Preocupa-me Itália. Depois da vitória da extrema-direita e do colapso da esquerda arco-íris, sucedem-se as demonstrações violentas contra todas as minorias. Há duas semanas, dois fascistas perseguiram e agrediram a um transsexual num bairro de Roma em frente a um carro-patrulha da polícia que não interveio. Dois dias depois, Hassan Nejl, tunisino de 38 anos, morreu no Centro de Detenção para Imigrantes de Turim. Os seus companheiros acusaram os médicos do centro de não o socorrer: "Disseram que era tarde e deixaram-no morrer". No dia seguinte, 24 de Maio, a Itália é sacudida por duas agressões fascistas. Vinte jovens destroem duas montras de lojas de imigrantes do Bangladesh gritando "estrangeiros porcos" e "bastardos" e Christian Floris, locutor do site DeeGay.it, é agredido e ameaçado por trabalhar com temas relacionados com a homossexualidade. Dias depois, na primeira reunião municipal da Câmara de Roma, o novo presidente revelou a sua intenção de dedicar uma praça à figura do fundador de uma organização fascista, implicado num atentado. Não passam dois dias e, durante a tarde, um grupo de nazis ataca estudantes de esquerda que arrancavam cartazes fascistas. Resultado: sete feridos. Entretanto, a polícia proibiu uma concentração gay, um bailarino albanês foi agredido sob insultos como "albanês de merda" e "vamos despachar-te para a Albânia" e uma secção da polícia municipal de Milão empreende uma "caça aos clandestinos" nos transportes públicos enfiando-os em camionetas blindadas. Tudo isto descrito por Gorka Larrabeiti.
Naturalmente, a ascensão da extrema-direita ao poder abriu caminho a esta caça às bruxas. Mas não podemos esquecer ou esconder a responsabilidade de partidos e políticos que, afirmando-se de centro ou de esquerda, legitimaram este ambiente hostil em torno, principalmente, dos estrangeiros. Como explica Asier Blas, professor na Universidade do País Basco, tudo começou com o executivo de Romano Prodi. "A reacção do governo italiano foi vergonhosa", explica. O antigo autarca de Roma, e actual secretário-geral do Partido Democrático, Walter Veltroni, pediu a Prodi medidas contra os imigrantes amontoados nos bairros de barracas. "Setenta e cinco por cento das detenções dão-se com romenos" e "não são imigrantes que vêm tentar melhorar a vida, têm como característica a criminalidade" são algumas das suas brilhantes afirmações. Evidentemente, o primeiro-ministro da altura, Romano Prodi, emitiu um decreto para alargar aos cidadãos comunitários leis que até então só permitiam a expulsão de cidadãos extra-comunitários e para dar à polícia mais poderes. Mas pior que isso foi ver a Refundação Comunista apresentar uma moção num bairro de Roma para a separação das crianças entre italianos e ciganos nos autocarros escolares.
Como não esperar, então, que, à boa maneira medieval, depois de uma suposta tentativa de rapto de uma criança por uma romena em Nápoles se seguissem linchamentos e bairros de barracas incendiados.
A falta que faz um Partido Comunista...
"Compagni dai campi e dalle officine
prendete la falce e portate il martello"
2 comentários:
Infelizmente o PCI foi destruido num processo interno de descaracterização e traição. Um partido comunista forte faz muita falta em Italia, assim como em França e Espanha. Apesar de terem caido na armadilha posta pelo capitalismo ainda não é tarde para recuperarem o marxismo-leninismo e com ele a dignidade de partidos comunistas.
Nunca será tarde.
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