sábado, 21 de novembro de 2009

Revista Comunista Internacional e Quinta Internacional de Chávez

Desde que surgiu, a Rádio Moscovo tem tido a preocupação de evocar a reconstrução do movimento comunista internacional. O fim da experiência socialista no Leste da Europa debilitou gravemente as organizações e os movimentos da classe trabalhadora. Uns seguiram o caminho do reformismo e da social-democracia. Outros mantiveram-se firmes na linha revolucionária. Houve quem andasse entre um lado e outro. Hoje, com a derrota da tese do "fim da História" e com a crise do capitalismo, as organizações começam a definir-se. Na Europa, existem vários partidos que adoptam a linha social-democrata, onde se destacam os que integram o Partido da Esquerda Europeia. E há os que mantêm a concepção marxista-leninista. O Partido Comunista da Grécia (PCG) é o que assume mais claramente esta linha.

Esta semana, lançou-se uma publicação entre partidos que adoptam uma postura revolucionária. O PCG, com o Partido do Trabalho da Bélgica, o Partido Comunista dos Povos de Espanha e o Partido Comunista da Venezuela Venezuela, entre outros, lançaram a Revista Comunista Internacional. Certamente, um importante contributo para a análise da situação actual e uma importante arma para o combate ideológico.

Uma boa notícia que contrasta com o discurso de Hugo Chávez no Encontro Mundial de Partidos e Movimentos de Esquerda. Na reunião, o presidente venezuelano referia que aquela iniciativa devia ser "da esquerda verdadeira, disposta a fazer frente ao imperialismo e ao capitalismo". Aqui, não se percebe onde entra o PSUV, partido interclassista, perdido numa amálgama de ideias muitas vezes contraditórias entre si e que faz com que se possa ser tudo e nada ao mesmo tempo, e dominado por tendências social-democratas. Mas o chocante é que Hugo Chávez abriu caminho à divisão uma vez mais. Depois da proposta de criação de um partido - PSUV - que dispensasse outros, organização na qual - e bem - o PCV decidiu não integrar, o indiscutível referente do processo bolivariano deciciu propor a criação da Quinta Internacional Socialista.

A proposta não tem pés nem cabeça. Não só não estão criadas condições para uma estrutura internacional que congregue o movimento operário numa linha consequente e revolucionária. Neste momento, há demasiadas divergências e o peso da social-democracia e das teses reformistas é demasiado forte para permitir o sucesso de uma iniciativa deste tipo. E, acima de tudo, propor uma Quinta Internacional é dizer-se que houve uma Quarta Internacional, o que é falso e uma ofensa para os que seguem a linha marxista-leninista. Fica aberta a discussão.

12 comentários:

Anónimo disse...

Devo dizer em primeiro lugar que nem sequer admiro a Quarta Internacional, que não só existiu, como deu um contributo no sentido da Liberdade ao rejeitar o modelo aberrante despótico dos regimes de Leste; e não chora as velhas ditaduras com as saudades que enchem página no Avante!

Agora, o que é certo, é que formar uma Quinta Internacional é algo que não faz nenhum sentido, sobretudo quando a proposta é lançada pela cabeça de um governo absolutamente burguês como o venezuelano.

Luís Rocha disse...

Camarada Pedro,

Eu compreendo a tua reacção às afirmações de Chávez mas acho que há aí um pouco de exagero.

Eu também discordo das palavras de Chávez e espero que sejam apenas isso... palavras. Porque neste caso isto não passa de uma ideia tola.

A minha opinião em geral sobre as internacionais é negativa. Acho que elas tiveram um papel importante noutros tempos de formação do marxismo, até se tornar claro que são estruturas incapazes de acomodar pacificamente as legítimas diferenças de perspectiva e métodos para chegar à Revolução que existem de país para país.

Não entendo porque não se deve reconhecer que existiu a quarta internacional se até existe mais uma quinta e uma sexta (à que ter um pouco de sentido de humor). A quarta internacional trotskista é um óptimo exemplo do fracasso do formato "internacional" de ligação entre diferentes partidos. Hoje creio que existem mais de 30 grupelhos que afirmam ser "quartas internacionais".

Da "quinta" e da "sexta" nem vale a pena falar, a "quinta" é mais facção demente do trotskismo, a "sexta" são os zapatistas mexicanos, uma espécie de anarquismo pós-moderno.

Isto não invalida que nas próprias primeira, segunda e terceira não tivessem os seus problemas e deformações. Mas essas tiveram um papel histórico inegavelmente mais importante.

Estas "internacionais" da quarta para a frente são meras curiosidades históricas e a ideia de formar qualquer nova internacional neste momento é absolutamente ridícula.

Álias, eu até diria que esse tipo de formato não é o ideal para forjar laços e alianças entre partidos de esquerda ou progressistas. A ideia da criação de Fóruns internacionais como tem
sido avançada pelo PCP e PCG é bem mais praticável e eficaz.

Dito isto à que lembrar pela enésima vez que Chávez não é comunista e isso não é razão para não o apoiar. Da mesma forma que não o era Salvador Allende e nem por isso deixava de fazer sentido apoiá-lo.

E quanto a declarações infelizes, temos que dar lhe um desconto, elas acontecem. Também Fidel dizia erradamente à uns anos que as guerras de guerrilhas já não faziam sentido na América Latina.

Enfim, acho que não se deve levar isto demasiado a sério.

Da minha parte já me apercebi que Chávez muitas vezes muda de opinião ao deparar-se com os seus próprios erros. Vou confiar que isso vai acontecer neste caso, mais uma vez.

Quanto ao anónimo, aparentemente da corrente "ruptura" do BE, pode voltar para a sua luta de facções dentro da ruptura, sei que tem lá muito com que se entreter. Isto é, depois deste pequeno comentário que veio cá fazer.

Abraço,
Luís Rocha

Anónimo disse...

Luís Rocha:

"Isto não invalida que nas próprias primeira, segunda e terceira não tivessem os seus problemas e deformações. Mas essas tiveram um papel histórico inegavelmente mais importante."

Os seus "problemas" e "deformações" foram de ordem tal que impediram a Revolução espanhola, iniciada por anarquistas. Não posso negar que tenha sido importante: Aniquilou a Revolução.

Anónimo disse...

Luís Rocha: "Quanto ao anónimo, aparentemente da corrente "ruptura" do BE, pode voltar para a sua luta de facções dentro da ruptura, sei que tem lá muito com que se entreter."

Só lhe digo isto: existe esquerda para além do PCP e de todas as correntes do Bloco.

Luís Rocha disse...

Peço desculpa ao anónimo. Eu também tenho uma costela anarquista.

Pedro Bala disse...

A IV Internacional não existiu senão como ferramenta contra-revolucionária para atacar o movimento comunista internacional. Não representava senão pequenos grupelhos sem qualquer expressão de massas a nível internacional.

Quanto ao Chávez, evidentemente, não deixamos de apoiar em boa parte o trabalho que desenvolve na Venezuela com o apoio de organizações comunistas. No plano continental, o processo bolivariano assume um papel fundamental. Mas o papel que assume é na luta anti-imperialista. A maioria das forças que se destacam nos governos bolivarianos são social-democratas. Não faz sentido constituir uma V Internacional com estas forças. O que faz sentido é o reforço da Coordenadora Continental Bolivariana que está a constituir-se como Movimento Continental Bolivariano.

A III Internacional aniquilou a "revolução" espanhola? Quem é que promoveu as Brigadas Internacionais e o combate activo à luta contra o fascismo? É que uma guerra ganha-se lutando de forma unida e disciplinada quando se tem do outro lado um inimigo brutal. A guerra não é um piquenique de hippies. Por isso, lava a boca quando falares dos comunistas, sendo que muitos deles pagaram com a própria vida a luta por uma pátria que não era a sua em nome da solidariedade internacionalista e do socialismo.

joséluz disse...

Uma iniciativa muito boa sem dúvida,que certamente vai contribuir para aprofundar a discussão ideológica,não só entre a corrente que normalmente reúne os antigos partidos comunistas que se mantiveram fiéis a corrente revisionista de Kruscthov, e que agora alguns deles, como é o caso do PCGrego,e mais alguns outros,que vem fazendo uma auto-critica sincera e profunda aos seus erros passados e até possivelmente a ter que corrigir alguns actuais,e que têem a ver com alguns conceitos sobre a existência de ditas camadas ou classes anti-monopolistas e que estão na base da degenerescência social democrata e social chauvinista dos partidos comunistas.
Mas aos poucos outros virão,como é o caso do PCBrasileiro,que apesar de ainda existir muitas dúvidas nas suas teses,aprovadas recentemente no seu último congresso, principalmente em relação ao periodo histórico revolucionário dirigido por Staline, periodo esse de grandes vitórias para as revoluções proletárias e para o proletariado em todo o mundo,vem fazendo também o seu caminho, ao contrário do PCdoB que cada vez mais se enterra no sistema capitalista brasileiro e no CHAVASCAL reformista em que vegeta,onde o seu último congresso e pelas teses que aprovou são bem evidentes e a prova disso mesmo.
Este processo agora iniciado, queiramos ou não,pelo seu positivismo,irá também ter implicações nos outros partidos do chamado campo M-L, oriundo do rompimento do MCI em 1962 e que tinha a frente o PCdaChina e o PTdaAlbânia e que mais tarde na década de 80 se fracçionáram e criaram a dita corrente Maoista do qual fazem parte e os mais conhecidos pela luta heróica que travam,como o PCdoNepal(M)e o PCdaIndia(M).
Mas não só,esta decisão também queiramos ou não, vai ter enormes reprecussões na lutas internas em cada País particular e onde existe vários partidos que defendem os objectivos estratégicos do comunismo, mas que se encontram dividos pelas diferênças tàcticas das etapas da revolução que defendem,como é o caso da Espanha onde existe cinco grupos e no Brasil três,como ainda em muitos outros a auto-dominar-se de comunistas.Esperemos que neste caso a Revista Internacional,contribua fortemente para o ESMAGAMENTO deste sectarismo e actividade pequeno burguesa.
Quanto a Portugal,mais uma vez o peso da ideologia pequeno burguesa,social-democrata e chauvinista, teve mais peso na decisão e preferiram não acompanhar o processo,já tinha acontecido quando preferiram manter-se no grupo que integra o P"E"Europeia,não acompanhando as decisões de ruptura com esse GRUPO social-democrata, promovidas e bem,pelo PCGrego e pelo PCTHungaro,no entanto, parece-me que a partir de agora e com mais acentuação está reservada aos comunistas M-L portugueses,uma enorme responsabilidade e uma grande luta em perspectiva.
Quanto a formação de uma nova I.C.,como dizia o velho e eterno Staline o "nome não é o mais importante,mas sim os principios com que ela irá desenvolver a sua actividade",que quanto a mim e neste momento particular apenas se deve orientar pela criação de uma coordenadora,que reuna sempre que entender necessário e que deve estabelecer os principios básicos (como fez Lènine na 3ª ic) que deve regulamentar a adesão dos partidos a esse organismo internacional do comunismo,situação esta que deve anteceder uma consulta prévia e contactos a realizar a todos,mas a todos os partidos que se reclamam do proletariado e do Marxismo-Leninismo.
continua:

joseluz disse...

cont.do comentário de José Luz:
Sobre a dita 4ªI.Trotskista,que por nunca ter sido comunista e ser apenas um local de encontro das várias tendências pequeno burguesas trotkistas e Mencheviques, anti-proletárias e anti-Bolcheviques e por ter contribuído fortemente desde o seu INICIO, como aliada da burguesia imperialista e do imperialismo, pela degenerescência ideológica e traição ao campo socialista,do MCI e para as derrotas que ainda hoje a burguesia e o imperialismo consegue impôr aos povos e ao proletariado mundial,à apenas que dizer que a chamada "internacional" a conhecer-se deve ser como a 1ª,porque antes da 4 ou 4ª1/2,não existiu nenhuma.

Nota:Caso não se torne um incomodo,gostaria que me informa-sem sobre a possibilidade de adquirir a Revista Internacional e se depois está previsto alguns debates ou colóquios sobre os seus conteúdos.

"jotaluz@gmail.com"
José Luz

Anónimo disse...

Pedro Bala: "A III Internacional aniquilou a "revolução" espanhola? Quem é que promoveu as Brigadas Internacionais e o combate activo à luta contra o fascismo? É que uma guerra ganha-se lutando de forma unida e disciplinada quando se tem do outro lado um inimigo brutal."

Claro, unidade se é para ser com as "nossas" regras. A Catalunha era autónoma e acabou por ser governada por comunistas que seriam em menor número que anarqusitas + trotskistas, mas passaram ao comando, fruto do armamento enviado pelo estimado revolucionário Estaline.

Há mais visões da História do que a vossa, e eu vomito sem problemas em cima do vosso revisionismo nojento, onde a IV Internacional foi aliada do Imperialismo. É incrível como tantas décadas depois, ainda haja quem pense que os gulags e o assassinato de líderes de outras correntes comunistas ou anarquistas são actos "revolucionários". Viva o despotismo estalinista!

anti-dimitrov disse...

A III Internacional não aniquilou a chamada "revolução Espanhola". Ajudou, de certa maneira, a derrotar a República, com os seus jogos e golpes, mas a tal "revolução" foi pólvora seca anarca.
A II Internacional foi uma aberração que matou o movimento Comunista internacional depois do seu 7º Congresso.
O resto é conversa.

Anónimo disse...

Todas as internacionais comunistas vão ser destruidas pelos Leste Europeus assim como o banditismo dos exploradores comunistas foi destruido no Leste Europeu em 1989 e na Rússia em 1991!A Europa do Leste é a Tumba do comunismo!

Vicente disse...

Lendo alguns dos comentarios, percebo que os senhores ainda estao cheios do veneno ideologico pequeno-burgues,necessitando ler e aprender de novo tudo sobre o comunismo marxista-engelsiano. As internacionais com seus erros brilham pois sao erros que geram liçoes proveitosas para o movimento dos trabalhadores internacionais. Ao contrario do que se afirma ,neste momento é indispensavel criar uma nova internacional com nova estrutura organizacional primando pela democracia e ampla participaçao das lideraças proletarias, alem de deixar de ficar discutindo o sexo dos anjos das outras internacionais, a hora é de agir e nao ficar parado nestas discussoes vazias. Hoje a burguesia utilizam como nunca a mentira ,a confusao e a falta de perpectiva e os senhores ajudam com estas discussoes vazias, tenham vergonhas. Trotsky foi um grande revolucionario, Lenin foi o maior teorico da revoluçao russa, Stalin foi a burguesia mascarada de comunista,fez sofre o povo sovietico como jamais foi visto na historia. Vamos à luta, vamos fazer a revoluçao de baixa para cima, e nao apenas com um grupelho de bem intecionados ditos comunistas, a revoluçao tem de ser proletaria e nao de algum PC criado...