As direcções dos jornais, rádios e televisões pertencem a uma classe abjecta. Seguem sem questionar os alinhamentos da classe que representam. E importa sempre manipular e construir a realidade que sirva os seus interesses. Nos incidentes que ontem se verificaram no 1º de Maio, o próprio Vital Moreira deu a chave para a compreensão dos acontecimentos: "Eu já vi esta cena há muitos anos na Marinha Grande".
A 14 de Janeiro de 1986, Mário Soares decidiu visitar aquela cidade operária. E foi muito mal recebido pelos populares que se lhe apareceram à frente. Contudo, é comummente aceite que isso não só o colocou no papel de vítima mas também que o impulsionou para uma vitória nas urnas. O Partido Socialista quis repetir a situação. Num momento em que aparece profundamente descredibilizado perante o povo português, nada melhor que construir uma vítima daqueles que são os mais perigosos.
Senão vejamos, há dias que empresários alertavam para a necessidade da existência de um Bloco Central. Um deles, o presidente da CIP, admitia que todos os partidos eram aceitáveis menos o Partido Comunista Português. E existe, entre a burguesia portuguesa, um medo não só do que a crise possa trazer no que diz respeito a contestação social - incluindo, a violência de outros países - mas também de uma alternativa radical que, naturalmente, seria encabeçada pelo PCP.
Portanto, o PS e Vital Moreira procuraram a confrontação. Depois de anos e anos, a lançar as piores acusações contra a CGTP, quem se lembra de tentar cumprimentar a direcção da central sindical numa delegação do partido do governo quando nem sequer se é membro do PS e, pior do que isso, se é o primeiro candidato ao Parlamento Europeu? Para além disso, Vital Moreira sabia que a sua condições de traidor das ideias comunistas lhe iam trazer dissabores numa manifestação com dezenas de milhares de trabalhadores filiados no PCP.
Curiosamente, isto sucede no mesmo dia em que há uma falsa ameaça de bomba ao desfile da UGT que encerrou com o discurso de João Proença numa postura igualmente vitimista sobre esse acontecimento. E sucede poucos dias depois de que membros da UGT arrancaram e roubaram pendões da CDU tendo sido parte deles identificados pela polícia depois de terem sido apanhados por militantes comunistas. Um deles que entretanto fugiu agrediu uma militante do PCP.
Mas não foi por nenhuma destas perspectivas que a comunicação social viu os acontecimentos do 1º de Maio. Vital Moreira chegou ao cúmulo de ilibar a CGTP e acusar o PCP de ser o responsável pelas supostas agressões que sofreu. Contudo, quem esteve lá - menos os jornalistas que são míopes - viu gente com ou sem filiação partidária a insultar Vital Moreira. Havia igualmente gente do Bloco de Esquerda. As próprias imagens da televisão mostram-no. O problema é que tudo estava já dirigido para um ataque brutal ao PCP.
Entre a fraseologia mais modesta dos jornalistas que lá estiveram recordo uma que demonstra bem o trabalho da comunicação social. Paulo Moura, repórter do Público, escreve: «"Párem! Não Façam isso! A democracia é de todos", brada Ana Rosa para os manifestantes que já estão em cima do socialista, numa embriaguês de violência. Todos se voltam, subitamente domados pela veemência da rapariga. Ana Rosa consegue chegar a Vital Moreira. "Quero pedir desculpa"».
Esta "embriaguês de violência" de que fala Paulo Moura na sua reportagem que intitulou de "Vital Moreira foi insultado e as palavras de ordem foram esquecidas" não é mais do que o reflexo de embriaguês de violência dos próprios jornalistas. Ninguém esteve em cima do "socialista" e não houve nada para além da violência verbal, arma usada por Vital muitas vezes contra a CGTP. E bem depois dos insultos a Vital Moreira a manifestação decorreu com toda a normalidade. Ninguém deixou de gritar, de protestar e de cantar. Na verdade, Vital Moreira foi insultado mas isso nada é na vida de pessoas que vivem com a corda ao pescoço. Pouco depois já ninguém se lembrava disso. Só das contas para pagar, do desemprego e das péssimas condições de vida. Infelizmente, isto não se soube porque a realidade é construída pelos porta-vozes dos que todos conhecemos.
A 14 de Janeiro de 1986, Mário Soares decidiu visitar aquela cidade operária. E foi muito mal recebido pelos populares que se lhe apareceram à frente. Contudo, é comummente aceite que isso não só o colocou no papel de vítima mas também que o impulsionou para uma vitória nas urnas. O Partido Socialista quis repetir a situação. Num momento em que aparece profundamente descredibilizado perante o povo português, nada melhor que construir uma vítima daqueles que são os mais perigosos.
Senão vejamos, há dias que empresários alertavam para a necessidade da existência de um Bloco Central. Um deles, o presidente da CIP, admitia que todos os partidos eram aceitáveis menos o Partido Comunista Português. E existe, entre a burguesia portuguesa, um medo não só do que a crise possa trazer no que diz respeito a contestação social - incluindo, a violência de outros países - mas também de uma alternativa radical que, naturalmente, seria encabeçada pelo PCP.
Portanto, o PS e Vital Moreira procuraram a confrontação. Depois de anos e anos, a lançar as piores acusações contra a CGTP, quem se lembra de tentar cumprimentar a direcção da central sindical numa delegação do partido do governo quando nem sequer se é membro do PS e, pior do que isso, se é o primeiro candidato ao Parlamento Europeu? Para além disso, Vital Moreira sabia que a sua condições de traidor das ideias comunistas lhe iam trazer dissabores numa manifestação com dezenas de milhares de trabalhadores filiados no PCP.
Curiosamente, isto sucede no mesmo dia em que há uma falsa ameaça de bomba ao desfile da UGT que encerrou com o discurso de João Proença numa postura igualmente vitimista sobre esse acontecimento. E sucede poucos dias depois de que membros da UGT arrancaram e roubaram pendões da CDU tendo sido parte deles identificados pela polícia depois de terem sido apanhados por militantes comunistas. Um deles que entretanto fugiu agrediu uma militante do PCP.
Mas não foi por nenhuma destas perspectivas que a comunicação social viu os acontecimentos do 1º de Maio. Vital Moreira chegou ao cúmulo de ilibar a CGTP e acusar o PCP de ser o responsável pelas supostas agressões que sofreu. Contudo, quem esteve lá - menos os jornalistas que são míopes - viu gente com ou sem filiação partidária a insultar Vital Moreira. Havia igualmente gente do Bloco de Esquerda. As próprias imagens da televisão mostram-no. O problema é que tudo estava já dirigido para um ataque brutal ao PCP.
Entre a fraseologia mais modesta dos jornalistas que lá estiveram recordo uma que demonstra bem o trabalho da comunicação social. Paulo Moura, repórter do Público, escreve: «"Párem! Não Façam isso! A democracia é de todos", brada Ana Rosa para os manifestantes que já estão em cima do socialista, numa embriaguês de violência. Todos se voltam, subitamente domados pela veemência da rapariga. Ana Rosa consegue chegar a Vital Moreira. "Quero pedir desculpa"».
Esta "embriaguês de violência" de que fala Paulo Moura na sua reportagem que intitulou de "Vital Moreira foi insultado e as palavras de ordem foram esquecidas" não é mais do que o reflexo de embriaguês de violência dos próprios jornalistas. Ninguém esteve em cima do "socialista" e não houve nada para além da violência verbal, arma usada por Vital muitas vezes contra a CGTP. E bem depois dos insultos a Vital Moreira a manifestação decorreu com toda a normalidade. Ninguém deixou de gritar, de protestar e de cantar. Na verdade, Vital Moreira foi insultado mas isso nada é na vida de pessoas que vivem com a corda ao pescoço. Pouco depois já ninguém se lembrava disso. Só das contas para pagar, do desemprego e das péssimas condições de vida. Infelizmente, isto não se soube porque a realidade é construída pelos porta-vozes dos que todos conhecemos.
6 comentários:
Post em cheio!
Gostei de encontrar o blog. Vai ficar pendurado na lapela do "Cantigueiro" dentro de segundos.
Abraço
Também gostei do Post. Esta provocação faz parte da campanha do PS. Foi um acto premeditado e já confirmado pelo sec. geral do PS ao dizer que, desta vez, como seu representante, foi enviado o expoente máximo do PS no momento: o candidato ao PE. Por sua vez, o referido candidato afirmou que, quem se mete nestas coisas da política, tem que estar preparado para coisas destas. Procuram assim uma manobra de translação do debate no sentido do apelo aos sentimento mais básicos do eleitorado mais instável ou indeciso.
Valeu a pena ter-te encontrado.
Bom post, magnifico blog.
GR
Lendo este post e outros que têm vindo a ser colocados na blogosfera, só posso ficar com uma convicção: não será o Ps a saír vitorioso da farsa que montou, a mobilização gerada pela indignação dos comunistas contra este ignominioso ataque ao PCP serviu para cerrar fileiras para as batalhas que se avizinham. Rumo á Vitória!
O post está excelente! Aliás, como é de esperar da tua parte.
Esta história do Vital Moreira mostra mais uma vez o que é este ps e quais os valores por que se regem os seus dirigentes. Todos sabemos que isto foi uma provocação e que eles sabiam de antemão ao que iam. Conseguiram. Condeno as atitudes dos msnifestantes que se deixaram cair na ratoeira, mas compreendo perfeitamente a sua revolta. Penso que se em vez do Vital, estivesse o Sócrates, a situação seria idêntica. Depois de todos os ataques que este governo tem feito aos trabalhadores e ao povo em geral, o sentimento de desepero e de revolta é enorme e, acredito que bastou uma única palavra, um simples apupo, para incendiar o rastilho. E Vital Moreira e o PS sabiam bem disso. Daí que tivessem ido à manifestação. Vou a todas, vejo as notícias e não me recordo de tê-lo visto onde quer que fosse. Acreditar que o PS está inocente nesta trama, é ser ingénuo. Quanto ao pedido de desculpas que o ps continua a pedir ao PCP, o partido já deu a resposta. Dia 23 vamos fazer a marcha da CDU e exigir simbolicamente que este governo ps peça ele desculpa ao povo português e a todos os trabalhadores.
H. F.
Atenção às citações: se se ler o artigo completo do Paulo Moura ver-se-á que ele distingue bem as coisas, e não embarca numa saga de vitimização do Vitalinho...
A Ana Rosa da reportagem tinha razão: em vez da grandiosidade da manif, o que se viu nos jornais e TVs foi o tadinho... mas a responsabilidade é dos patetinhas que acharam que deviam dar este bónus ao Vitalinho... não é a primeira vez nem será a última. Esperemos a eleição do Vitalinho para lhe podermos espreitar a declaração de rendimentos, e ver-se-á porque razão saiu do PCP.
É claro que, daqui até 7 de Junho, a campanha vai resumir-se a "Eu quero desculpas do PCP!" - o que até lhe dá jeito, porque não tem propostas para apresentar.
Nota final: a "agressão" foi tal, que no dia seguinte o rapaz teve de ir fazer Rafting no Rio Minho...
Enviar um comentário