
Viva Cuba socialista!
É natal. Mas por aqui vivo-o de uma forma diferente. Habituado ao frio europeu, nao consigo associar o calor a esta época do ano. Contudo, os venezuelanos festejam o natal com todos os costumes a que estamos habituados. Levantam-se as árvores de natal, os presépios e os pais natal. Mas nos últimos anos tem sido um pouco diferente. Com a vitória de Hugo Chávez e com processo bolivariano, lançaram-se os mercados alimentares a preços populares que por estes dias se dedicam a vender, para além da comida normal, pernas de porco - comida tradicional de natal - a baixos preços. No outro dia, decidi acompanhar um amigo ao mercado de Chacao, no centro da capital venezuelana, e havia uma fila de vários milhares de pessoas. Ali, também se rompe a discriminaçao a que a oligarquia condenou o povo venezuelano. Já nao é só nas mesas da burguesia que se pode encontrar perna de porco. Por isso, o lema natalício é "Uh! Ah! Feliz Navidad!".
Às cinco, uma hora antes da abertura das mesas, desloquei-me à biblioteca do sector La Cañada, no 23 de Enero. Estava uma dezena de pessoas. Entrevistei algumas delas que me explicaram a necessidade de votar cedo para dar tempo a outros. Uma estação de televisão de uma das zonas mais pobres de Caracas apareceu com todos os seus repórteres vestidos com uniforme militar e com lenços ao pescoço com estrelas vermelhas. Num canto, um homem gritava que estas eleições eram importantes para o país e para o mundo. "Porque este processo vai estender-se por toda a América Latina!". Junto a um muro, havia um jovem cuja cabeça cambaleava ao ritmo do sono. A mãe contou-me que o tinha ido buscar a casa para votar bem cedo. E a pouco e pouco a fila foi crescendo pela Praça Manuel Marulanda. Poucos minutos antes da abertura dos portões pelos militares que os guardavam estavam cerca de 60 pessoas à espera para votar.
Depois segui para outro ponto de votação. Passando pelo mural de Emiliano Zapata, encontrei uma escola primária com uma fila com cerca de cem pessoas. Às seis, quando abriram os portões, uma nova salva de foguetes. Entretanto, ao longo de todo o dia as ruas encheram-se de gente. Às 12 horas, em frente ao Liceu Fajardo, no 23 de Enero, assisti à chegada de Hugo Chávez. Centenas de pessoas esperavam-no ao grito de "Chávez amigo, o povo está contigo". Em todo o país houve uma participação pouco usual. Normalmente, não passa dos 40 por cento. Desta vez, ultrapassou os 65 por cento. Não admira, pois, que tenha havido centros de votação que fecharam cinco horas depois das quatro da tarde, hora oficial de encerramento das urnas. Algo que não agradou à oposição que queria impedir o que está legalmente estabelecido. Os locais, em que às quatro da tarde haja filas para votar, só podem encerrar quando não houver qualquer eleitor.
Mas o sorriso dos pivots do telejornal do canal privado Globovisión não enganavam. Não vinham aí boas notícias e a paciência ia acirrando-se. Aqui, as sondagens à boca das urnas não são permitidas e só se podem difundir resultados depois do comunicado oficial da Comissão Nacional de Eleições (CNE). Por volta das 11 horas, uma representante leu-o e confirmou o que desconfiava. O Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) e os seus aliados perderam a região de Caracas (Distrito Capital), perderam Miranda e não conseguiram ganhar Zulia. Ou seja, os três Estados mais populados. Contudo, nenhuma análise pode esconder que a maioria absoluta das regiões continuará a ser gerida por governadores bolivarianos. A oposição ganhou seis Estados – Distrito Capital, Miranda, Carabobo, Nova Esparta, Zulia e Tachira – contra os 16 ganhos pelos candidatos apoiados por Hugo Chávez. Em Falcón, onde havia estado um fim-de-semana em Coro, ganhou Stella Lugo, a esposa do actual governador e na região de Caracas o único municipio ganho pelo PSUV foi Libertador, onde vivo e onde se encontra também o bairro 23 de Enero. Por curiosidade, houve mesas neste bastião do processo em que os candidatos bolivarianos tiveram mais de 90 por cento. Numa delas, Aristobulo, candidato do PSUV a governador derrotado, teve 1670 votos contra 8 do opositor vitorioso Ledezma.
Ainda assim, foram resultados amargos. Quando a representante da CNE acabava de ler o comunicado começavam a rebentar foguetes por toda a zona baixa da capital. Os ricos festejavam a vitória dos seus candidatos. Aqui, no dia seguinte, os donos dos supermercados sorriam de alivio. Mais amargo foi quando soube da conquista de Miranda por Radonski. Em 2002, em pleno golpe de Estado, foi quem dirigiu os opositores em fúria no assalto à Embaixada de Cuba. Depois de 160 dias preso, libertaram-no. E ainda dizem que a Venezuela é uma ditadura...
Felizmente, há sempre algo que nos anima. O taxista que nos levou a casa bem nos avisou quando entrámos no carro. "Atenção que sou louco", disse-nos. Depois, explicou-nos quem foi Bolívar, Miranda e Sucre. Cantou-nos Ali Primera e deixou a pergunta "como seria a Venezuela, um país tão rico se tivesse um presidente como Fidel Castro que conseguiu fazer tanto com um país tão pobre?"
No próximo fim-de-semana, vou estar agarrado à internet. Não posso estar na Praça de Touros mas estarei a ver e a ouvir, em directo, o Congresso do Partido. Levantarei o punho quando o levantarem e cantarei quando cantarem. Por Abril, pelo Socialismo, um Partido mais forte!
A luta é o único caminho!
Centenas de pessoas assistiram na passada sexta-feira, numa das zonas mais pobres de Caracas, à inauguração de uma praça e de uma estátua dedicadas a Manuel Marulanda, quando passam seis meses do seu falecimento.
A praça foi construída, durante semanas e de forma voluntária, pela população do emblemático bairro 23 de Enero, um dos bastiões do actual processo político, que quis homenagear o histórico dirigente das FARC. Para além do espaço, foi levantado um busto de Marulanda, obra de um artista cubano, na presença de diversas organizações, movimentos e personalidades, entre os quais o Partido Comunista da Venezuela.
Num comunicado, em nome do secretariado da organização guerrilheira, Alfonso Cano agradeceu a homenagem sublinhando que Manuel Marulanda, que combateu durante 60 anos, viveu "os seus últimos seis em plenitude, enfrentando a maior ofensiva militar contra a insurgência desenvolvida na América Latina: cerca de 400 mil efectivos das forças de segurança, com um plano elaborado na América do Norte, financiado, dotado e controlado por Washington e dirigidos no terreno por oficiais norte-americanos".
Na mensagem, lida por um membro da Coordenadora Continental Bolivariana (CCB), acrescentou ainda que "a sua decisão de alcançar transformações sociais e políticas pelas vias menos dolorosas foi permanente. Consciente de que nas guerras os mais afectados são os sectores populares, procurou sem descanso os caminhos da reconciliação da família colombiana através de acordos e propiciou persistentemente o diálogo com os distintos governos que, sem excepção, pretenderam por essa via submeter a vontade de luta a troco de migalhas".
Um dia antes desta homenagem, a CCB promoveu a apresentação do livro "Manuel Marulanda Vélez, o herói insurgente da Colômbia de Bolívar" junto das centenas de pessoas que enchiam um dos salões do Quartel San Carlos, em Caracas.
Perante as homenagens e o apoio popular ao histórico dirigente guerrilheiro, o Estado colombiano apresentou uma nota de protesto junto das autoridades venezuelanas. Como resposta, um dos representantes da Coordenadora Simón Bolívar, organização comunitária do bairro 23 de Enero, apelou a que todos enviassem uma nota de protesto junto das autoridades colombianas pela presença de narcotraficantes nas altas esferas de Bogotá.