Com Bolivar, com Manuel, com o povo, ao poder!
Uma parte importante das noticias que chegam a Portugal têm a ver com a criminalidade violenta e, normalmente, aquela que afecta os emigrantes portugueses. Na verdade, Caracas situa-se entre as primeiras cidades latino-americanas no que diz respeito à violencia e isso também afecta a visão que temos da realidade social venezuelana. E embora seja uma verdade inquestionavel parece-me que a abordagem que desde o governo às associaçoes comunitarias se faz sobre o problema é o mais correcto. A criminalidade radica em problemas socio-economicos e é nesse sentido que deve ser combatida. Por isso, tive a oportunidade de conhecer varios dirigentes do associativismo dos 'barrios' - recordar que na Venezuela 'barrio' significa favela - que me falaram na importancia de envolver e ocupar os jovens nas tarefas e actividades comunitarias. Para além disso, surgiu uma missao bolivariana com o objectivo de levar o ensino basico à populaçao. Ou seja, depois do sucesso obtido pela campanha que erradicou o analfabetismo na Venezuela, o governo e os movimentos sociais lançaram-se no desafio de elevar o conhecimento de toda esta gente e no de combater um dos maiores amigos do capitalismo, a ignorancia dos povos.
Uma das organizaçoes que melhor espelha a vontade de estimular a participaçao de jovens e da populaçao é a Coordenadora Simon Bolivar (CSB). Situada no 'barrio' 23 de Enero, envolve toda a comunidade em torno de temas politicos e sociais. Para além de uma radio que emite 24 horas por dia e que é dinamizada, principalmente, por jovens, a CSB preocupa-se com temas tao distintos - ou nao - como sao as condiçoes do bairro e a luta dos povos contra a opressao. Nao admira, pois, que tenha sido aqui que homens e mulheres, principalmente jovens, arregaçaram mangas e ergueram, de forma voluntaria, uma bela praça dedicada a Manuel Marulanda, historico dirigente das FARC-EP. Dai o espanto de quem foi tantas vezes advertido, até pelos mais insuspeitos, da perigosidade deste 'barrio'. Na verdade, em nenhum outro lugar de Caracas me senti tão em casa. Em momento algum me senti inseguro e deixei-me descobrir um dos baluartes do processo politico bolivariano. Ali, no 23 de Enero, ja escorreu varias vezes o sangue de trabalhadores em luta contra a opressão. E, como no passado, os moradores parecem manter a mesma combatividade e o desejo de lutar por uma sociedade mais justa.
Sinceramente, não esperava o que vi. Talvez porque, pessoalmente, não considere o actual processo politico por que passa a Venezuela uma revolução. Efectivamente, o povo venezuelano é protagonista de transformações importantes de caracter progressista mas com contradições que conduzem a uma analise dificil da actual situação na Venezuela. Mas ali senti-me em territorio livre e, efectivamente, costuma dizer-se que o 23 de Enero é "territorio livre da América". Quando a cerimonia de inauguração da Praça Manuel Marulanda começou, centenas de pessoas enchiam o espaço mas dos prédios velhos e sujos outras tantas assomavam à janela para assistir à homenagem ao historico guerrilheiro colombiano. No telhado do edificio térreo que ladeia a nova praça, dezenas de jovens, activistas da Coordenadora Simon Bolivar, visivelmente orgulhosos, lançavam foguetes e gritavam de forma efusiva. Aquele, foi um dia de festa para uma comunidade que quis ligar, de forma indelével, o nome de Manuel Marulanda à sua propria historia. O 'barrio' 23 de Enero, onde, através de murais, as paredes falam de Che Guevara, de Simon Bolivar, de Augusto César Sandino, de Emiliano Zapata, de Iasser Arafat, de Ali Primera, de Mariatégui e de tantos outros, parece não se importar com os epitetos que dedicam às FARC ou com os protestos formais que o Estado colombiano apresentou pela homenagem popular a um dos herois dos povos da América Latina. Também não se pareceu importar com a ausencia de representantes do Estado venezuelano. No 23 de Enero, Manuel Marulanda, o campones, filho de camponeses, ressurgiu entre os seus.
Outra questão que chega a Portugal, para além da criminalidade, mas muitas vezes também conectada com ela, tem a ver com a condiçao dos emigrantes portugueses. Na zona onde vivo, e parece-me que é assim na maioria dos sitios, os portugueses dominam o negocio das padarias e dos mini-mercados. Todos os que conheci e que estao relacionados com estas areas se assumiram como anti-chavistas. Os unicos não madeirenses e, curiosamente, os unicos que nao estao ligados a estas actividades que conheci são os que estao com o actual processo. Um deles é dono de uma lavandaria e reconheci-o de imediato porque tinha uma camisola do Benfica - no dia do derby com o Sporting - e apresentou-me o portugues mais interessante que conheci deste lado do oceano. O senhor Sérgio tem uma livraria e é, claramente, um intelectual. Escreve para varias revistas e publicaçoes progressistas. Parece-me uma pessoa humilde e um pouco timida e a maioria da sua historia contou-ma um amigo seu, empresario, que, estranhamente, é proximo das suas ideias e que também defende o actual processo politico. O senhor Sérgio formou-se em Filosofia e esteve ligado ao MUD. Fugiu de Portugal, perseguido pela PIDE, e exilou-se na Venezuela. Esteve ligado à preparação do sequestro do paquete Santa Maria - foi quem forneceu as armas - mas por divergencias com Henrique Galvao retirou-se da operação. Mas esta é uma excepção. Do lado oposto, entrei no outro dia numa frutaria de um madeirense. Perguntei-lhe porque não tinha arroz e respondeu-me que não o vendia porque dava prejuizo, uma vez que o governo havia bloqueado os preços do alimento. Acabou a conversa a insultar Hugo Chavez e disse-me, passando o polegar pela garganta, que os comunistas deviam ser todos mortos.
Por estes dias, também contactei com uma realidade que nos é muito querida quando, em Portugal, discutimos a Venezuela. A presença de médicos cubanos em Caracas é visivel e traz nao so a saude mas também a solidariedade internacionalista aos 'barrios'. Tive de acompanhar uma pessoa ao centro médico da Universidade Bolivariana da Venezuela que é gerido pela missão 'barrio adentro'. Ali, encontramos uma médica cubana que ja estivera no Haiti. Marcou analises e radiografias e falou-nos um pouco da sua experiencia pessoal. Naquele, como noutros consultorios que visitamos, nao faltam homenagens à revolução cubana. Numa outra missão cubana que visitamos, havia, na parede da sala de espera, as biografias dos cinco presos cubanos que resistem ha 10 anos nos carceres norte-americanos. Nunca nos pediram qualquer identificaçao ou para pagar qualquer acto médico e receberam-nos sempre com um sorriso. Num outro centro - visitamos tres missoes cubanas - que se situava no meio de uma base militar tivemos a oportunidade de assistir à simpatia dos soldados venezuelanos. Naturalmente, é comum, nos portugueses, a apresentaçao, para além da revoluçao de Abril, do processo politico bolivariano como exemplo para defender a manutençao do Serviço Militar Obrigatorio como condiçao essencial para manter o cariz popular das nossas Forças Armadas. Pois bem, apesar de ter sido um breve contacto com uma realidade mal conhecida, tivemos o privilégio de conversar com soldados sobre o papel do exército. Entre as dezenas de murais que afirmavam "Patria e Socialismo ou morte!", um deles conduzia-nos ao posto médico explicando que é importante o contacto com a populaçao e a abertura da base militar aos cidadãos. Para ele, o seu papel não é o de participar em agressoes imperialistas mas o de defender o seu povo. Uns dias depois, um amigo italiano explicou-me que aquela base militar abre aos fins-de-semana à comunidade que pode usufruir da piscina, dos recintos desportivos e dos churrascos organizados pelos soldados.
Um abraço a todos os que estão a dinamizar e a participar na jornada de luta em Portugal. Porque a luta é o unico caminho!
Sinceramente, não esperava o que vi. Talvez porque, pessoalmente, não considere o actual processo politico por que passa a Venezuela uma revolução. Efectivamente, o povo venezuelano é protagonista de transformações importantes de caracter progressista mas com contradições que conduzem a uma analise dificil da actual situação na Venezuela. Mas ali senti-me em territorio livre e, efectivamente, costuma dizer-se que o 23 de Enero é "territorio livre da América". Quando a cerimonia de inauguração da Praça Manuel Marulanda começou, centenas de pessoas enchiam o espaço mas dos prédios velhos e sujos outras tantas assomavam à janela para assistir à homenagem ao historico guerrilheiro colombiano. No telhado do edificio térreo que ladeia a nova praça, dezenas de jovens, activistas da Coordenadora Simon Bolivar, visivelmente orgulhosos, lançavam foguetes e gritavam de forma efusiva. Aquele, foi um dia de festa para uma comunidade que quis ligar, de forma indelével, o nome de Manuel Marulanda à sua propria historia. O 'barrio' 23 de Enero, onde, através de murais, as paredes falam de Che Guevara, de Simon Bolivar, de Augusto César Sandino, de Emiliano Zapata, de Iasser Arafat, de Ali Primera, de Mariatégui e de tantos outros, parece não se importar com os epitetos que dedicam às FARC ou com os protestos formais que o Estado colombiano apresentou pela homenagem popular a um dos herois dos povos da América Latina. Também não se pareceu importar com a ausencia de representantes do Estado venezuelano. No 23 de Enero, Manuel Marulanda, o campones, filho de camponeses, ressurgiu entre os seus.
Outra questão que chega a Portugal, para além da criminalidade, mas muitas vezes também conectada com ela, tem a ver com a condiçao dos emigrantes portugueses. Na zona onde vivo, e parece-me que é assim na maioria dos sitios, os portugueses dominam o negocio das padarias e dos mini-mercados. Todos os que conheci e que estao relacionados com estas areas se assumiram como anti-chavistas. Os unicos não madeirenses e, curiosamente, os unicos que nao estao ligados a estas actividades que conheci são os que estao com o actual processo. Um deles é dono de uma lavandaria e reconheci-o de imediato porque tinha uma camisola do Benfica - no dia do derby com o Sporting - e apresentou-me o portugues mais interessante que conheci deste lado do oceano. O senhor Sérgio tem uma livraria e é, claramente, um intelectual. Escreve para varias revistas e publicaçoes progressistas. Parece-me uma pessoa humilde e um pouco timida e a maioria da sua historia contou-ma um amigo seu, empresario, que, estranhamente, é proximo das suas ideias e que também defende o actual processo politico. O senhor Sérgio formou-se em Filosofia e esteve ligado ao MUD. Fugiu de Portugal, perseguido pela PIDE, e exilou-se na Venezuela. Esteve ligado à preparação do sequestro do paquete Santa Maria - foi quem forneceu as armas - mas por divergencias com Henrique Galvao retirou-se da operação. Mas esta é uma excepção. Do lado oposto, entrei no outro dia numa frutaria de um madeirense. Perguntei-lhe porque não tinha arroz e respondeu-me que não o vendia porque dava prejuizo, uma vez que o governo havia bloqueado os preços do alimento. Acabou a conversa a insultar Hugo Chavez e disse-me, passando o polegar pela garganta, que os comunistas deviam ser todos mortos.
Por estes dias, também contactei com uma realidade que nos é muito querida quando, em Portugal, discutimos a Venezuela. A presença de médicos cubanos em Caracas é visivel e traz nao so a saude mas também a solidariedade internacionalista aos 'barrios'. Tive de acompanhar uma pessoa ao centro médico da Universidade Bolivariana da Venezuela que é gerido pela missão 'barrio adentro'. Ali, encontramos uma médica cubana que ja estivera no Haiti. Marcou analises e radiografias e falou-nos um pouco da sua experiencia pessoal. Naquele, como noutros consultorios que visitamos, nao faltam homenagens à revolução cubana. Numa outra missão cubana que visitamos, havia, na parede da sala de espera, as biografias dos cinco presos cubanos que resistem ha 10 anos nos carceres norte-americanos. Nunca nos pediram qualquer identificaçao ou para pagar qualquer acto médico e receberam-nos sempre com um sorriso. Num outro centro - visitamos tres missoes cubanas - que se situava no meio de uma base militar tivemos a oportunidade de assistir à simpatia dos soldados venezuelanos. Naturalmente, é comum, nos portugueses, a apresentaçao, para além da revoluçao de Abril, do processo politico bolivariano como exemplo para defender a manutençao do Serviço Militar Obrigatorio como condiçao essencial para manter o cariz popular das nossas Forças Armadas. Pois bem, apesar de ter sido um breve contacto com uma realidade mal conhecida, tivemos o privilégio de conversar com soldados sobre o papel do exército. Entre as dezenas de murais que afirmavam "Patria e Socialismo ou morte!", um deles conduzia-nos ao posto médico explicando que é importante o contacto com a populaçao e a abertura da base militar aos cidadãos. Para ele, o seu papel não é o de participar em agressoes imperialistas mas o de defender o seu povo. Uns dias depois, um amigo italiano explicou-me que aquela base militar abre aos fins-de-semana à comunidade que pode usufruir da piscina, dos recintos desportivos e dos churrascos organizados pelos soldados.
Um abraço a todos os que estão a dinamizar e a participar na jornada de luta em Portugal. Porque a luta é o unico caminho!
1 comentário:
Um abraço também para ti, camarada, e a continuação desta boa informação que nos fazes chegar.
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