A noite caía sobre o bairro. A pouco e pouco, um lençol negro mergulhava sobre a cidade. Milhares de pessoas cercavam a estátua de Pedro Antonio Marín. Na escuridão, entre as luzes das casas e os clarões dos foguetes e dos disparos, não se gritava o nome do camponês. Gritava-se o nome do sindicalista assassinado a que Pedro Antonio Marín deu vida durante décadas. Manuel Marulanda Vélez morrera mas estava vivo. E a cada notícia de uma nova morte, sucedia-se o inesperado: tornava a viver. Assim foi até 26 de Março de 2008. Nesse dia, Manuel Marulanda morreu. Mas já nada havia a fazer. Passou a viver em todos os que lutam dentro e fora das montanhas. E ali, naquela praça, num outro país, milhares gritavam. Não porque estivesse morto. Mas porque estava mais vivo do que nunca.
Entre bandeiras vermelhas, aproximou-se uma criança. Não aparentava mais do que doze anos e trazia um molho de comunicados assinados por Alfonso Cano. Entregou-me um e perdeu-se no meio da multidão. Era o pequeno Salvita. Desde o Chile, havia escrito uns versos a Manuel Marulanda que foram publicados junto de uma pequena biografia do comandante das FARC que publicou Iván Márquez. Um pequeno poema que não resisto a publicar na Rádio Moscovo.
Camarada Manuel
está vivo nos nossos corações
e em cada guerrilheiro com o seu fuzil na mão
lutando pela liberdade.
Vocês nunca cairão
o camarada Manuel continua combatendo
desde o topo das montanhas
em todas as nossas almas
continua combatendo
pelo sonho de Bolívar
pela paz e pela justiça
para deixar de viver sob a bota imperial
para que os nossos sonhos se façam realidade
continuem combatendo amigos
algum dia irei
à montanha
tomar o meu lugar.
Salvita
Esperemos que o pequeno Salvita não tenha de pegar algum dia em armas. Lutemos hoje para que o futuro nos pertença amanhã.
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