais correcto. A criminalidade radica em problemas socio-economicos e é nesse sentido que deve ser combatida. Por isso, tive a oportunidade de conhecer varios dirigentes do associativismo dos 'barrios' - recordar que na Venezuela 'barrio' significa favela - que me falaram na importancia de envolver e ocupar os jovens nas tarefas e actividades comunitarias. Para além disso, surgiu uma missao bolivariana com o objectivo de levar o ensino basico à populaçao. Ou seja, depois do sucesso obtido pela campanha que erradicou o analfabetismo na Venezuela, o governo e os movimentos sociais lançaram-se no desafio de elevar o conhecimento de toda esta gente e no de combater um dos maiores amigos do capitalismo, a ignorancia dos povos.

Uma das organizaçoes que melhor espelha a vontade de estimular a participaçao de jovens e da populaçao é a Coordenadora Simon Bolivar (CSB). Situada no 'barrio' 23 de Enero, envolve toda a comunidade em torno de temas politicos e sociais. Para além de uma radio que emite 24 horas por dia e que é dinamizada, principalmente, por jovens, a CSB preocupa-se com temas tao distintos - ou nao - como sao as condiçoes do bairro e a luta dos povos contra a opressao. Nao admira, pois, que tenha sido aqui que homens e mulheres, principalmente jovens, arregaçaram mangas e ergueram, de forma voluntaria, uma bela praça dedicada a Manuel Marulanda, historico dirigente das FARC-EP. Dai o espanto de quem foi tantas vezes advertido, até pelos mais insuspeitos, da perigosidade deste 'barrio'. Na verdade, em nenhum outro lugar de Caracas me senti tão em casa. Em momento algum me senti inseguro e deixei-me descobrir um dos baluartes do processo politico bolivariano. Ali, no 23 de Enero, ja escorreu varias vezes o sangue de trabalhadores em luta contra a opressão. E, como no passado, os moradores parecem manter a mesma combatividade e o desejo de lutar por uma sociedade mais justa.

Sinceramente, não esperava o que vi. Talvez porque, pessoalmente, não considere o actual processo politico por que passa a Venezuela uma revolução. Efectivamente, o povo venezuelano é protagonista de transformações importantes de caracter progressista mas com contradições que conduzem a uma analise dificil da actual situação na Venezuela. Mas ali senti-me em territorio livre e, efectivamente, costuma dizer-se que o 23 de Enero é "territorio livre da América". Quando a cerimonia de inauguração da Praça Manuel Marulanda começou, centenas de pessoas enchiam o espaço mas dos prédios velhos e sujos outras tantas assomavam à janela para assistir à homenagem ao historico guerrilheiro colombiano. No telhado do edificio térreo que ladeia a nova praça, dezenas de jovens, activistas da Coordenadora Simon Bolivar, visivelmente orgulhosos, lançavam foguetes e gritavam de forma efusiva. Aquele, foi um dia de festa para uma comunidade que quis ligar, de forma indelével, o nome de Manuel Marulanda à sua propria historia. O 'barrio' 23 de Enero, onde, através de murais, as paredes falam de Che Guevara, de Simon Bolivar, de Augusto César Sandino, de Emiliano Zapata, de Iasser Arafat, de Ali Primera, de Mariatégui e de tantos outros, parece não se importar com os epitetos que dedicam às FARC ou com os protestos formais que o Estado colombiano apresentou pela homenagem popular a um dos herois dos povos da América Latina. Também não se pareceu importar com a ausencia de representantes do Estado venezuelano. No 23 de Enero, Manuel Marulanda, o campones, filho de camponeses, ressurgiu entre os seus.

Outra questão que chega a Portugal, para além da criminalidade, mas muitas vezes também conectada com ela, tem a ver com a condiçao dos emigrantes portugueses. Na zona onde vivo, e parece-me que é assim na maioria dos sitios, os portugueses dominam o negocio das padarias e dos mini-mercados. Todos os que conheci e que estao relacionados com estas areas se assumiram como anti-chavistas. Os unicos não madeirenses e, curiosamente, os unicos que nao estao ligados a estas actividades que conheci são os que estao com o actual processo. Um deles é dono de uma lavandaria e reconheci-o de imediato porque tinha uma camisola do Benfica - no dia do derby com o Sporting - e apresentou-me o portugues mais interessante que conheci deste lado do oceano. O senhor Sérgio tem uma livraria e é, claramente, um intelectual. Escreve para varias revistas e publicaçoes progressistas. Parece-me uma pessoa humilde e um pouco timida e a maioria da sua historia contou-ma um amigo seu, empresario, que, estranhamente, é proximo das suas ideias e que também defende o actual processo politico. O senhor Sérgio formou-se em Filosofia e esteve ligado ao MUD. Fugiu de Portugal, perseguido pela PIDE, e exilou-se na Venezuela. Esteve ligado à preparação do sequestro do paquete Santa Maria - foi quem forneceu as armas - mas por divergencias com Henrique Galvao retirou-se da operação. Mas esta é uma excepção. Do lado oposto, entrei no outro dia numa frutaria de um madeirense. Perguntei-lhe porque não tinha arroz e respondeu-me que não o vendia porque dava prejuizo, uma vez que o governo havia bloqueado os preços do alimento. Acabou a conversa a insultar Hugo Chavez e disse-me, passando o polegar pela garganta, que os comunistas deviam ser todos mortos.

Por estes dias, também contactei com uma realidade que nos é muito querida quando, em Portugal, discutimos a Venezuela. A presença de médicos cubanos em Caracas é visivel e traz nao so a saude mas também a solidariedade internacionalista aos 'barrios'. Tive de acompanhar uma pessoa ao centro médico da Universidade Bolivariana da Venezuela que é gerido pela missão 'barrio adentro'. Ali, encontramos uma médica cubana que ja estivera no Haiti. Marcou analises e radiografias e falou-nos um pouco da sua experiencia pessoal. Naquele, como noutros consultorios que visitamos, nao faltam homenagens à revolução cubana. Numa outra missão cubana que visitamos, havia, na parede da sala de espera, as biografias dos cinco presos cubanos que resistem ha 10 anos nos carceres norte-americanos. Nunca nos pediram qualquer identificaçao ou para pagar qualquer acto médico e receberam-nos sempre com um sorriso. Num outro centro - visitamos tres missoes cubanas - que se situava no meio de uma base militar tivemos a oportunidade de assistir à simpatia dos soldados venezuelanos. Naturalmente, é comum, nos portugueses, a apresentaçao, para além da revoluçao de Abril, do processo politico bolivariano como exemplo para defender a manutençao do Serviço Militar Obrigatorio como condiçao essencial para manter o cariz popular das nossas Forças Armadas. Pois bem, apesar de ter sido um breve contacto com uma realidade mal conhecida, tivemos o privilégio de conversar com soldados sobre o papel do exército. Entre as dezenas de murais que afirmavam "Patria e Socialismo ou morte!", um deles conduzia-nos ao posto médico explicando que é importante o contacto com a populaçao e a abertura da base militar aos cidadãos. Para ele, o seu papel não é o de participar em agressoes imperialistas mas o de defender o seu povo. Uns dias depois, um amigo italiano explicou-me que aquela base militar abre aos fins-de-semana à comunidade que pode usufruir da piscina, dos recintos desportivos e dos churrascos organizados pelos soldados.

Um abraço a todos os que estão a dinamizar e a participar na jornada de luta em Portugal. Porque a luta é o unico caminho!

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Radio Moscovo na terra de Bolivar


Caracas é uma cidade feia e ilustra o profundo contraste que existe entre pobres e ricos. A capital venezuelana é cercada por montanhas que a separam do mar. Nas encostas verdes, situam-se os 'barrios', fotocopias perfeitas das favelas brasileiras. Na base, levantam-se arranha-céus que constituem verdadeiras fortalezas para os ricos. Quando procuravamos um apartamento, tivemos a oportunidade de descobrir o medo profundo de que sofre a burguesia. No exterior, surge um gradeamento com uma porta de ferro. O porteiro abre-a e conduz-nos à porta de entrada do edificio. De seguida, depois da viagem no elevador, deparamo-nos, no piso, com um novo gradeamento que veda a entrada ao corredor de acesso ao apartamento. Depois de aberto, caminhamos até um outro gradeamento que tapa o acesso à casa. No final de todo este processo, podemos, finalmente, abrir a porta e disfrutar do calor do lar.

A especulaçao imobiliaria em Caracas esta bem patente no preço das casas. O facto de estar cercada por montanhas nao permite o crescimento da cidade senao em altura. Dai os grandes edificios que nascem do caos urbano. Para os pobres, nao ha lugar na parte baixa. Constroem as suas habitaçoes precarias nas encostas e nao é raro que depois de uma tormenta aconteçam deslizamentos de terra que enterram familias inteiras. Aqui, encontra-se o grande bastiao do actual processo politico venezuelano. A criaçao de saneamento basico, de cuidados primarios e especializados de saude, a alfabetizaçao e o realojamento tem sido factores importantes de progresso para a populaçao pobre de Caracas.

O processo politico de matizes bolivarianos vive na cidade. Cada rua tem o seu mural dedicado à revoluçao. A qualquer momento pode passar uma ambulancia da 'missao bairro adentro', com o apoio de médicos cubanos, pintada com "a saude nao é um privilégio de poucos mas um direito de todos". Na Universidade Central da Venezuela pude reparar numa estudante que fotocopiava o 'Imperialismo, fase superior do capitalismo' para a sua cadeira de Economia Marxista. Também as paredes da Cidade Universitaria estavam forradas com faixas da Juventude Comunista da Venezuela. Na terça-feira, houve uma concentraçao em frente à embaixada norte-americana e, pouco depois, uma homenagem a um estudante assassinado em 1993. Pela tarde, o Partido Socialista Unificado da Venezuela inaugurava a sua campanha eleitoral com um comicio no centro da cidade. Hoje, vai haver um encontro sobre a divida dos paises pobres aos paises ricos e um debate sobre o aborto na Venezuela. Na sexta-feira, a Coordenadora Continental Bolivariana vai homenagear, no principal 'barrio' de Caracas, Manuel Marulanda, revolucionario e historico dirigente das FARC-EP. Com a presença da Radio Moscovo, claro esta.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Até breve

Nos próximos meses, a Rádio Moscovo vai emitir a partir da América do Sul. Retomaremos a emissão logo que possível. Até lá, um abraço combativo.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Horizonte Fariano, música de resistência


É uma das organizações mais consequentes da América Latina. Depois de terem tentado trilhar os caminhos da paz através da União Patriótica, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia foram obrigadas, pela violência fascista, a dar voz às armas. No cimo das montanhas que cobrem a pátria colombiana, combatem homens e mulheres, operários, camponeses e também estudantes, gente do campo e da cidade. Lutam por um mundo novo, de paz, sem exploração do homem pelo homem. Lutam pelo socialismo. E é essa a realidade retratada pelo grupo musical Horizonte Fariano.

Mais vídeos em http://www.youtube.com/user/mbolivariano

sábado, 13 de setembro de 2008

O baile dos embaixadores

Uma célebre anedota explica porque é que nunca houve um golpe nos Estados Unidos. "Porque não têm uma embaixada norte-americana". E apesar de ser uma brincadeira, o caso torna-se sério quando percorremos a história dos golpes de Estado ou das guerras civis que se passaram um pouco por todo o mundo. Há uma evidência clara de que as embaixadas dos Estados Unidos estão intimamente ligadas ao trabalho da CIA. Quem esquece o papel de Frank Carlucci na contra-revolução portuguesa?

Contudo, não interessa à imprensa destacar as evidências. Poucos dias antes dos confrontos na Bolívia, o embaixador norte-americano na Bolívia, Philip Goldberg, havia reunido, de forma discreta, com a oposição ao governo de Evo Morales. Não se sabe o que se passou nesse encontro mas sabe-se o que se passou nos dias seguintes. E estudando o currículo de Goldberg não é difícil perceber porque foi escolhido para trabalhar na Bolívia. O embaixador - entretanto, expulso - foi, entre 1994 e 1996, o responsável pela questão da Bósnia na secretaria de Estado. Depois assumiu, entre 2004 e 2006, a chefia da missão norte-americana no Kosovo. Ou seja, um especialista na arte de dividir para melhor reinar.

O facto de Philip Goldberg ter sido expulso neste momento não significa que o governo boliviano só tenha percebido agora qual o papel do embaixador norte-americano. Evo Morales sabia perfeitamente da missão de Goldberg. Simplesmente, depois de muito esticar, a corda partiu-se. E podemos observar que esta América Latina já não é a mesma que deixou cair Allende em 1973. Não há um só governo que tenha tido, até ao momento, a coragem de contrariar um governo legitimamente eleito e aprovado em referendo. Pelo contrário, para além dos apoios do Brasil, Chile, Argentina, Paraguai, Equador, Nicarágua, Cuba e de tantos outros, na Venezuela e nas Honduras já não moram embaixadores dos Estados Unidos da América.

Mas a resposta está para além do baile dos embaixadores que ganharam um bilhete só de ida, a resposta está na luta da classe trabalhadora de cada país pela transformação social. Só ela poderá combater e derrotar de forma decisiva os que dominaram e dominam a América Latina. Porque como disse Salvador Allende, momentos antes de cair em combate, "a história é nossa e é feita pelos povos".

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Liberdade para os cinco!

Que ninguém falte amanhã. Há 10 anos, os cinco foram presos nos Estados Unidos por lutarem contra o terrorismo. Amanhã, estaremos em frente à embaixada norte-americana em Lisboa para exigir a sua libertação. Já sabes, a partir das 18 horas em Sete Rios.

O contrário de tudo o que eles são


"Incomoda-os uma Festa que sendo a maior iniciativa deste género realizada no nosso país, tem como seu construtor o partido da classe operária e de todos os trabalhadores, o Partido Comunista Português. Incomoda-os a eles - velhos com mentalidades velhas, com ideias velhas, com projectos velhos - que a Festa seja cada vez mais a festa da juventude e do futuro. Incomoda-os o ambiente de fraternidade, de solidariedade, de camaradagem aqui existente. Incomoda-os tudo porque a nossa Festa, sendo o que é, é o contrário de tudo o que eles são. Por isso tudo têm feito para acabar com a Festa ao longo dos últimos 32 anos."

José Casanova, director do «Avante!»

Aprender com o 11 de Setembro

Foi há 35 anos. Os militares golpistas apoiados pelos Estados Unidos bombardeavam o Palácio de la Moneda em Santiago do Chile. Daí, pegando numa arma oferecida por Fidel Castro, Salvador Allende disparava a palavra através da Rádio Magallanes: "Pagarei com a minha vida a lealdade do povo". Depois, com balas, resistiu ao ataque fascista.

Apesar de toda a discussão sobre a possibilidade de passagem ao socialismo através da via pacífica, não podemos negar que Salvador Allende foi um dos grandes da história do movimento revolucionário. No ano em que se comemora o 100º aniversário do seu nascimento, a Festa do «Avante!» homenageou-o. E importa muito que se estude e se discuta a experiência chilena.

Neste momento, na Bolívia, atravessam-se tempos muito duros. Depois da vitória explicita de Evo Morales no referendo revogatório, o separatismo fascista lançou o caos nas regiões que domina. Ontem, tomaram de assalto várias instituições governamentais e espalharam o terror pelas ruas. Vive-se uma situação extremamente delicada em que o governo, por um lado, não responde às provocações e em que os golpistas, por outro, tentam esticar a corda ao máximo. Várias organizações de trabalhadores, do lado do governo, bloquearam as estradas que ligam às regiões governadas pelos oligarcas. Os fascistas, por sua vez, sabotaram vários gasodutos que forneciam gás ao Brasil.

Em vésperas de uma possível guerra civil, vale a pena recordar o que se passou no Chile. Ontem, Evo Morales decretou, e bem, a expulsão do embaixador norte-americano Philip Goldberg - que entre 1994 e 1996 foi o chefe do gabinete do Departamento de Estado norte-americano para a Bósnia (deve ser perito em fomentar o separatismo) - por conspirar secretamente com os líderes fascistas. O Partido Comunista da Bolívia apelou a que se derrote a direita "em todos os campos". E, estou convicto, de que o povo saberá dar uma resposta à altura do que merecem os fascistas.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

A festa vai ser rija, pá!

Houve o ano das t-shirts do Estaline. Depois, o ano das FARC-EP. Entretanto, o ano do Partido Comunista Colombiano. Mas a cada um que passa chega mais gente à Festa do «Avante!». Ontem, quarta-feira, às 20.00, havia uma fila de cerca de 500 metros para entrar no parque de campismo. Por isso, a RTP decidiu pôr uma série documental sobre "a ilusão do comunismo", o director do Diário de Notícias decidiu escrever contra o presidente da Câmara Municipal do Barreiro e, certamente, podemos esperar pelo fim-de-semana para saber no que vão pegar eles este ano. Por mim, juntem-se todos em procissão porque dentro da Quinta da Atalaia a festa vai ser rija!

A Rádio Moscovo termina aqui a sua emissão para regressar no dia 11 de Setembro. A todos os camaradas e amigos, uma boa festa.

República Socialista Soviética da Estónia

Passou-se na Estónia. Segundo a Agência Novosti e o sítio Aporrea, camponeses de duas aldeias proclamaram o restabelecimento da República Socialista Soviética da Estónia e pediram à Rússia o seu reconhecimento. Segundo o sítio digital da organização regional 'Comunistas de Petersburgo', os partidários da República Socialista Soviética da Estónia estão a recolher assinaturas nos documentos que proclamam a independência e vão entrega-los às autoridades russas para se celebrar um acordo de amizade e de ajuda mutua.

"A decisão da separação da Estónia burguesa foi tomada pelos camponeses Andres Tamm e Aine Saar, cujas aldeias se encontram no Nordeste do país perto da fronteira com a Rússia", acrescenta o sítio. Também cita Tamm: "Não queremos viver mais na Estónia burguesa onde ninguém se importa com o destino dos cidadãos mais pobres, onde cortam os bosques, onde impera o desemprego e a corrupção e onde manda a NATO e os norte-americanos". "O meu avô foi antifascista e combateu na clandestinidade e não posso conformar-me com que na Estónia se renda homenagem aos nazis", destacou.

Entretanto, os cidadãos das aldeias separatistas já formaram o seu governo soviético. Entre outros, foram convidados comunistas russos. Para já, foram constituídas as "milícias populares" para defender o novo "Estado".

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Todos à Festa do «Avante!»

A Festa do «Avante!» aproxima-se. Neste momento, já vão a caminho da Atalaia centenas de pessoas. Amanhã, provavelmente, o parque de campismo estará já quase esgotado. Infelizmente, para a burguesia, esta é e continuará a ser a festa da classe trabalhadora e da juventude. Não há, no primeiro fim-de-semana de Setembro, outra espinha na garganta que lhes doa tanto. Acredito que 300 mil pessoas numa festa que promove o ideal da libertação do homem pelo homem dê a volta ao estômago de qualquer capitalista.

Num outro artigo, destaquei o espectáculo de ópera a que se vai poder assistir na sexta-feira. Para muitos, como eu, será a primeira vez que vão ter a oportunidade de conhecer uma expressão que é muito mais do que musical. A ópera resgata o teatro para a música. Mas há que destacar outros espectáculos. O Grupo Moncada vai levar a música cubana ao Palco 25 de Abril. Quando Cuba se prepara para comemorar o 50º aniversário da Revolução Cubana, o PCP homenageia esse acontecimento ímpar na história da América Latina. No mesmo palco, vai soar a melodia de Woody Guthrie. O gigante do folk norte-americano que andava com uma guitarra pintada com "this machine kills fascists" vai ser revisitado pelos Coal Porters. E não é de somenos importância que nos últimos anos a Festa do «Avante!» tenha decidido trazer várias bandas dos Estados Unidos. É a demonstração de que os comunistas portugueses estão solidários com aquele povo e que valorizam a memória histórica de combate de gerações de norte-americanos que estiveram ao lado da classe trabalhadora. Naturalmente, a imprensa vai continuar a dizer que somos anti-americanos sem explicar que há uma diferença substancial entre quem, nos Estados Unidos, domina e é dominado. Como Woody Guthrie, sempre estivemos ao lado destes últimos.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

A "liberdade de expressão" dos oposicionistas venezuelanos


Neste vídeo, podemos assistir ao insólito. Um oposicionista que se chama Stalin porque os seus pais são de esquerda, que se considera de esquerda, que concorda que Estaline era de esquerda mas que não está com Chávez porque "é militar e de direita". Pouco depois, uma jornalista histérica que quase agride tudo e todos tentando impor a sua opinião. Entre toda a confusão, consegue perceber-se bem que tipo de liberdade de expressão defende esta gente. Esta é mais uma produção da Ávila TV.

sábado, 30 de agosto de 2008

Quanto pior o sistema, pior a catástrofe


Fidel Castro e os estudantes

Normalmente, as catástrofes naturais afectam mais os países pobres. Os maremotos, os terramotos, os furacões, os tornados, as secas, as avalanches e as derrocadas são, na maioria dos casos, fenómenos inevitáveis. A natureza é, muitas vezes, inesperada e torna-se difícil, mesmo para os países ricos, prevenir estas situações. Contudo, com o desenvolvimento tecnológico tem sido mais fácil prever e suportar alguns desses acontecimentos. Mas comparando o comportamento das autoridades norte-americanas perante o que se passou em Nova Orleães, durante a passagem do furacão Katrina, com a atitude das autoridades cubanas perante todo o tipo de fenómenos naturais percebemos que o tipo de sociedade em que se vive influencia muito a resposta que se dá.

Em Cuba, existe uma mobilização geral para proteger o país do furacão Gustav. Os profissionais da saúde estão em alerta. Há sete brigadas médicas preparadas para ir para os locais que habitualmente sofrem inundações. Há um reforço de profissionais nos centros de saúde. Reforçam-se os abrigos e avança-se com a distribuição de pão e leite. Activam-se sistemas de comunicação rádio. Protegem-se as colheitas e os principais centros de produção. Na televisão, produzem-se relatórios sobre a evolução das condições meteorológicas com a presença, muitas vezes, de Raúl Castro. Segundo a ONU, Cuba é um dos países melhor preparados para enfrentar desastres naturais.

O que se passou em Nova Orleães foi catastrófico. As autoridades não estavam preparadas e não souberam responder à grave situação que se seguiu. Entre pobres e ricos, sentiu-se uma diferença criminosa. Nos bairros pobres, havia gente a morrer à fome em casa alagadas. Gente que padecia de doenças e sem água potável. Houve quem considerasse que se estava a discriminar uma cidade habitada maioritariamente por negros. Seja como for, as verbas facilitadas por George Bush foram ridículas para quem enterrou milhões na invasão do Afeganistão e do Iraque. Aos Estados Unidos, nesses dias, caiu-lhes o cenário que deixou à vista os bastidores de miséria que sempre tentaram esconder.

Viva Cuba socialista!

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Quem são os maus-da-fita?

Como na ficção, tem sido difícil compreender o que está a acontecer no Cáucaso. As notícias sucedem-se como nos filmes de Hollywood. Mas neste caso o bom-da-fita não se chama John Rambo. Chama-se Saakashvili.

Começa a fartar o destaque dado pela imprensa portuguesa - lacaia das agências internacionais ao serviço do imperialismo - ao presidente da Geórgia. Saakashvili, um criminoso da pior espécie, lançou um ataque sobre a população da Ossétia do Sul com a autorização dos Estados Unidos. Porque, naturalmente, ninguém acredita que seria capaz de tentar tal aventura sem o apoio da Casa Branca. Portanto, falamos de um crime premeditado. Durante anos, as forças armadas georgianas foram treinadas e armadas pelos Estados Unidos na sua estratégia de cercar o território russo. Mas deviam saber que o precedente aberto na Jugoslávia abriu caminho à Rússia para apoiar no Cáucaso a independência de povos que há muito a exigiam e que, ao contrário do Kosovo, tinham toda a legitimidade para o fazer.

A Ossétia do Sul foi integrada na Geórgia desde que o Império Russo a anexou. Curiosamente, a vitória dos mencheviques georgianos levou a que os ossetos do sul se mantivessem dentro daquele território. O entusiasmo revolucionário com que a população da Ossétia abraçou o bolchevismo provocou o ódio da contra-revolução de Tbilissi. Milhares de ossetos foram dizimados. A parte Sul do território ficou dominada pela República Democrática Menchevique da Geórgia e a parte Norte ficou integrada na República Soviética do Térek. Só depois, com a vitória da revolução, se criou um Estado multinacional com repúblicas independentes, voluntariamente integradas na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Foi a experiência socialista que promoveu a amizade entre os povos e sanou as rivalidades nacionalistas. A Ossétia do Sul possuia um amplo estatuto de autonomia dentro da República Socialista Soviética da Geórgia. Nas escolas, para além do russo, ensinava-se a língua osseta. Depois do fim da URSS, a Geórgia suprimiu a autonomia da Ossétia do Sul e atacou o seu povo por lutar pela independência. Há cerca de dois anos, foram realizados dois referendos, um pouco tempo depois do outro, onde cerca de 94 por cento dos eleitores votaram pela criação de um Estado independente.

O que se passou na noite 7 para dia 8 de Agosto foi um crime. Depois de alguns dias de tiroteio entre forças georgianas e ossetas, o presidente da Geórgia ordenou o cessar-fogo. Quando ninguém o esperava, Saakashvili lança um ataque feroz contra a população indefesa que dormia argumentando que havia que acabar pela força com os regimes criminosos que, segundo ele, vigoravam na Abecásia e na Ossétia do Sul. Para além dos civis e dos combatentes ossetos, foram mortos soldados da força russa de manutenção de paz com mandato internacional. Como já havia advertido, a Rússia entrou no território da Ossétia para defender os cidadãos ossetos - têm quase todos passaporte russo - e os seus soldados cercados pelas forças georgianas.

Pelo que parece, os Estados Unidos tentavam medir a temperatura naquele país. Não é segredo que pretendem colocar, às portas da Rússia, um sistema anti-mísseis. Mas não sabiam como é que Moscovo poderia reagir. Pois bem, agora já sabem. E o presidente russo, Medvedev, já alertou. Se for necessário, intervirão militarmente no exterior para deter as pretensões hegemónicas dos Estados Unidos e da NATO. Para isso, demonstrou que não está isolado. Depois de uma experiência com um míssil que consegue ultrapassar o sistema anti-mísseis, ontem, numa cimeira, ao lado de países como a China, Tadjiquistão, Quirguistão e Cazaquistão formou o Xangai-5 para promover a paz regional e mundial.

E que dizem os jornais? Limitam-se a repetir o que diz o imperialismo. Que o agressor foi a Rússia e que é ela quem promove a guerra. Apesar da Rússia não ser socialista e de ter interesses geo-estratégicos no Cáucaso, não está em posição de, neste momento, se lançar em ambições imperialistas de carácter militar. Portanto, esta resposta e a tensão que se vive naquela região deve-se fundamentalmente às ingerências dos Estados Unidos e da União Europeia. Portanto, mais importante que apoiar qualquer um dos lados deve raciocinar-se com a verdade. E neste momento a verdade é a de que a agressão partiu da Geórgia e dos Estados Unidos e de que os agredidos foram a Ossétia do Sul e a Rússia. Uma verdade útil para combatermos a eclosão de uma guerra que, como sempre, teria como principal vitima a classe trabalhadora.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Gladys Marín, retratos de uma vida


Em Março de 2005, morreu Gladys Marín. Ao funeral da Secretária-Geral do Partido Comunista do Chile acorreu quase meio milhão de pessoas. As ruas e avenidas de Santiago encheram-se para uma justa homenagem, no dia da Mulher, a uma que tanto lutou ao lado do povo chileno. O documentário que destacamos retrata a sua chegada à Alemanha Democrática. Apesar da sua vontade de resistir ao golpe fascista dentro do Chile, o Partido decide-se pelo seu exílio. Durante oito meses, permanece como refugiada na embaixada da Holanda. É então que parte para Berlim onde recebe a solidariedade massiva do povo alemão para com o povo chileno.

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

E viva a propriedade privada!

Aí estão eles, a engordar bem à nossa custa. Segundo o Jornal de Notícias, José de Mello Saúde, Grupo Espírito Santo Saúde, HPP, Grupo Português de Saúde e Clisa detêm cerca de 80 por cento do mercado das clínicas privadas e dos seguros de saúde. Os melhores médicos abandonam o Serviço Nacional de Saúde enquanto o governo se entretém a destrui-lo. Só no ano passado, os grupos privados facturaram 440 milhões de euros, mais 7,8 por cento que no ano anterior. Afinal, quem dúvida de que este governo está ao serviço do patronato e do grande capital? Porreiro, pá.

Em nome do pai, absolve-se o Estado

Acabo de ver no telejornal que se pretende, através do Estado, cobrar aos filhos pela estadia dos pais em lares e instituições de idosos. Entre os argumentos apresentados, encontravam-se o de que também os pais haviam cuidado dos filhos quando eram crianças e o de que as reformas dos idosos são insuficientes para suportar as suas despesas. Há que explicar a estes senhores que há uma diferença clara entre uma criança e um idoso. Há que explicar que a maioria dos filhos, a quem querem cobrar, tem neste momento imensas dificuldades financeiras para criar os seus próprios filhos. E, acima de tudo, há que explicar que a responsabilidade pelas reformas vergonhosas que recebem os idosos pertence a quem governa o Estado. Ou seja, quem trabalha uma vida inteira - cada vez mais - merece ter uma velhice em condições.

Recordo que uma das coisa que mais me fascinou na Constituição da União Soviética foi a noção de que a independência financeira dos membros de uma família é a garantia de que a união se faz por amor e não por outros motivos. Essa independência, naturalmente, era assegurada pelo Estado.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Guerra pela democracia

Soem os foguetes. A coligação internacional que ocupa o território afegão pode explodir de alegria. Afinal, deu-se, hoje, uma importante vitória na luta contra o terror. Na província de Herat, bombardeamentos mataram 76 terroristas. Pelo menos, 19 mulheres, 7 homens e 50 crianças. Para além disso, a acção militar provocou dezenas de feridos graves. É a guerra pela democracia!

A luta é o único caminho!


Canção dedicada aos inimigos de Miami

Se dúvidas houvesse sobre a justeza do ideal comunista bastaria passar os olhos pelos jornais para descobrir razões para não querermos viver numa sociedade capitalista. Segundo o sítio de informação alternativa Rebelión, ficamos a saber que antes do acidente aéreo - vitimou mais de 150 passageiros - os pilotos da Spanair haviam já denunciado pressões da direcção para transgredirem as normas. Tudo em nome do pulmão do capitalismo: o lucro. Por sua vez, o blogue Tacada traz-nos a realidade italiana de um tribunal siciliano que retirou a uma mulher a custódia do seu filho de 16 anos porque o menor se filiou no Partido da Refundação Comunista. Segundo o advogado da progenitora, Mario Giarrusso, o Tribunal de Catânia considerou que o jovem pertencia a um grupo extremista. Como se não bastasse tanto o cartão como uma bandeira com o Che Guevara foram apresentados em tribunal, que decidiu entregar a custódia do menor ao pai. Por cá, chegamos à conclusão de que as centenas de acções que o PCP tem realizado ao longo do Verão são fruto da imaginação dos seus militantes, uma vez que para a comunicação social o Partido fará a sua 'reentré' com a Festa do «Avante!». Para além das tragédias, maiores ou menores, ficamos a saber que António Pereira bateu o recorde nacional dos 50 quilómetros marcha. O atleta da Juventude Operária do Monte Abraão ficou em 11º lugar e explicou que "já merecia" este resultado uma vez que treina todos os dias depois das 19.00 quando sai do trabalho. "Para um trabalhador como eu, que trabalho oito horas por dia como electricista na construção civil, acho que o tempo de 3h48m12s não é para qualquer um. Mas faço o que posso", afirmou ao Público.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Ciclistas escoceses homenageiam luta contra o fascismo

Há 72 anos, o clube escocês de ciclismo Clarion 1895 decidiu participar nos Jogos Olímpicos dos Trabalhadores. Na altura, levantava-se o projecto desportivo que tinha como objectivo a denúncia e o combate ao fascismo. Trabalhadores de todo os países chegavam para dar corpo à iniciativa que tinha a sua cerimónia de abertura marcada para Julho de 1936. Contudo, no dia, deu-se o levantamento fascista que afogou a República Espanhola numa violenta guerra civil. E apesar de não haver condições para a celebração das Olimpíadas dos Trabalhadores, uma grande parte dos participantes decidiu ficar em Barcelona e pegar em armas contra o fascismo. Entre eles, estavam parte dos ciclistas escoceses do Clarion 1895 - uma outra regressou à Escócia para recolher fundos para a luta.

Por esse motivo, realizou-se hoje, em Barcelona, um desfile organizado pelo Clarion 1895 em homenagem aos escoceses e a todos os que combateram e tombaram na luta contra o fascismo. Os ciclistas escoceses recordaram os compatriotas que organizaram uma viagem por Inglaterra e França para chegar a Barcelona com 300 libras que destinaram às mulheres e crianças vitimas da guerra. Para além disso, lembram Ray Cox e Roy Watts que participaram nas Brigadas Internacionais, caindo em combate com 22 e 23 anos, respectivamente.

Apesar do silêncio da maioria dos governos ditos democráticos, estiveram milhares de trabalhadores de todos os países em luta contra o fascismo e por um mundo melhor. Apenas a União Soviética e o México corresponderam de forma entusiasta ao apelo da República Espanhola. Nesta guerra - e com a experiência das Brigadas Internacionais - forjou-se uma geração de combatentes que, com o apoio do Exército Vermelho, soube, anos depois, enterrar o nazi-fascismo.

Video:
Despedida às Brigadas Internacionais

Vivam as Brigadas Internacionais!
Viva o Quinto Regimento!
Viva a luta antifascista!

Apanhado no conflito

Às vezes, o acaso tem destas coisas. Um conhecido basco foi apanhado no meio do conflito entre a Geórgia, a Ossétia do Sul e a Rússia. Portanto, nada melhor que aceder ao seu blogue para se ter mais uma perspectiva do que se está a passar naquele canto do mundo.

Estado colombiano, Estado fascista

A Central Única de Trabalhadores [CUT] da Colômbia denunciou que até ao momento já morreram, só neste ano, 27 dirigentes sindicais. As mortes são provocadas pela polícia, pelo exército e pelos paramilitares, que sustentam o terrorismo de Estado. Normalmente, entre os objectivos encontram-se os militantes da esquerda, dirigentes comunitários e camponeses. A CUT acrescentou ainda que a repressão não é noticiada pelos meios de comunicação social colombianos que preferem dedicar toda a sua atenção à actividade das FARC a levantar o véu dos crimes provocados pelo Estado.

Agrários venezuelanos semeiam a morte

Há poucos dias, agrários encomendaram a morte de um velho índio Yukpa, pai do dirigente Sabino Romero. Depois do reconhecimento por parte do governo venezuelano de que o povo Yukpa tem direito às terras que envolvem a Sierra de Perijá, os indígenas reforçaram a luta pelos direitos históricos que lhe correspondem. Contudo, o processo de devolução das terras esteve paralisado e os agrários lançaram a sua raiva incontida contra os Yukpa. Sabino Romero, na fotografia, teve de se esconder e não pôde assistir ao funeral do seu pai.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Fox News censura em directo


O canal norte-americano de notícias Fox censurou em directo uma jovem de origem osseta por agradecer ao exército russo a sua salvação e por acusar a Geórgia de ter agredido militarmente a Ossétia do Sul. Amanda Kokoeva explica que fugiam de soldados georgianos, que a sua cidade fora bombardeada pela Geórgia e que foi graças aos russos que se salvaram das atrocidades dos georgianos. Depois, a sua tia repete as acusações. É nesse momento que o 'jornalista' anuncia que tem de passar aos anúncios publicitários e, de seguida, dá-lhe apenas 30 segundos para concluir o que havia iniciado. Liberdade de imprensa? Pois, claro!

sábado, 16 de agosto de 2008

Anda construir a Festa do «Avante!»

A Rádio Moscovo vai deixar de emitir nos fins-de-semana. Todos somos necessários para a construção militante da Festa do «Avante!», obra única e só possível com o esforço colectivo dos militantes e amigos do Partido Comunista Português.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Esparguete à Carbonária


O Centro Comercial Colombo é uma realidade estranha. Na primeira vez que lá entrei, depressa me apeteceu sair. Pessoalmente, nunca fui muito dado a passeios em espaços fechados cujo objectivo central é o consumo e a sua adulação. Mas não recusei quando me propuseram trabalhar para compensar as férias de outros num restaurante localizado no terceiro piso.

Durante um mês, trabalhei cerca de 11 horas por dia enfiado entre os grelhados, a máquina do café, as bebidas, as sobremesas e a caixa - onde o patrão não me gostava de ver porque não tinha a agilidade e a destreza de atender um número razoável de clientes que lhe enchesse os bolsos num determinado período de tempo. Bem, na verdade tinha problemas com a máquina registradora. Mas não só. Tinha problemas com os recibos que descreviam os pedidos mas que não explicitavam o nome do prato. Era algo como "prato do dia carne", "prato do dia carne 2 e "prato do dia peixe". Mal me chegavam às mãos devia gritar para os cozinheiros o nome dos pratos e a quantidade. Ou seja, não só tinha de saber o nome dos pratos, que não estavam nos recibos, como tinha de saber quantos pedidos de cada prato havia. Tudo isto parece muito óbvio e, provavelmente, é assim em todo o mundo mas quando queremos dar o nosso melhor e não conseguimos podemos sentir-nos realmente muito burros. Principalmente, quando ao mesmo tempo que se faz tudo isto se tem de tirar as bebidas, pôr o pão, colocar as sobremesas, tirar cafés, ver se as batatas já estão fritas, dar talheres a clientes que os deixaram cair, dar aquele guardanapo a mais e dizer que os molhos e os temperos estão em cima do balcão mesmo à frente do cliente.

Foi nesse ambiente, absolutamente caótico, que descobri pessoas extraordinárias que não só me ajudaram a superar as dificuldades para lidar com um meio desconhecido como me fizeram viver o valor imprescindível do trabalho colectivo. Mas também que por trás das fachadas das lojas do Colombo existe um mundo desconhecido corporizado por longos corredores de serviço que ligam os trabalhadores dos vários sectores. Um mundo que merecia ser resgatado para as páginas dos jornais por algum repórter da imprensa diária.

Provavelmente, conheceriam a raiva dos trabalhadores contra os capatazes e os patrões. Como a de Ricardo que veio do Brasil para melhorar a sua condição de vida. A ele e aos colegas, retiraram-lhes o pagamento dos feriados a dobrar. Juliano que pediu mais dois dias de férias pelos dois feriados que trabalhou ao preço de um dia normal vai ter de explicar à mulher que não vão poder estar tanto tempo juntos. Tanto tempo porque 48 horas são uma eternidade em comparação com a hora que, diariamente, convivem. Não é o caso de Joana, cabo-verdiana, que não tem namorado mas que gostaria de dormir mais do que as cinco horas por noite. É por isso que na hora e meia de pausa que tem à tarde estende cartões no chão do armazém e dorme sem medo das baratas que passeiam. Provavelmente, conheceriam a raiva de Catarina que veio de S. Tomé e Príncipe e trabalhou na limpeza para pagar o curso de ortopedia. Depois do estágio, ninguém a quis contratar e continua a esfregar as mesas e a recolher os tabuleiros sujos das esplanadas. Nunca deixou de lutar e esteve à frente da histórica greve que paralisou as trabalhadoras da limpeza no Colombo. Depois disso, foi alvo de um processo disciplinar e suspensa durante meses. Há pouco tempo, regressou ao trabalho e a empresa foi obrigada a pagar-lhe os meses em que esteve em casa. Mas neste mundo de raiva existe amor e Catarina recebe o carinho e a solidariedade massiva dos trabalhadores.

Também existe alegria porque essa é a única forma de suportar o tempo. Entre as piadas que se contavam havia uma que me agradava bastante. Miguel, um colega de balcão, costumava responder aos clientes que lhe pediam cerveja à borla com um "isso não pode ser porque senão o patrão não muda de carro no fim do mês". Por isso, recordo com alegria o dia em que não corrigi o Ricardo. E o prato do dia foi 'Esparguete à Carbonária'.

Por isso, como prometido, dedico-lhes este texto.

[Naturalmente, embora o texto se refira apenas a factos reais, os nomes são fictícios.]

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Até à vitória, Harkishan Singh Surjeet!

Há cerca de uma semana, não referimos a morte do camarada Harkishan Singh Surjeet, ex-secretário-geral do Partido Comunista da Índia (Marxista). Vale a pena recordar as palavras de Jerónimo de Sousa: "uma grande perda para os comunistas e progressistas de todo o mundo porque conhecemos a consideração e amizade que nutria pelos comunistas portugueses e porque sabemos como é respeitado e considerado pelos membros do nosso Partido [...] sentimos a sua morte como se um dos nossos se tratasse".

Combater o fascismo na internet

No artigo anterior, alguém denunciava, nos comentários, a criação de uma rádio portuguesa fascista na internet. Naturalmente, nestes casos, quando encontramos uma página com conteúdos racistas, xenófobos e que fazem propaganda do nazi-fascismo devemos denuncia-lo. Para além da denúncia política nas ruas, na comunicação social e nos blogues, a Polícia Judiciária criou uma página dedicada à denúncia de crimes na internet.

Como indica o endereço http://linhaalerta.internetsegura.pt, "a apologia do racismo compreende todo o conteúdo que incite ao ódio ou à violência ou discriminação racial ou religiosa com o intuito de a encorajar. Com discursos racistas, revisionistas ou neonazis, milhares de sites, blogues e outras comunidades virtuais disseminam o ódio racial e a intolerância. Estes comportamentos configuram um crime previsto no nosso Código Penal." Portanto, é também nosso dever apresentar queixa, que pode ser realizada sob anonimato, se assim se pretender.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Oligarquia boliviana derrotada nas urnas

Não conseguiram. Depois de toda a destabilização conduzida pela oligarquia boliviana e patrocinada pela Casa Branca, que quase levou a Bolívia à guerra civil, o governo de Evo Morales agendou o desafio. Para 10 de Agosto, o tudo ou nada. Mas não conseguiram. Os carrascos do povo boliviano e lacaios do imperialismo norte-americano foram derrotados, nas urnas, por aqueles que exploraram e espezinharam durante anos. O referendo revogatório teve um resultado claro: cerca de 63 por cento dos votantes optaram pela manutenção de Evo Morales.

Perante milhares de pessoas, o presidente Evo Morales, dedicou a vitória "a todos os povos revolucionários da América Latina e do mundo".

sábado, 9 de agosto de 2008

"Eficácia extrema"

Os jornalistas despiram qualquer objectividade e quase têm orgasmos quando entrevistam as forças policiais sobre o assalto ao BES. Os comandantes, ex-comandantes, ministros e ex-ministros embarcam na maré da idolatria afirmando até que os assaltantes não eram amadores num último esforço para glorificar ainda mais a acção da polícia durante o sequestro. Os fascistas aproveitam a origem dos protagonistas do assalto para encher os fóruns televisivos e radiofónicos com as suas cantilenas propagandísticas a favor da xenofobia, do racismo e do nacionalismo.

Os assaltantes não eram só amadores. A acção suou à azelhice de quem não sabe muito bem o que está a fazer e que de quem se estreia no crime. Uma dependência bancária sem caixa e com uma saída não parece uma boa escolha para quem pretende ser bem sucedido. Portanto, com o sucesso razoável da acção da polícia, não há a necessidade de se empolar os factos para engrandecer a acção que levou à libertação dos reféns.

Acção razoável porque o objectivo da acção policial teria de ser, antes de tudo, a libertação dos reféns mas, se possível, com a detenção dos assaltantes. Pelo que se percebeu, a concretização dos dois objectivos em simultâneo parecia difícil. O recurso à negociação, pelo que se diz, esgotou-se. Como tal, optou-se pela acção dos atiradores especiais, opção que considero plausível e que acabou por dar ao acontecimento um feliz desfecho. Contudo, ouvir como ouvi da boca de jornalistas que a polícia actuou com "eficácia extrema" e com "eficácia absoluta" parece-me ridículo.

Por curiosidade, seria interessante perceber porque optaram por introduzir o cadáver dentro de um saco em cima do passeio e não dentro da dependência bancária. Porque me pareceu de um gosto muito duvidoso ver as televisões transmiti-lo em directo.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Rádio Moscovo com os atletas palestinianos


Há algumas delegações estrangeiras que atraem mais o meu afecto. Entre muitas outras destaco, naturalmente, Cuba, Vietname, Laos, República Democrática Popular da Coreia, Bielorrússia e Venezuela. Mas houve uma que me impressionou vivamente e que terá todo o meu apoio durante os Jogos Olímpicos de Pequim. Trata-se da Palestina.

Nader Masri e Ghadeer Ghuruf no atletismo e Hamseh Abdouh e Zakiya Nassar na natação. Estamos com eles.

Ossétia do Sul agredida pela Geórgia

Se os Estados Unidos e a União Europeia, através da NATO, apoiaram a desagregação da Jugoslávia e a recente declaração de independência do Kosovo porque não pode a Ossétia do Sul receber o mesmo apoio por parte da Rússia? De qualquer forma, já começou a desinformação por parte dos meios de comunicação social da burguesia. É uma agressão da Rússia à Geórgia, afirmam. Contudo, deviam explicar a chacina que se verificou na capital da Ossétia do Sul, Tskhinvali, destruída pelos ataques das forças armadas georgianas. Ainda mais triste é que se tenha passado no dia em que se inauguram os Jogos Olímpicos de Pequim. Mas a paz nunca foi um valor a defender pelo capitalismo e pelo imperialismo.

Homer Simpson substitui Juan Carlos

Quem não se recorda de Homer Simpson, o norte-americano barrigudo que idolatrava a sua inutilidade? Pois, bem. Nas Astúrias, acaba de aparecer uma moeda de euro com a cara do chefe da família Simpson a substituir o rei Juan Carlos. E, verdade seja dita, de inútil para inútil o Homer fica melhor.

Notícia no El Mundo

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Solidariedade com Remedios García Albert

Remedios García Albert foi detida pela polícia espanhola. Acusada de colaborar com as FARC-EP, a activista espanhola pela paz tem de enfrentar uma dívida de 12 mil euros para pagar a fiança imposta pela Audiência Nacional para não voltar à prisão antes da sentença. Perante as inúmeras demonstrações de apoio e de solidariedade, foi aberta uma conta bancária para receber os contributos solidários para o pagamento da fiança.

Mais informação na página do PCE

terça-feira, 5 de agosto de 2008

L'anguilla


99 Posse é um grupo de rap de Nápoles. Uma boa parte das suas músicas são dedicadas a temas que denunciam a realidade do capitalismo. Neste caso, sobre a manipulação nos meios de comunicação social burguesa. Vale a pena ouvir.
Israel tenta obrigar doentes de Gaza a serem informadores

05.08.2008, Sofia Lorena

Grupo de direitos humanos ouviu 32 relatos, incluindo de pessoas com doenças terminais. O Shin Bet desmente as acusações

Bassam al-Wahidi faltou à última consulta que tinha marcada num hospital de Jerusalém Oriental, há quase um ano, apesar de se arriscar a perder a visão do olho direito. À hora prevista, este jornalista de Gaza estava numa sala de interrogatórios do checkpoint de Erez, onde ao longo de seis horas um homem que falava árabe perfeito e se identificou como Moshe lhe sugeriu que descobrisse quem lançava rockets de Gaza para Israel. "Vou mandar-te para casa e deixar-te viver o resto da tua vida cego por seres estúpido", disse-lhe quando recusou.

O relato de Wahidi é um dos 32 que o grupo israelita da organização internacional Médicos pelos Direitos Humanos recolheu num relatório ontem divulgado. Wahidi é dos poucos que aceita ser identificado pelo nome - a maioria recusou por temer que as hipóteses de sair de Gaza para receber tratamento médico fiquem ainda mais reduzidas.

Os Médicos pelos Direitos Humanos acusam o Shin Bet (o serviço de segurança interna de Israel) de "coacção" e "extorsão" dos pacientes. E notam que estas práticas acompanham um aumento acentuado na proporção de doentes a quem é negada a entrada em Israel, desde que o Hamas assumiu o controlo da Faixa de Gaza, em Julho do ano passado. Em Janeiro de 2007 eram autorizados a entrar 90 por cento - no fim do ano já entravam só 62 por cento dos que pediam para passar por motivos médicos.

O grupo lembra que o aumento de restrições nas saídas coincidiu com o bloqueio israelita a Gaza, que provocou quebras de energia eléctrica e impede a entrada de equipamentos médicos ou combustível.

O Shin Bet desmente as acusações e diz que os controlos de segurança servem para garantir que os palestinianos não ameaçam segurança de Israel. Desde 2005, diz, três potenciais bombistas suicidas fizeram-se passar por doentes. Segundo o exército, o número dos que saem de Gaza para receber tratamento médico aumentou de 8325 para 15.148 em 2007.

Mas os testemunhos recolhidos levam os Médicos pelos Direitos Humanos a concluir que os "interrogadores propõem directa e abertamente aos doentes colaborarem e/ou fornecerem informações". E esta prática, sublinham, viola as Convenções de Genebra. O Shin Bet lembra, por seu turno, que o Supremo Tribunal israelita decidiu que "o Estado tem o direito soberano de determinar quem entra" nas suas fronteiras.

A Bassam al-Wahidi foi-lhe oferecido um cartão de telemóvel israelita. Para além de se deslocar às áreas de fronteira para identificar os combatentes que lançam rockets, deveria ir às conferências de imprensa da ala militar do Hamas e de outras facções. Tinha dez dias para provar sua utilidade - depois deixaria de precisar de autorização para passar em Erez.

"Tens cancro"

Sem qualquer viagem ao hospital de Jerusalém desde esse interrogatório, o jornalista de 28 anos que cobre assuntos sociais e laborais para uma rádio já está cego do olho direito e precisa de tratamento urgente no olho esquerdo. Os médicos mandaram-no parar de ler e escrever há um mês.

Abu Obeid, um funcionário público de 38 anos, tem um pacemaker instalado num hospital israelita e saía frequentemente para tratamentos cardíacos. Mas em Agosto recusou uma proposta idêntica à que foi feira a Wahidi. "Dás-me informação e eu facilito as entradas em Israel", ouviu.

Outro homem de 38 anos que deveria ter sido consultado no hospital Ichilov de Telavive contou ao grupo de médicos israelitas o que lhe disse um agente: "Tens cancro e vai espalhar-se para o teu cérebro. Enquanto não nos ajudares, podes esperar por Rafah." Rafah é o posto fronteiriço entre Gaza e o Egipto, raramente aberto.

[...]

em Público, 05.08.08