domingo, 20 de dezembro de 2009

"À guerra dos pobres chama-se terrorismo, ao terrorismo dos ricos chama-se guerra"

Pese as grandes diferenças entre a Rádio Moscovo e o blogue Cinco Dias, destacamos o debate encetado nos últimos dias a propósito do ataque ao primeiro-ministro italiano. A acção de Massimo Tartaglia contra Silvio Berlusconi teve um grande impacto. Para além da fractura nasal e dos dentes perdidos, há duas ilações que se podem tirar. Em primeiro lugar que o responsável pelo ambiente crispado em Itália é dele, do seu governo e da oligarquia italiana. Em segundo lugar que esta acção lhe permitirá lançar uma ofensiva contra o que resta da esquerda italiana. Essa campanha já foi iniciada e pretende colar a imagem de violentos e terroristas a todos aqueles que se opõem às políticas governamentais.

Mas o debate levantado pelo blogue Cinco Dias, independentemente das opiniões sobre o ataque a Berlusconi, teve o mérito de pôr o foco sobre a legitimidade da violência como forma de luta. Como sabemos, os comunistas não renunciam a qualquer forma de luta. Em cada momento, há que saber adaptar-se à etapa que se vive. Mas há por aí muito social-democrata encartado que entende que a violência não faz sentido porque o Estado deixou de ser violento. Nada mais falso. O Estado detém o monopólio da violência. E, hoje, com a mercenarização das Forças Armadas, as novas gerações deixaram de ter qualquer formação militar. Este é um dado importante e perigoso. Um povo que não se sabe defender é um povo ainda mais submetido à força do Estado e da burguesia.

A Rádio Moscovo, desde o seu inicio, com um forte pendor internacionalista, tem-se preocupado com dar a conhecer a luta de povos que foram obrigados a levantar-se em armas contra o capitalismo e o imperialismo: Colômbia, Sara Ocidental, Palestina, País Basco, Curdistão, Nepal, Iraque e Afeganistão. Com objectivos diferentes, com maior ou menor magnitude, com maior ou menor correcção político-militar, estes são os países onde a luta armada mantém o apoio popular mínimo para a manutenção de uma violência a longo-prazo.

Contudo, na maioria destes casos, com a excepção do País Basco, é fácil compreender-se, a partir de fora, a legitimidade do recurso à violência. Já discutir a violência nos países desenvolvidos assume um grau de dificuldade tremendo. Também daí a excepção basca. Aqui, não temos qualquer dúvida de que a violência existe e está presente nestes países. Que o digam os operários da Sorefame, da MB Pereira da Costa, da Valorsul, da Sisaqua, os jovens do Grémio Lisbonense e os excluídos dos guetos suburbanos.

Naturalmente, discordamos de actos violentos isolados que não correspondam à vontade da maioria do movimento operário. Mas o facto de nem sempre utilizarmos a violência não significa que ela esteja excluída. Porque sabemos que no dia em que a classe trabalhadora puser o poder em causa, os militares e a polícia tomarão as ruas. E seria um risco enorme se só nesse dia ganhássemos consciência disso e da necessidade da violência organizada.

Pese o fascínio pela violência de alguns elementos isolados da classe trabalhadora, influenciados por teses pequeno-burguesas, ninguém gosta de combater. Isso implica pesados sacrifícios e acontece como resposta a uma série de actos violentos por parte da burguesia. Como disse o padre guerrilheiro Camilo Torres, "se a burguesia ceder o poder de forma pacífica, nós toma-lo-emos de forma pacífica. Se resistir de forma violenta, então seremos obrigados a toma-lo de forma violenta".

Para as futuras respostas a este artigo deixo-vos, desde já, para reflexão, a opinião de Malcolm X: "A imprensa conhece tão bem o ofício de criar reputações que pode fazer passar o assassino por vítima e a vítima por assassino. Essa é a função da imprensa, desta imprensa irresponsável. Se não andarem prevenidos, os meios de comunicação leva-los-ão a odiar os oprimidos e a amar os opressores".

7 comentários:

luissting disse...

Nem merece comentário depois de rever tão elucidativa frase de Malcom X

tms disse...

"À guerra dos pobres chama-se terrorismo, ao terrorismo dos ricos chama-se guerra"

O teu título não me parece o mais correcto. Que tal "À guerra dos pobres chama-se terrorismo, ao terrorismo dos ricos chama-se guerra entre estados"?

Pedro Bala disse...

O título não é da minha autoria, é uma citação do dramaturgo espanhol Alfonso Sastre.

A CHISPA ! disse...

A lamentar e o mal a existir na agressão a Berlusconi,está apenas no facto de Mássimo Tartáglia poder sofrer de insuficiência mental,o que poderá impedir de certa maneira o seu aproveitamento total, pelas forças revolucionárias proletárias de o considerarem como um acto de GRANDE CORAGEM e de quem sofre as consequências das politicas capitalistas e anti-sociais do governo do fascista Berlusconi.

Acompanhem e dêm as vossas opiniões sobre os textos publicados em "achispavermelha.blogspot.com" em particular o último em memória dos 130 anos do nascimento de J.Staline.
Saudações Comunistas
"A CHISPA!"
José Luz

Luís Rocha disse...

Passo a citar um excerto do último Encontro Mundial de Partidos Comunistas e Operários, sublinha-se a palavra de ordem "chegou a hora de passar à ofensiva contra o capitalismo", não podia estar mais de acordo.

Passar à ofensiva

«O imperialismo, dinamizado pelo fim da União Soviética e pelos períodos de “boom” que precederam esta crise, tinha desencadeado ataques sem precedentes contra os direitos da classe operária e dos povos. Tudo isto foi acompanhado por uma propaganda anticomunista frenética, não apenas ao nível de cada país, mas também em organismos internacionais e interestatais (UE, OSCE, Conselho da Europa). Mas por muito que se esforcem, as conquistas e o contributo do Socialismo para a configuração da civilização moderna são inapagáveis. Perante estes ataques sem tréguas, as nossas lutas tinham até agora sido principalmente lutas defensivas, para defender os direitos que tínhamos alcançado anteriormente. A conjuntura actual exige o lançamento duma ofensiva para não apenas defender os nossos actuais direitos, mas também para conquistar novos direitos; não apenas para conquistar novos direitos, mas também para desmantelar toda a engrenagem capitalista – uma ofensiva contra a dominação do capital e por uma alternativa política: o Socialismo.
«Resolve que nas actuais condições, os partidos comunistas e operários trabalharão activamente para mobilizar e trazer as mais amplas forças populares à luta por empregos estáveis a tempo inteiro, por cuidados de saúde, ensino e previdência exclusivamente públicos e gratuitos para todos, contra a desigualdade entre homens e mulheres e o racismo, e pela defesa dos direitos de todos os sectores de trabalhadores, incluindo os jovens, as mulheres, os trabalhadores migrantes e os membros de minorias étnicas e nacionais.
«Apela aos partidos comunistas e operários para que se entreguem a esta tarefa nos seus respectivos países e desencadeiem amplas lutas pelos direitos do povo e contra o sistema capitalista. Apesar do sistema capitalista trazer dentro de si a crise, ele não se desmorona automaticamente. A falta duma contra-ofensiva dirigida pelos comunistas engendra o perigo dum ascenso das forças reaccionárias. As classes dominantes estão a lançar uma ofensiva sem limites para impedir o crescimento dos partidos comunistas e operários, e para se defenderem na situação actual. A social-democracia continua a semear ilusões quanto ao verdadeiro carácter do capitalismo, propondo palavras de ordem tais como “humanização do capitalismo”, “regulamentação”, “governança global”, etc. Na realidade, estas servem para dar suporte à estratégia do capitalismo, ao negar a existência da luta de classes e servir de apoio à realização de políticas antipopulares. Não há reformas que bastem para eliminar a exploração capitalista. O capitalismo tem de ser derrubado. Isso exige a intensificação das lutas populares, ideológicas e políticas, dirigidas pela classe operária. São propagadas muitas teorias do tipo “não existem alternativas” à globalização capitalista. Contra elas, a nossa resposta é “a alternativa é o Socialismo”.

a. ferreira disse...

Caro Rocha
Pode-me explicar onde assentam as razões da direcção do PCP depois deter assinado esta resolução ir ABSTER-SE no Orçamento Rectificativo,sendo este um orçamento que apenas visa atender as necessidades da burguesia dominante e ainda individar mais o País?
Um abraço
A.Ferreira

eduricardo disse...

Convido-vos a visitar o cadernosemcapa.blogspot.com
abraço