Apesar do destaque que sempre damos ao que se passa na América Latina, não nos tem sido possível analisar o período eleitoral na Colômbia. Em primeiro lugar, pela grande luta que se trava em Portugal contra as medidas do governo, com o apoio do PSD, e, em segundo lugar, pelo ataque terrorista das forças israelitas contra o comboio marítimo solidário com a Faixa de Gaza.
A Colômbia é comparada por muitos com Israel. Tem o beneplácito dos Estados Unidos. É o ponta-de-lança do imperialismo na América Latina. Ali, persegue-se e assassina-se todo aquele que tenha o desejo de um sistema alternativo ao capitalismo. A proximidade e as relações com a Venezuela são um ponto delicado que está na boca de todos os candidatos às presidenciais. Isso e as bases norte-americanas.
Em modo de resumo, a primeira volta, realizada no passado fim-de-semana, deu um importante resultado a Juan Manuel Santos e desmoralizou os apoiantes de Antanas Mockus que, ainda assim, passou à segunda volta.
Juan Manuel Santos é o ex-ministro da Defesa do actual presidente Álvaro Uribe. Acusado de vínculos ao paramilitarismo, Juan Manuel Santos foi o principal responsável pelo bombardeamento em território equatoriano que levou à morte de dezenas de civis e guerrilheiros das FARC, entre os quais o comandante Raul Reyes. É o herdeiro de Álvaro Uribe e obteve 46,56 por cento dos votos.
Antanas Mockus teve 21,49 por cento dos votos. O candidato do Partido Verde era indicado, por alguma imprensa, como possível vencedor. Foi com surpresa que se recebeu a notícia deste resultado na sede de campanha do candidato verde. Antanas Mockus foi presidente da Câmara Municipal de Bogotá, a capital do país. A sua campanha tentou seguir a linha de Obama com grande ênfase nas redes sociais e na comunicação social. Não põe em causa o capitalismo e recusou o apoio, na segunda volta, do candidato social-democrata do Pólo Democrático Alternativo. Para além disso, segue a linha de Juan Manuel Santos ao dizer que só negoceia com as FARC quando estas libertarem todos os "reféns".
Gustavo Petro era o candidato do Pólo Democrático Alternativo. Quando era jovem, fez parte do movimento guerrilheiro M-19. Nas primárias do PDA, venceu contra Carlos Gaviria Díaz, então presidente do PDA, um histórico que havia alcançado um resultado inesquecível em 2006, nas eleições presidenciais (ficou em segundo lugar). Entre as divergências, Gustavo Petro insinuava que o PDA, sob a direcção de Carlos Gaviria Díaz, era muito brando nos comunicados sobre as FARC.
Contudo, na Colômbia, as eleições são uma fachada para a ditadura paramilitar. Através da compra, da manipulação, do medo e do assassinato, a oligarquia colombiana impõe a sua vontade. Não se pode entender o sistema político colombiano como uma democracia burguesa. Ou pelo menos como as que conhecemos na Europa Ocidental. Os milhares de assassinados, de desaparecidos, de exilados, de extraditados e de presos políticos atestam bem a impossibilidade de alcançar uma verdadeira mudança através da via eleitoral ou da via pacífica. Nos anos 80, a tragédia que se abateu sobre o partido União Patriótica demonstrou a falsidade da democracia na Colômbia.
Não é, pois, por acaso que as FARC, que acabam de cumprir 46 anos, apelaram à abstenção. No fundo, já se sabe o resultado: Juan Manuel Santos será o vencedor para gáudio da oligarquia que poderá manter o seu império da droga e deixar o imperialismo servir-se da Colômbia para assediar o resto do Continente.
1 comentário:
Contras as ditaduras, não se apela à abstenção, mas sim ao boicote.As ditaduras não garantem um minimo de liberdades democráticas, assim qualquer participação nos actos eleitorais,pode branquear a própria ditadura.
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