sexta-feira, 17 de julho de 2009

Colômbia: Israel da América Latina


Resistência estudantil contra visita de George Bush

Durante meses, as autoridades norte-americanas negociaram com o governo colombiano o aumento da presença no território daquele país sul-americano. Depois da rejeição generalizada às bases militares dos Estados Unidos, Washington decidiu transferir a sua base mais importante, na América do Sul, do Equador para a Colômbia. Rafael Correa, presidente equatoriano, de tendência bolivariana, havia recusado prolongar a concessão da base de Manta. Não só por ser contra o imperialismo norte-americano mas também porque foi a partir dessa instalação que se planificou o ataque militar conjunto entre a Colômbia e os Estados Unidos contra o acampamento das FARC que se encontrava em território equatoriano, junto à fronteira colombiana. Foi aí que morreu Raul Reyes e dezenas de outros guerrilheiros e civis.

O acordo com Álvaro Uribe é sintomático do que tem sido a relação da Colômbia com os Estados Unidos nos últimos anos. Depois do Plano Colômbia, o governo norte-americano investiu milhões nas Forças Armadas colombianas. Sob o pretexto de combate ao tráfico de drogas, a Colômbia converteu-se numa potência militar. Não é por acaso que Hugo Chávez afirmou que o país vizinho era Israel da América Latina. E a partir de agora a tensão não deixará de crescer. Os novos acordos, naturalmente, provocam apreensão na Venezuela e no Equador. Ontem, na cerimónia do bicentenário da independência da Bolívia, Evo Morales deixava claro nada mais do que isto: "Todos aqueles que aceitem bases militares dos Estados Unidos são traidores".

O plano dos Estados Unidos é a instalação de cinco bases com 800 militares e 600 civis. Uma parte das bases vai ser construída em zonas de forte presença guerrilheira. O anúncio deste acordo provocou grande polémica na Colômbia. Desta vez, não foi apenas a esquerda a contestar a perda de soberania nacional. Figuras da direita ficaram abismados com a decisão e concordaram que a Colômbia se ajoelha perante os Estados Unidos. Tal é a polémica que Álvaro Uribe teve de desmentir que se trata da transferência da base de Manta, no Equador, para a Colômbia. Mas não convenceu ninguém porque o próprio embaixador norte-americano confirmou-o há algumas semanas.

Entre os princípios do acordo, encontra-se um que dá absoluta imunidade aos cidadãos norte-americanos perante a justiça colombiana. Um outro cede à inteligência da Colômbia todas as imagens em tempo real dos satélites norte-americanos. Naturalmente, compreende-se que o objectivo não é o de combater o narcotráfico, como também já se afirmava com o Plano Colômbia, trata-se, sim, de combater a resistência popular. E quando falamos de resistência não nos referimos apenas às FARC e ao ELN. Referimo-nos também aos que na legalidade vivem a perseguição, a repressão e o assassinato. Comunistas, sindicalistas, estudantes e indígenas sabem bem o que isso significa. E, afinal, onde está a cooperação pacífica prometida por Barack Obama?

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